23 janeiro, 2013

A Viagem (Cloud Atlas, ALE, 2012).

"Tudo está conectado" (Frase disposta no poster promocional do filme).
É inegável a ambição e o esmero com que Lana Wachowski, Tom Tykwer e Andy Wachowski conduziram este A Viagem, adaptação cinematográfica do romance Cloud Atlas de David Mitchell, de 2004. Contudo, apesar do visual deslumbrante e do elenco estelar o filme parece nunca engatar, talvez pela grandiosidade na qual alça voo e que exige tantos dos realizadores quanto dos espectadores um comprometimento que parece não se encontrar. Há problemas na narrativa do filme, que infelizmente acabam por resultar em indesejados ruídos à sua premissa, ocasionando assim numa auto-sabotagem ao mesmo.

Acredito que A Viagem teria ganhado bastante se, ao contrário do que fez, optasse por reduzir o número de tramas paralelas e desse mais destaque as escolhidas, pois a decisão de utilizar as mesmas seis linhas temporais contidas na obra literária acabou por deixar algumas destas excessivamente confusas e outras um tanto rasas e/ou desconexas com a ideia por trás da obra. Sou partidário de que uma boa adaptação deve essencialmente respeitar a mensagem por trás da obra original, não necessariamente tentar reproduzir em sua completude o que fora disposto naquela, pois mídias distintas merecem tratamento e abordagem distintas. Ao meu ver este foi o calcanhar de Aquiles do filme, que não conseguiu criar uma coerência narrativa suficiente entre todas as diversas realidades temporais ou despertar empatia suficiente para a imersão do espectador de forma equânime em cada uma das realidades citadas.

Mas há ótimos elementos no filme, a começar pela trilha sonora (co-escrita pelo diretir Tom Tykwer, Johnny Klimek e Reinhold Heil, que além de interligar as diversas linhas temporais, atua como personagem de destaque ao ser representada pela sinfonia escrita em conjunto por uma das personagens de Jim Broadbent (A Dama de Ferro) e de Ben Whishaw (007 - Operação Skyfall). Os efeitos visuais do filme também mostram-se interessantes e mesmo que não apresentem nenhuma interação revolucionária - muito pelo contrário, é possível até mesmo notar um certo "cansaço" visual por parte dos Wachowski na sua visão de futuro distópico -, não deslocam a atenção do espectador à trama.

O elenco de estrelas é bem alocado na miríade de histórias dispostas no filme e mesmo que um ou outro efeito de maquiagem deixe a desejar no sentido de não caricaturar algumas das personagens, estes mostram-se críveis e interessantes em sua maioria. Contudo, destacaria as performances de Tom Hanks (Forrest Gump - O Contador de Histórias) como as mais uniformes, mesmo que o restante do elenco tenham seus momentos quando dispostos em alguns de seus personagens.

A Viagem foi cercado por muita expectativa e desde sua estreia tem amargado reações distintas, pois há quem ame e há quem odeie o filme. Particularmente não desgosto do filme, pois enxergo aspectos positivos no mesmo e acho que o maior empecilho para o sucesso dele não reside na complexidade do seu texto, mas sim na complicação narrativa advinda de suas múltiplas e "complexas" linhas temporais. Como dito na abertura do texto, tais cenários podem mostrar-se perfeitamente inteligíveis, mas na estrutura montada para esta versão cinematográfica soam com excessos, como barrigas que poderiam ser melhor adaptadas, encaixadas, condensadas ou até mesmo limadas por completo. Confesso que A Viagem é um filme que necessita de uma segunda visita e, como todo filme indigesto em sua primeira conferida, possivelmente tornar-se-a mais objetivo e claro aos olhos, todavia, no momento a confusão reside mais vívida do que o deslumbramento pelo caleidoscópio de conexões entre vidas do passado, presente e futuro e seus retornos cíclicos até o cumprimento de suas missões grafadas em cada um destes indivíduos, como possivelmente defendem Mitchell, Tykwer e os irmãos Wachowski.

AVALIAÇÃO
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