Poderia definir A Origem dos Guardiões como um ótima surpresa. Não por que esperasse um filme ruim, mas sim por não esperar um tão bom, tanto no âmbito técnico quanto em termos de construção e narrativa. É certo que os elementos que corroboram a hoje tão difundida jornada do herói estão todas no filme e este não é dos mais inovadores na concepção e posterior caracterização de suas personagens, contudo a sensibilidade aplicada à produção e o equilíbrio apresentado entre senso de aventura, espectros de humor e a inserção de metáforas ao mesmo tempo complexas e acessíveis, sendo estas possivelmente compreensivas tanto as crianças quanto aos adultos.
Dirigido por Peter Ramsey, baseado em duas obras de William Joyce e adaptado às telas pelo dramaturgo David Lindsay-Abaire (Reencontrando a Felicidade), A Origem dos Guardiãos apresenta uma história heroica e bastante dinâmica, mas nunca apelativa ou moralista, muito pelo contrário, pois tem em seu vilão - o Bicho Papão, que aqui ganha a voz de Jude Law (Anna Karenina) - uma figura bastante trágica e complexa, que até mesmo em seus momentos derradeiros desperta certa "simpatia" do espectador (a bem verdade sua composição me fez lembrar bastante Loki, dos filmes Thor e Os Vingadores). Os guardiões título também são apresentados de maneira equilibrada, ganhando maior destaque o Papai Noel (voz de Alec Baldwin, de Rock of Ages), o Coelhinho da Páscoa (voz de Hugh Jackman, de Os Miseráveis) e, surpreendentemente, o mudo Sandman (ou Sandy, como é chamado pelos amigos), que mesmo sem emitir um som sequer sagra-se como a persona mais carismática do filme. Apesar destes terem grande espaço e não serem mal utilizados em momento algum, o grande destaque da obra (ao lado do vilão) é o protagonista (e, de certa forma, a outra face da moeda em comparação ao Bicho Papão) Jack Frost (Chris Pine, de Star Trek).
Apesar de lidar de forma incisiva com o aspecto lúdico e estar inserto quase que totalmente em um contexto de fantasia, as metáforas aplicadas em A Origem dos Guardiões não poderiam ser mais próximas ao nosso entorno. Saindo um pouco do eixo simplista do bem contra o mal (que, por sinal, existe no filme), o grande barato desta animação da Dreamworks talvez resida na forma com que ela lida com temas como destino, falta de identidade, busca de "um lugar ao sol" e isolamento, culminando na batida (e sempre presente) segunda chance, mas não de forma simplista, até por que cada escolha, "boa" ou "ruim" traz consigo consequências. Vem daí então minha fixação pelas personagens Jack Frost e Bicho Papão, pois estas, apesar das decisões contrárias e dos caminhos distintos, são extremamente parecidos, tanto é que do início ao fim há um misto de atração e afastamento entre ambos, justamente pela similitude de suas essências, porém com polos distintos, assim como os lados opostos de um ímã.
O que destacar do filme no âmbito técnico? Sinceramente não percebo distinção em termos de qualidade em animação entre este e Valente, da Disney/Pixar (apesar do segundo ter recebido muito mais badalação em relação aquele). A fotografia de A Origem dos Guardiões é deslumbrante (é óbvia a influência do consultor de luxo Roger Deakins, recentemente indicado ao Oscar por seu trabalho em 007 - Operação Skyfall, no apuro visual do longa), o trabalho de vozes do elenco é um dos melhores já feitos nos últimos anos e a música de Alexandre Desplat (Argo, Moonrise Kingdom), se não apresenta nenhum tema que marque de imediato, pontua muito bem os climas propostos pela obra e ajuda a fortalecer as personalidades das personagens do filme. Por fim, mas não menos importante, destacaria o trabalho de direção de Peter Ramsey, que mesmo iniciando aqui sua carreira como diretor de animações para cinema, já apresenta um estilo maduro e coerente.
É certo que A Origem dos Guardiões não é uma obra perfeita, especialmente pelo fato de sua resolução soar um tanto apressada e ganhar um viés excessivamente maniqueísta, acabando assim por sabotar um pouco a coerência narrativa da obra, que vinha se apresentava bastante apoiada nos caminhos abraçados pelas personagens de Chris Pine e Jude Law, mas possui bastante força e coerência em seu conteúdo, além de ser bastante rica em significados, sem deixar de servir como entretenimento e desbunde visual. Com isso, é uma pena que esta animação não tenha sido abraçada de forma calorosa pelo público, o que acabou tornando-a apenas um sucesso mediano de bilheteria. Grana a parte, por um lado isto pode ser visto de maneira positiva, pois só assim as chances de uma sequência tornam-se menores, o que engrandece ainda mais ao filme, pois este funciona à perfeição sozinha, sem prelúdios ou sequências. Sendo assim, seja você criança ou adulto, não deixe a desconfiança se apoderar, assim que tiver uma oportunidade, se entregue a A Origem dos Guardiões sem medo, possivelmente irá te surpreender (positivamente).
AVALIAÇÃO
TRAILER
Bilheteria:
O trailler que colocastes em anexo é do filme "A lenda dos Guardiões". Sugiro que troque pelo trailler de "A Origem dos Guardiões". Devo ressaltar que foi muito boa a sua análise, abriu meu apetite para degustar o filme!!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, sr. (ou sra.) Anônimo! Trailer devidamente corrigido. Abraços! :)
ResponderExcluir