05 maio, 2013

Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, EUA, 1980).


"Em algum dia do passado ele a achará..." (Livre tradução da frase no poster do filme).

Em Algum Lugar do Passado pode ser categorizado como um filme limítrofe, entre o adocicado e o romântico utópico, conseguindo emanar uma aura de inocência e desapego à concretude de forma centrada, até por que não há como aproveitar a jornada proporcionada pela obra sem deixar o lado racional um tanto adormecido. Pouco preocupado em desenvolver as personagens e seus dilemas de forma profunda, o mote do filme de  Jeannot Szwarc (Tubarão 2) é o amor como abstração, é a tradução do conceito de alma gêmea em forma de imagem, é a exposição de um sentimento invalorável e a dependência que todo ser humano possui do mesmo, seja lá como este o conceba.  

Estrelado por duas das figuras mais belas da época, o então Superman Christopher Reeve (Superman, o Filme) e Jane Seymour (007 - Viva e Deixe Morrer), que fisicamente lembrava bastante a diva Vivian Leigh (...E o Vento Levou), Em Algum Lugar do Passado conta com roteiro do escritor Richard Matheson, que aqui adapta uma obra de sua própria autoria - Bid Time Return - e, se não é um primor em termos técnicos, consegue envolver o espectador a ponto das várias interrogações quanto a viabilidade da viagem ao tempo e, principalmente, de como o romance entre Richard Collier (Reeve) e Elise McKenna (Seymour) teve início. Do passado ao presente? Do passado ao futuro? Do presente ao passado? Tais perguntas não são respondidas, muito menos exploradas, mas a magia proposta pelo filme cumpre bem seu papel e não deixa essas lacunas estragarem a boa sensação obtida ao se assistir ao filme.

Talvez o filme não pegasse tanto caso a química entre Christopher Reeve e Jane Seymour não existisse, especialmente o primeiro, que está presente em cena em praticamente todo o filme. Reeve consegue utilizar muito bem seu físico imponente à sua forma de interpretar, além de mostrar-se um ator versátil, competente tanto nos momentos de cunho mais cômico, quanto nos mais dramáticos. Seymour não tem tanto tempo para compor sua personagem, por isso deixa sua beleza liderar em cena, contribuindo assim para que o sentimento apresentado pelo casal torne-se crível, mesmo que desenvolvido de forma bastante apressada - especialmente no caso dela.

Como dito no início do texto, o filme vez ou outra beira o melodrama apelativo, muito devido a trilha sonora alta e melosa composta pelo veterano John Barry (Moscou Contra 007) e pelo estilo de filmar da diretora Jeannot Szwarc, que parece casar perfeitamente com os temas "exagerados" de Barry, visto que ela gosta de tomadas lentas e enquadramentos em perfeita simetria, utilizando bastante reflexos e espelhos como elementos narrativos, além de casamento entre quadros distintos. Particularmente achei elegante sua maneira de filmar, pois me faz lembrar o cinema clássico hollywoodiano. No entanto, ao julgar a cotação atual do agregador de críticas Rotten Tomatoes, a crítica especializada parece torcer o nariz para o filme, o que ao meu ver é uma baita bobagem, pois ele, apesar de alguns deslizes comuns a praticamente todos os filmes do período que divide as décadas de 1970 e de 1980, é bem realizado e a rigor cumpre seu papel como filme romântico, alcunha que toma durante todo o tempo, nunca fugindo do que é em essência.

Inspirador de títulos como A Casa do Lago (2006) e Te Amarei para Sempre (2007), Em Algum Lugar do Passado deve ser visto como um filme de sua época que procura evocar valores anteriores a mesma, equacionando o amor como sentido da vida, independentemente de racionalizações ou ideologias. Apesar da premissa aparentemente complexa - o filme trata de uma viagem temporal apoiada em uma técnica de hipnose atestada por um professor de filosofia -, a obra é de uma simplicidade e inocência ímpar e não se preocupa em apresentar respostas para as perguntas formuladas, mas sim em traduzir através de metáforas visuais, utilizando dois agentes, o poder do amor e da busca pelo mesmo, que tanto pode construir como construir e ambos os cenários são apresentados pelo longa, que revela um desfecho ao mesmo tempo angustiante e metafísico, onde a recompensa é alcançada, a depender da crença de cada espectador. Em Algum Lugar do Passado é um filme simples e bonito, mas nunca desinteressante.   

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!