17 junho, 2014

A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars, EUA, 2014).


Promover algo quase que exclusivamente apoiado em fatores comerciais pode tanto mostrar-se acertado como um erro crasso. No caso do cinema, geralmente, tal pecha só parece acertada quando há alguma espécie de conexão entre a obra original e sua versão cinematográfica, como, por exemplo, em sequências de obras baseadas em histórias em quadrinhos ou games. Todavia, promover uma adaptação literária tendo como suporte apenas o fato desta ter sido best-seller ou premiada não diz nada à obra cinematográfica, até por que, qualquer que seja a fonte de referência/inspiração, esta não necessariamente validará a obra derivada, que deve funcionar de forma independente, não bastando assim que digam e repitam que a mesma é baseada, inspirada ou adaptada de uma outra obra irrepreensível. Esta o é, aquela pode não ser.

Dito isto, devo dizer que me surpreendi bastante ao conferir a adaptação cinematográfica do romance de John Green, tanto pelo seu conteúdo - que sim, contém elementos dos filmes/obras de Nicholas Sparks, contudo com mais naturalidade e "coerência" dramática -, quanto pela forma/abordagem dada ao tema central (literalmente amor entre iguais) pelo diretor Josh Boone (Ligados pelo Amor) e pelos roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber ((500) Dias com Ela), que conseguem tirar qualquer tom de pieguice da história, apresentar elementos contemporâneos à trama (a tecnologia mostra-se bastante presente na vida do casal adolescente) e tratar de forma convincente o conto de fadas moderno chamado A Culpa é das Estrelas.

Tendo como um de seus trunfos a dupla principal de atores, formada pela estrela em ascensão Shailene Woodley (Os Descendentes, Divergente) e pelo desconhecido Ansel Elgort (Carrie, a Estranha, Divergente), cuja química (e talento, óbvio) emoldura todo o filme, tornando suas personagens não apenas críveis, mas encantadoras, sendo envolvente acompanhar suas jornadas mesmo quando é identificável um "quezinho" de fantasia no meio de tanta "tragédia romântica". Enquanto Elgort transborda simpatia e convence ao investir no tipo "cafajeste caricato" (cara lisa para alguns), Woodley conquista pelas camadas dramáticas que fornece à sua personagem, traduzindo em olhares e gestos muito daquilo que apenas palavras não seriam capazes de comunicar. Obviamente há bastante interpretação física por parte da jovem atriz, porém é na sutileza e nos pequenos detalhes que sua composição de personagem ganha corpo de verdade. O elenco é completado por Willem Dafoe (A Última Tentação de Cristo) e Laura Dern (O Mestre), cuja experiência dá ainda mais corpo ao já bem definido filme.

Outra surpresa do longa se encontra no modo de filmar de Boone, que opta por enquadramentos menos óbvios, optando por uma estética bastante agradável e distante do lugar comum. A parceria com o jovem diretor de fotografia Ben Richardson (Indomável Sonhadora) resultou muitíssimo bem. A seleção musical e os temas incidentais escolhidos e/ou compostos por Mike Mogis e Nate Walcott casam bem ao clima proposto pelo romance teen com conteúdo apresentado por Boone, visto que tanto compõe bem o lado adolescente do longa, como preenche com precisão os momentos mais densos.

Talvez mais longo do que o necessário e previsível em alguns (poucos) momentos, A Culpa é das Estrelas é um filme surpreendentemente equilibrado, que trabalha um tema ao mesmo tempo pesado e batido, mas de forma delicada, sem mergulhar de vez na sacarose. A história de amor apresentada pretende alcançar um nível acima do corriqueiro, do banal, buscando significados mais abstratos, inclusive com direito a um pouco de filosofia (não à toa há uma conexão entre a personagem de Woodley e uma obra existencialista em particular) e, por que não, na crença no divino. Em resumo, A Culpa é das Estrelas apresenta-se como bem mais do que um simples filme de amor adolescente, pois ousa (no limite do possível) e procura ir mais fundo no que se entende por vivenciar um grande amor, com suas beneficies e consequências. Certamente este é a obra que Nicholas Sparks tenta conceber até hoje, mas que possivelmente não conceberá.

★★★★


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