20 abril, 2013

A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, EUA, 2012).


"A maior caçada humana da história" (Livre tradução da chamada do poster do filme).
Uma hora ou outra um filme acerca da caçada ao "maior" terrorista surgido nos últimos cinquenta anos teria que ser realizado e é justamente isto que é materializado no filme A Hora Mais Escura, da dupla vencedora do Oscar pelo filme Guerra ao TerrorKatheryn Bigelow e Mark Boal. Porém, apesar da premissa um tanto óbvia - quem, em santo juízo, não conhece mesmo que superficialmente a trajetória da caçada ao afegão Osama Bin Laden pelas autoridades internacionais, capitaneada pelos norte-americanos -, o estilo capitular e jornalístico empregado ao filme pela dupla destacada confere ao mesmo um clima de urgência e interesse bastante particular, ainda mais para uma obra formatada basicamente de diálogos e conflitos entre personagens do mesmo cerco, pois suas sequências de ação são deixadas apenas para os quarenta minutos finais.

Indo de encontro ao que a opinião pública - pelo menos aquela fora do seio norte-americano - achava da obra, todo o patriotismo e inferência ao poder de estandarte da democracia vendido pelos Estados Unidos da América é praticamente ignorado pelo filme, já que este se dedica - com muita competência - totalmente á construção e reconstrução das investigações acerca do paradeiro do então líder da organização criminosa Al Qaeda, sob os auspícios da jovem e determinada agente Maya, interpretada com precisão, delicadeza e sutileza pela atualmente queridinha da crítica Jessica Chastain (O Abrigo). É através dela que é canalizada a angústia, os medos e o sentimento de impotência do povo norte-americano, mas sempre de forma natural, muitas vezes palpável, tanto que é praticamente impossível não simpatizar com a personagem e sua dedicação incondicional à localização do covil do terrorista saudita, numa prova inconteste do grande trabalho que Chastain desenvolve à personagem.

É óbvio que a temática do filme é polêmica e gera discussões em todos os sentidos, até por que, mesmo que o viés crítico perdure durante toda a projeção, estamos falando de um filme americano que abraça um trauma/caçada de cunho basicamente emocional para àquele povo, então o mínimo seria esperar certo "romantismo" na abordagem, além das velhas conveniências narrativas que ligam o ponto A ou ponto B, de modo a despertar o máximo de emoção ao espectador, não importando se estas possuem caráter de realidade ou não. No mais, tratamos aqui de uma obra cinematográfica, que por si só possui suas regras e objetivos, dentre eles entreter, o que é cumprido com esmero pelos envolvidos. A bem verdade, mesmo que  construído como uma obra de ficção - baseada em fatos reais, mas ainda assim uma ficção -, A Hora Mais Escura carrega um caráter de "realidade" e compromisso que agregam bastante, seja pelo fato de traduzi-lo como um bom filme, seja como um bom registro de um evento sem precedentes à história moderna mundial.

Tecnicamente o filme é primoroso, desde a paleta de cores - que muda gradativamente conforme o beco que é a busca começa a apontar para uma saída inexistente - abraçada por Greig Fraser (O Homem da Máfia) até os efeitos sonoros (não à toa o filme recebeu o Oscar pela categoria edição de som, carregando a estatueta em conjunto com 007 - Operação Skyfall). A direção de Bigelow também é essencial ao filme como um todos, especialmente no que se refere a construção da tensão e urgência do filme, sem necessariamente utilizar da ação e da pirotecnia (que é relegada ao terceiro ato do longa, lá pelos quarenta minutos finais), assim como sua sinergia ao roteiro decupado pelo jornalista Mark Boal, que dá uma cara de documentário ao filme, mas sem exageros ou armadilhas pseudo-realísticas. A Hora Mais Escura é, acima de tudo, uma obra de ficção de entretenimento e é desta forma que acaba sendo formatada e conduzida, o que é um grande acerto.

Sofrendo o mal da pouca novidade (como disse no topo do texto, quem não conhecia fragmentos da trama do filme?) e possuindo uma duração um tanto longa (creio que a retirada de trinta minutos do filme não o fariam mal, mesmo sabendo que não há dispostas cenas que soem "descartáveis" à trama), A Hora Mais Escura pode acabar não agradando a alguns justamente pela sua "paciência" em construir à narrativa, dando grande importância a evolução da personagem Maya e aos meandros da agência de investigação norte-americana (CIA). Abraçando a tensão em detrimento da ação e contextualizando o espectador com informações precisas (pelo menos, no âmbito da ficção) acerca da caçada ao terrorista islâmico, A Hora Mais Escura consegue fugir do viés de exaltação patriótica e se concentra na exposição da história, construindo um vínculo de cumplicidade e respeito para com o espectador, o que faz com que o clímax da obra seja uma mais do que bem-vinda recompensa aqueles que a acompanharam, com interesse e paciência, todo o desenrolar operacional (e tantas vezes burocráticos) que culminaram com a invasão ao suposto esconderijo de Bin Laden, resultando em sua morte. O desfecho do filme, que apresenta a personagem Maya finalmente liberando as lágrimas que guardara por quase uma década, é uma metáfora acertada acerca do sentimento do povo norte-americano após a notícia da morte do líder da Al-Qaeda e, patriotismo à parte, finaliza o filme com competência e critério.

AVALIAÇÃO
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