"Quando os judeus retornarem à Terra Prometida, o cometa atravessar os céus e o império Romano ascender, então você e eu morreremos. Do mar eterno ele se ergue, criando exércitos nos litorais, instigando irmão contra irmão, até a humanidade não existir mais" (Profecia declamada pelo Padre Brennan, interpretado por Patrick Troughton).
Primeiro filme de expressão de Richard Donner (Superman, o Filme) e herdeiro direto do fenômeno O Exorcista, A Profecia, de 1976, pode ser considerado como um clássico do horror moderno, tanto por seu enredo inspirado, recheado de referências a sociedade humana através de metáforas apocalípticas, quanto pelo capricho da produção, cujo visual é inspirado (e inspirador), além de contar com algumas performances marcantes, especialmente dos veteranos Gregory Peck (O Sol é para Todos) e Patrick Troughton (Hamlet) e com uma trilha sonora simplesmente magistral composta pelo gênio Jerry Goldsmith (Alien, o 8º Passageiro), talvez a melhor do gênero (Goldsmith papo o Oscar por esta trilha). Menos visceral e mais sugestivo, o filme se agiganta devido a solidez de sua história e do clima de dúvida exposto através das performances do elenco e da direção segura e elegante de Donner.
Espécie de suspense dramático, o filme roteirizado por David Seltzer (Cinema Verite) não procura expor de forma objetiva os elementos que fazem alusão ao apocalipse e a chegada do anti-Cristo, mas sim desenvolver a trama de forma a deixar tanto o espectador quanto o casal de protagonistas vivido por Peck e Lee Remick (Anatomia de um Crime) receosos, dando a obra um caráter ambíguo, tornando-a assim diferenciada dos demais filmes cujo contexto remonta elementos satânicos e religiosos. Seltzer consegue equilibrar bem as referências a temas ocultos aos assuntos de cunho político (grande parte da trama se desenvolve no entorno da embaixada norte-americana em Londres) e até mesmo familiares (a adoção do garoto Damian e os percalços passados por seus pais adotivos, especialmente pela mãe).
Talvez mais afixado na memória popular devido a alguns elementos distintos que compõem a trama do filme, como a simbologia do número 666, a relação dos cães rottweilers com o menino anti-Cristo, as mortes marcantes de alguns coadjuvantes, dentre outros, do que pela premissa em si, mesmo assim A Profecia é um filme muito bem elaborado, cujo clima de suspense não se perde em momento algum e cujos personagens, "mocinhos" ou "vilões", despertam interesse imediato, tanto por serem muito bem construídos por Seltzer, Donner e elenco, quanto pelo carisma inerente a cada ator/atriz. Com isso, é certo que, absurdos a parte, a história proposta pelo filme convence e desperta curiosidade do início ao fim, mantendo-se interessante até hoje.
Esteticamente primoroso, dirigido com esmero e bastante inventividade pelo então iniciante Richard Donner e tenso do início ao fim, A Profecia, apesar de bem recebido pelo público e pela crítica, nunca alçou ao estrelato devido ao eclipse formado pelo também clássico O Exorcista, que se por um lado abriu caminho para obras como A Profecia, por outro estabeleceu uma espécie de competição indireta, onde, obviamente, aquele encontra-se praticamente imbatível. Comparações à parte, o filme de Richard Donner é distinto especialmente por não seguir a fórmula padrão dos filmes de horror, deixando o sangue e os sustos de lado e optando pela construção climática, pela ambiguidade conceitual. Certamente este não é um filme cujo foco é despertar o medo no espectador, mas sim deixá-lo incomodado, arisco, desconfiado de que há algo errado no ar, mas cuja razão não consegue explicar. Sendo assim, se por um lado a estética lembra um pouco o filme de William Friedkin, a ambientação já traz um pouco de O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski.
Apesar dos méritos da obra cinematográfica como um todo, é impossível não comentar que, muito provavelmente, caso Jerry Goldsmith não tivesse composto os temas tenebrosos e operísticos que pontuam o filme o impacto (especialmente no quesito tensão e condução das personagens) não seria o mesmo, pois certamente A Profecia é um raro caso em que a trilha sonora acaba por se sobrepor a outros elementos geralmente mais destacados numa obra cinematográfica, como atuação e direção. É impossível imaginar o filme sem o canto gregoriano de Ave Satani, como também sem a presença de algumas sequências belíssimas desenvolvidas por Donner e o diretor de fotografia Gilbert Taylor (os closes hipnóticos que enquadram os olhos de algumas personagens e a queda da personagem de Remick se destacam dentre outros grandes momentos) e montagem do filme - a cargo de Stuard Baird, de 007: Operação Skyfall -, que dá corpo ao filme.
Pouco lembrado quando discutido quais seriam os grandes filmes de horror e quase nunca citado quando a discussão remonta os grandes títulos do cinema, A Profecia é um filme ímpar, cuja ambientação setentista faz com que seu charme e força permaneçam vivos - não á toa o remake de 2006 acabou não funcionando -, além de seu conceito "inovador" permanecer como referência até hoje, visto que foram diversas as produções que tentaram imitá-lo, mas praticamente nenhum conseguiu a contento. Alinhamento dos astros ou profecia positiva à parte, o certo mesmo é que poucos filmes do gênero conseguiram alinhar tantos ótimos elementos (diretor e elenco de primeira, plot interessante, música impecável, montagem acertada, fotografia primorosa, direção de arte e figurino orgânicos etc.) sem se perder pelo caminho e A Profecia é, sem sombra de dúvidas, um destes. Um filme de horror que não necessariamente assusta, mas certamente te deixa impressionado, pois a mensagem (leia-se: entrelinhas) de que o mal está sempre a espreita funciona magnificamente.
AVALIAÇÃOEspécie de suspense dramático, o filme roteirizado por David Seltzer (Cinema Verite) não procura expor de forma objetiva os elementos que fazem alusão ao apocalipse e a chegada do anti-Cristo, mas sim desenvolver a trama de forma a deixar tanto o espectador quanto o casal de protagonistas vivido por Peck e Lee Remick (Anatomia de um Crime) receosos, dando a obra um caráter ambíguo, tornando-a assim diferenciada dos demais filmes cujo contexto remonta elementos satânicos e religiosos. Seltzer consegue equilibrar bem as referências a temas ocultos aos assuntos de cunho político (grande parte da trama se desenvolve no entorno da embaixada norte-americana em Londres) e até mesmo familiares (a adoção do garoto Damian e os percalços passados por seus pais adotivos, especialmente pela mãe).
Talvez mais afixado na memória popular devido a alguns elementos distintos que compõem a trama do filme, como a simbologia do número 666, a relação dos cães rottweilers com o menino anti-Cristo, as mortes marcantes de alguns coadjuvantes, dentre outros, do que pela premissa em si, mesmo assim A Profecia é um filme muito bem elaborado, cujo clima de suspense não se perde em momento algum e cujos personagens, "mocinhos" ou "vilões", despertam interesse imediato, tanto por serem muito bem construídos por Seltzer, Donner e elenco, quanto pelo carisma inerente a cada ator/atriz. Com isso, é certo que, absurdos a parte, a história proposta pelo filme convence e desperta curiosidade do início ao fim, mantendo-se interessante até hoje.
Esteticamente primoroso, dirigido com esmero e bastante inventividade pelo então iniciante Richard Donner e tenso do início ao fim, A Profecia, apesar de bem recebido pelo público e pela crítica, nunca alçou ao estrelato devido ao eclipse formado pelo também clássico O Exorcista, que se por um lado abriu caminho para obras como A Profecia, por outro estabeleceu uma espécie de competição indireta, onde, obviamente, aquele encontra-se praticamente imbatível. Comparações à parte, o filme de Richard Donner é distinto especialmente por não seguir a fórmula padrão dos filmes de horror, deixando o sangue e os sustos de lado e optando pela construção climática, pela ambiguidade conceitual. Certamente este não é um filme cujo foco é despertar o medo no espectador, mas sim deixá-lo incomodado, arisco, desconfiado de que há algo errado no ar, mas cuja razão não consegue explicar. Sendo assim, se por um lado a estética lembra um pouco o filme de William Friedkin, a ambientação já traz um pouco de O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski.
Apesar dos méritos da obra cinematográfica como um todo, é impossível não comentar que, muito provavelmente, caso Jerry Goldsmith não tivesse composto os temas tenebrosos e operísticos que pontuam o filme o impacto (especialmente no quesito tensão e condução das personagens) não seria o mesmo, pois certamente A Profecia é um raro caso em que a trilha sonora acaba por se sobrepor a outros elementos geralmente mais destacados numa obra cinematográfica, como atuação e direção. É impossível imaginar o filme sem o canto gregoriano de Ave Satani, como também sem a presença de algumas sequências belíssimas desenvolvidas por Donner e o diretor de fotografia Gilbert Taylor (os closes hipnóticos que enquadram os olhos de algumas personagens e a queda da personagem de Remick se destacam dentre outros grandes momentos) e montagem do filme - a cargo de Stuard Baird, de 007: Operação Skyfall -, que dá corpo ao filme.
Pouco lembrado quando discutido quais seriam os grandes filmes de horror e quase nunca citado quando a discussão remonta os grandes títulos do cinema, A Profecia é um filme ímpar, cuja ambientação setentista faz com que seu charme e força permaneçam vivos - não á toa o remake de 2006 acabou não funcionando -, além de seu conceito "inovador" permanecer como referência até hoje, visto que foram diversas as produções que tentaram imitá-lo, mas praticamente nenhum conseguiu a contento. Alinhamento dos astros ou profecia positiva à parte, o certo mesmo é que poucos filmes do gênero conseguiram alinhar tantos ótimos elementos (diretor e elenco de primeira, plot interessante, música impecável, montagem acertada, fotografia primorosa, direção de arte e figurino orgânicos etc.) sem se perder pelo caminho e A Profecia é, sem sombra de dúvidas, um destes. Um filme de horror que não necessariamente assusta, mas certamente te deixa impressionado, pois a mensagem (leia-se: entrelinhas) de que o mal está sempre a espreita funciona magnificamente.
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