Prestes a completar vinte anos, Filadélfia, de Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes), permanece como um dos filmes mais importantes a tratar de preconceito aos portadores do vírus HIV, especialmente pelo furor causado à época do seu lançamento, quando a cultura segregadora era dominante e os avanços científicos quanto ao tratamento da doença eram paupérrimos. É certo que o filme cumpre muito bem seu papel de retratar a visão majoritária a tona no final dos anos 1980, início dos 1990, mesmo que o enredo em si não apresente grandes novidades ou desdobramentos imprevistos. Seguro e conscientizador, Filadélfia põe o dedo na ferida, mas o faz com certo pudor, até por que trata de um tema que ainda se encontrava em desenvolvimento.
Coroado no Oscar com os prêmios de melhor ator (Tom Hanks) e melhor canção original (Streets of Philadelphia, de Bruce Springsteen), certamente estes dois prêmios representam os maiores destaques do filme, que apresenta uma atuação inspirada, doce e poderosa de Hanks (quem imaginaria que o ator boa praça comporia tão bem uma personagem com tamanha complexidade e nuanças?), que investe mental e fisicamente na personagem, estabelecendo tiques sutis e um modo particular deste se comportar. Realmente a premiação foi merecida. Quanto à canção de Springsteen, apesar de dona de uma melodia simples (porém cativante), sua letra mescla objetividade/urgência com uma melancolia e universalidade primorosas, resumindo de forma cabal não apenas o drama vivido pela personagem de Tom Hanks (A Viagem), mas especialmente da condição do soropositivo em um realidade quase que totalmente inóspita e preconceituosa.
Apesar de carregado e eficiente, o roteiro escrito por Ron Nyswaner (O Despertar de uma Paixão) peca pela falta de ousadia, de um certo tempero que trouxesse certa imprevisibilidade à trama. Como discurso social o mesmo funciona a contento, contudo a distinção entre heróis e vilões, entre bonzinhos e mauzinhos, desde o início do filme, torna a experiência cinematográfica um tanto quanto manipulativa. Não que haja problema em tentar convencer o espectador de quem representa, aos olhos dos feitores da obra, o ideal, o justo, porém, neste sentido talvez tenha faltado um cuidado maior na construção do roteiro, que cumpre bem seu papel e não atrapalha o prosseguimento da trama, mas fica a impressão de que falta algo.
Bastante apoiado em seu elenco, que conta com coadjuvantes de luxo do porte de Jason Robards (Todos os Homens do Presidente) - um tanto quanto subaproveitado -, Mary Steenburgen (De Volta Para o Futuro Parte III), Joanne Woodward (As Três Máscaras de Eva), além de um jovem Antonio Banderas (A Pele Que Habito), Filadélfia registra a competência de Jonathan Demme na direção de atores, que é mais do que notada na condução dos protagonistas Tom Hanks e Denzel Washington (O Voo) - este, por sinal, bastante centrado em seu papel-suporte ao primeiro.
Afora certa fragilidade de seu roteiro, não há grandes queixas quanto a Filadélfia como obra cinematográfica, pois a mesma é muito bem construída visualmente (Tak Fujimoto, diretor de fotografia, está de parabéns), dirigida com inspiração por Demme, conta com atuações marcantes de seu elenco, especialmente as de Hanks e Washington e registra o escopo social de um período certamente próximo do atual, mas que, pelo menos aparentemente, foi superado. Certamente no âmbito de políticas públicas e nos avanços da medicina, nos afastamos bastante daquela realidade incerta de duas décadas atrás, todavia o mácula social não foi plenamente exorcizada, visto as comumente
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