06 janeiro, 2013

Repulsa ao Sexo (Repulsion, ING, 1965).

"O mundo de pesadelo dos sonhos de uma virgem torna-se em tela uma realidade chocante!" (Livre tradução do texto disposto no cartaz promocional do filme).
Segundo longa-metragem da carreira de Roman Polanski (A Morte e a Donzela), Repulsa ao Sexo apresenta muito da técnica particular do cineasta como realizador, que viria a ser considerado como um dos mais talentosos de sua época. Recheado de rimas visuais - a exemplo da abertura e do desfecho do filme ter como foco os olhos da personagem Carol (Catherine Deneuve, de Indochina) - e de pequenas homenagens a Hitchcock e Bergman, Repulsa ao Sexo é um thriller psicológico interessante e intrinsecamente visual, bastante apoiado na capacidade de expressão facial de sua protagonista e na abordagem "voyeurística" de Polanski, que constrói de forma calculada o ambiente de paranoia e esquizofrenia crescente da personagem.

Optando pela fotografia em branco e preto, o que confere maior dramaticidade ao filme, além de refletir diretamente à visão de mundo de Carol, Polanski e o cinematógrafo Gilbert Taylor (Frenesi) constroem de forma pontual  o clima de tensão do filme, que tem início no gradual processo de enlouquecimento da personagem, culminando no aparecimento de visões de cunho esquizofrênico e em ações não louváveis por parte da mesma. Apesar dos parcos recursos da época, é indiscutível a qualidade estética da obra, seja no campo puramente visual, seja em sua construção narrativa.

É certo que, afora a abordagem psicológica inerente ao filme, pouca coisa acontece em se tratando de desenvolvimento narrativo, até por que a desconfiança quanto a instabilidade da personagem de Deneuve é despertada desde os primeiros minutos de projeção, tanto pelo jeito no mínimo estranho da personagem se comportar, quanto principalmente pela revelação da foto que a mostra completamente deslocada do restante de sua família. Com isso, apesar de ter elementos suficientes para manter o interesse do espectador, Repulsa ao Sexo torna-se um filme arrastado, linear e sem grandes viradas dramáticas, bastante focado no estudo da personagem e de sua condição psicológica, resultando assim em um filme bastante particular e que pede bastante boa vontade e disposição do espectador ao conferi-lo, mas nem de longe é uma obra difícil ou indigesta.

Apesar de não ser em essência um filme de horror ou um suspense convencional, o filme traz alguns bons sustos, em grande parte derivados das visões esquizofrênicas de Carol. Este clima de sustos e tensão é amplificado pela trilha sonora de Chico Hamilton, que surge pontual à trama, mas a complementa com competência. A construção dos pesadelos também converge num dos elementos de destaque da obra, tanto em sua conceitualização - especialmente para a época, os efeitos especiais das rachaduras das paredes e as truncagens de câmera - quanto em sua execução. Sendo assim, a tríade composta pela interpretação de Catherine Deneuve, a fotografia de inspiração expressionista a cargo de Gilbert Taylor e a direção técnica e criativa de Roman Polanski se consagram como o grande diferencial do filme, até mesmo superior ao conceito e aos eventos que pontuam a trama do filme.

Muito se discute acerca da relação entre as tragédias vividas por Polanski e as experimentações e certa "negritude" de suas obras, e este seu primeiro trabalho em língua inglesa já insinua isso. Visualmente acachapante e repleto de metáforas visuais - rachaduras, apodrecimento do coelho e das batatas, olhar difuso etc. -, Repulsa ao Sexo tem a sexualidade como ponto de partida para a construção de um festival de enganos e ilusões, que não necessariamente têm o sexo como finalidade, mas sim como fio como fio condutor da paranoia apresentada, que é tratada tanto como distúrbio mental quanto - como a própria chamada do poster adianta - como a materialização dos pesadelos da personagem em vida. Repulsa ao Sexo provavelmente não é o melhor trabalho de Polanski - muito menos dos mais dinâmicos -, mas sem sombra de dúvidas é um dos mais influentes, esteticamente e estilisticamente falando. 

AVALIAÇÃO

TRAILER

Mais Informações:

Filmes de ROMAN POLANSKI comentados no CineMografia.
  • Adoro Cinema
  • Filmow
  • IMDb
  • Metacritic
  • Rotten Tomatoes
  • Wikipedia
Comentários
3 Comentários

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Caro Téo, você enxerga alguma semelhança entre este filme e Cisne Negro do Darren Aronofsky?
    Sds
    Leonardo Carnelos

    ResponderExcluir
  3. Bastante, Leonardo. Tanto no estilo visual, quanto na "espécie" de paranoia das personagens interpretadas por Catherine Deneuve (Repulsa ao Sexo) e Natalie Portman (Cisne Negro). Creio que o objetivo por trás das obras são distintos, mas a abordagem é bem parecida. Confesso que tenho que rever Cisne Negro, pois infelizmente não me recordo tanto dos detalhes do filme do Aronofsky.

    ResponderExcluir

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!