29 abril, 2013

Oblivion (EUA, 2013).

"A Terra é uma memória pela qual vale a pena lutar" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme). 
Uma das ficções-científicas mais esperadas do ano - ainda teremos Depois da Terra, de M. Night Shyamalan (A Vila) e Elysium, de Neill Blomkamp (Distrito 9) -, Oblivion consegue resgatar muito do estilo cinematográfico do gênero nos anos 1970, especialmente no que se refere ao ritmo compassado e ao valor de produção, já que inquestionavelmente este filme tem como maior destaque o seu visual, desde a fotografia clean, esplendorosa e servente à narrativa (a bem verdade, é praticamente um dos protagonistas da obra) do chileno Claudio Miranda (O Curioso Caso de Benjamin Button), passando pelo figurino funcional e bonito, sem deixar o aspecto futurista/realista de lado, até chegar ao fascinante desenho de produção, que transmuta de forma efetiva o estilo "appleniano" de hoje no nosso possível futuro de algumas décadas a seguir. Caso fosse uma fotografia, Oblivion certamente seria um clássico, contudo, numa obra cinematográfica o aspecto visual puro conta apenas metade do jogo, visto que a narrativa, o desenvolvimento da trama/personagens e a finalidade da produção abarcam a outra metade e, apesar de ter um saldo bastante positivo, o filme tropeça em alguns momentos ao tentar desenvolver sua trama, o que acaba por não permitir que este ascenda a condição de referência.

Comandado pelo promissor diretor de Tron, o Legado, Joseph Kosinski, e estrelado pelo sempre disposto Tom Cruise (Jack Reacher - O Último Tiro), Oblivion parte da premissa de que o planeta Terra  teve de ser abandonado devido à escassez de recursos naturais após uma guerra entre humanos e extra-terrestres (guerra esta que foi "vencida" pela humanidade) e nele encontramos apenas duas pessoas - as personagens de Cruise e Andrea Riseborough (Não Me Abandone Jamais) -, que possuem a missão de "fiscalizar" o planeta, que apesar da vitória dos residentes ainda sofre alguns ataques dos ditos rebeldes. O plot em si não é dos mais originais, mas recicla com cuidado alguns dos elementos mais frequentes das obras de ficção-científica, especialmente daquelas de cunho mais crítico. Há na trama do filme elos de ligação com obras como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Matrix, Wall-E e até mesmo Missão:Marte, mas quase tudo no limite do aceitável, apesar de uma ou outra referência aparecer de forma excessiva (vide 2001, por exemplo).

Certamente há mais méritos do que deméritos no filme escrito por Kosinski, Karl Kadjusek (Reféns) e Michael DeBruyn, como o fator isolamento das personagens de Cruise e Riseborough (que gera margem a algumas discussões de cunho contemplativo-existencial), o tom pontual de mistério acerca do que acontece no então inóspito planeta Terra, além do viés reflexivo da trama em si, que se não apresenta pontos de vista diferentes dos já bastante debatidos em outras obras cinematográficas ou literárias, os condensa de forma eficiente, gerando curiosidade e empatia para com as duas personagens e o ambiente nos quais estas vivem. Em contrapartida, parece que os roteiristas não organizaram muito bem as ideias a serem apresentadas, tornando o filme um tanto instável, ora redundante - a narração introdutória de Cruise é repetida como diálogo durante o filme, o que gera certo incômodo - ou simplesmente confuso, como no apressado desfecho, que de tão preocupado em referenciar 2001, de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, acaba um tanto indigesto, pois o que até então parecia simples e lógico, torna-se deveras confuso e ilógico, fator este que reputo à pressa e a possível inexperiência dos envolvidos na construção da obra (escrever uma obra de ficção-científica com alto grau de profundidade não é para qualquer um).

Se os aspecto narrativo e conceitual derrapam um pouco, o quesito atuação e direção dão certo respiro a Oblivion. Enquanto Kosinski consegue, de certa forma, imprimir sua marca como cineasta, optando por uma construção visual contemplativa e pausada, dando espaço à geografia futurística terrestre e ao magistral desenho de produção, além de se sair bem nas cenas de ação, mesmo que estas sofram de pouca inspiração, Tom Cruise mais uma vez comprova que é sim um ator diferenciado, pois apresenta disposição tanto nas cenas que exigem um pouco mais do seu trato físico - é impossível não sorrir quando nos é mostrado uma cena em que seu personagem, Jack Harper, surge correndo numa espécie de esteira do futuro -, quanto nas de caráter mais subjetivo, onde o ator transparece as camadas de dúvida e solidão de seu personagem de forma sutil e crível. Certamente, por ter maior tempo de tela, seu personagem acabou sendo bem mais desenvolvido que o de Riseborough ou de Olga Kurylenko (007 - Quantum of Solace), mas isto não tira o mérito da boa interpretação do astro.

Apesar da boa premissa e do resultado final como um todo ser acima da média, o grande barato do filme encontra-se no seu aparato visual. É simplesmente deslumbrante o trabalho do desenhista de produção Darren Gilford (Tron, o Legado) e do diretor de arte Kevin Ishioka (Avatar) - além de seus auxiliares Todd Cherniawsky (Guerra dos Mundos) e James Clyne (Star Trek) -, que criam um mundo crível,  interessante, mas atrativo e inóspito ao mesmo tempo, que auxiliado à fotografia imersiva, profunda e contemplativa de Claudio Miranda, nos deixa embasbacados com a organicidade a cada cena do filme. Soma-se a isso os efeitos visuais pontuais e competentes, temos então uma obra de visual poderoso, que convence como um possível futuro do início ao fim. Destaco também a ótima trilha sonora composta em parceria por M.8.3., Anthony Gonzalez e Joseph Trapanese, que apesar de beberem muito da fonte do Daft Punk na trilha do filme Tron, O Legado (influência de Kosinski?), especialmente pelo uso maciço de instrumentos sintetizados, casa bem com o filme, pontuando os climas e a proposta da obra como um todo. 

Um bom respiro a uma onda de filmes pouco inspirados de ficção-cientifica ou retóricos em demasia - não poderia deixar de cutucar Prometheus, de Ridley Scott -, apesar dos excessos e da perda de direcionamento em alguns momentos, além de possuir uma certa gordura no desenvolvimento de sua trama (sinceramente, o arco dos "rebeldes" tem tão pouco destaque e contribui tão pouco para o cerne do filme que poderia muito bem ser apenas sugerido, deixando assim pistas para uma possível sequência; além do mais, precisava mesmo contratar Morgan Freeman e Nicolaj Coster-Waldau para pontas tão insignificantes?), Oblivion é uma obra interessante, visualmente brilhante e que pelo menos tenta proporcionar alguns momentos de reflexão, mesmo que, no fim das contas, puramente pessoais/subjetivas. A ambição do filme foi bem maior do que seu resultado na prática, mas nem por isso tornou-se uma obra ruim ou fraca, mas certamente a "desqualificou" para a categoria essencial, ficando assim no meio do caminho para a classificação de obra-referência de sci-fi.
  
AVALIAÇÃO
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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Téo, você assistiu Lunar (Moon) de 2009?
    http://www.imdb.com/title/tt1182345/?ref_=fn_al_tt_1
    Seria interessante traçar os paralelos entre os dois filmes, fica a sugestão.
    Sds
    Leonardo Carnelos

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    1. Já assisti sim, Leonardo. Inclusive um acho um filme bastante superior, narrativamente falando, a 'Oblivion'. Assim que revisitá-lo publico um texto aqui, ok? Ótima lembrança a sua!

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