"Mesmo na guerra... assassinato é assassinato". (Livre tradução da frase disposta no cartaz oficial do filme).
Certamente os dois temas de bélicos mais abordados pelo cinema norte-americano são a II guerra Mundial e a guerra do Vietnã, tendo esta última uma enxurrada de títulos lançados na década de 1980, onde se destacam o reverenciado Nascido para Matar, de Stanley Kubrick e o oscarizado Platoon, de Oliver Stone. Porém, mesmo que pouco recomendado (a bem verdade, lembrado) e certamente o patinho feio entre os dois citados, Pecados de Guerra, do sempre interessante Brian De Palma (Carrie - A Estranha) encontra-se no mesmo patamar daqueles, tanto no âmbito de discurso (onde obviamente se posiciona como contrário a empreitada norte-americana em terras asiáticas, mesmo que sua abordagem possua maior eco no quesito moral, não no político) quanto no quesito técnico, área esta que De Palma domina com perfeição.
Menos dedicado a exploração de batalhas e mais focado nos questionamentos quanto ao "certo" e ao "errado" dentro do campo de batalha, o filme assinado por De Palma consegue condensar as incongruências da guerra pelo ponto de vista da moral do soldado comum de forma bastante objetiva, mas nem por isso menos profunda ou reveladora. Inspirado em eventos reais, o roteiro adaptado de David Rabe (A Firma) romantiza bem o dilema vivido pelo personagem de Michael J. Fox (De Volta para o Futuro), que se vê "preso" à armadilha dos soldados liderados pelo personagem de Sean Penn (21 Gramas), que por motivos (ignóbeis) decidem violentar uma vietnamita durante uma patrulha. O misto de tensão e agonia despertados pelas ações dos soldados é um dos grandes méritos do filme, especialmente quando acentuado pela trilha marcante de Ennio Morricone (Três Homens em Conflito) e o estilo particular de filmar de De Palma.
É interessante notar que alguns atores, hoje já estabelecidos, aparecem no filme em pequenos papeis, porém demonstrando possuir talento e carisma, como John C. Reilly (Precisamos Falar Sobre o Kevin), John Leguizamo (Moulin Rouge - Amor em Vermelho) e Ving Rhames (Vivendo no Limite), apesar de bem jovens. Geralmente uma das grandes forças que destacam um bom filme de (ou ambientado na) guerra é a qualidade de seu elenco, aspecto este que Pecados da Guerra confirma. Apesar dos três citados surgirem bem em seus papeis, o destaque do filme não poderia deixar de ser a dupla principal, onde surpreendentemente Fox rouba o filme de Penn (alguém discorda que este é um ator muito mais completo e complexo - que o primeiro?), talvez pelo fato de Fox encontrar-se num papel diferente de sua zona de conforto (o que exigiu do ator um esforço ainda maior) e do arquétipo do personagem de Penn ser, em resumo, o do bad boy porra-louca.
Muito bem conduzido, possuidor de um discurso bem arranjado, que inclusive extrapola o âmbito da realidade da guerra e ainda válido como debate hoje, Pecados da Guerra é mais uma das boas obras de Brian De Palma que não obtiveram êxito à época de seu lançamento (crítica e bilheteria) e mantém-se pouco debatida até hoje. Contudo, apesar deste esquecimento, o filme merece ser redescoberto e reafirmado como um dos grandes a tratar do imbróglio do Vietnã, especialmente por manter foco em um ângulo pouco abordado pelos filmes do gênero, que muitas vezes preferem abordar o frenesi da guerra, em detrimento do sentido da mesma. Pecados de Guerra pode não ser o filme referência quando o assunto é Guerra do Vietnã, mas certamente é um dos mais competentes a tratar de um episódio presente naquele conflito.
TRAILER
Mais Informações:
Bilheteria:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!