"O futuro começa" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
É compreensível que alguns entusiastas da franquia (e série de tevê) Star Trek tenham ficado chateados com esse reboot da obra criada nos anos 1960 por Gene Roddenberry, especialmente no que se refere à falta de "cerebralidade" da trama, à pouca atenção aos gadgets visionários e a opção pela montagem frenética em detrimento da parcimônia odisseica dos filmes clássicos. Contudo, também é compreensível que alguns fãs tenham adorado esta repaginada justamente pela nova dinâmica apresentada por J. J. Abrams (Missão: Impossível III) e pelos roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci (Transformers), que "recriaram" parte da iconografia trekker para os olhos (e ouvidos) da juventude do século XXI, deixando um pouco de lado à filosofia inerente a grande parte dos filmes anteriores e apostando mais na aventura, na matinê, no humor e no despojamento. Cada um destes núcleos têm suas razões para gostarem ou não deste novo Star Trek, mas é correto afirmar que, mitologia trekker à parte, o filme conduzido por Abrams é eficiente, divertido, visualmente bonito e bem amarrado, funcionando muito bem tanto como início de franquia quanto como obra fechada.
Pra início de conversa o elenco do filme é primoroso. Tanto os protagonistas Chris Pine (Incontrolável), Zachary Quinto (série American Horror Story) e Karl Urban (Dredd) quanto o elenco de apoio (que possui nomes como Zoe Saldana, Anton Yelchin, Simon Pegg e John Cho, por exemplo) estão muito bem caracterizados, entregando performances que "homenageiam" as características dos atores que interpretaram originalmente estes personagens, mas sem deixar de imprimirem características próprias. Certamente alguns acabam tendo mais destaque (e tempo em cena) do que outros, mas é bacana perceber o comprometimento de todo o conjunto. Soma-se a isso a perspicácia de Kurtzman e Orci ao recriar alguns elementos de ligação entre as personagens (como no caso do trio Kirk, Spock e Uhura, personagens de Pine, Quinto e Saldana, respectivamente) e temos assim uma exploração de personagens bastante interessante, que acaba por sobrepor as também ótimas sequências de ação.
O tom épico e "aventuresco" ecoa por todo o filme, mas isso não o exime de alguns excessos. A caracterização inicial do vindouro capitão Jim Kirk soa apelativa, sendo este caracterizado como impulsivo e "porra louca" ao extremo desde a sua infância (ao meu ver, a cena do carro despencando precipício abaixo é descartabilíssima). Em contrapartida, a exploração da infância/juventude de Spock é melhor desenvolvida, levando-nos a conhecer um pouco o funcionamento da sociedade vulcana. Todavia, à exceção da dupla, nenhum outro personagem tem sua juventude explorada, inclusive o vilão Nero (Eric Bana, de A Estrada), o que não chega a prejudicar a amarração da narrativa, mas deixa um sentimento de que falta alguma coisa.
Um aspecto bobo, mas que faz toda a diferença nesta "nova" abordagem de Star Trek encontra-se na estrutura do seu roteiro, que abraça com carinho a clássica jornada do herói, especialmente na construção da personagem de Chris Pine, James T. Kirk (mesmo que o Spock de Zachary Quinto também siga preceitos desta jornada). A amarração dos eventos do filme perpassa pelo "chamado da aventura", pela "recusa", "encontro com o mentor"... até chegar à "recompensa" e "o caminho para casa" (etapas destacadas por Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces). Tal abordagem casa bem com a trama apresentada (ou teria a trama sido amarrada ao esquema catalogado por Campbell?) e, de certa forma, acabam por aproximar este novo Star Trek de outra franquia cinematográfica espacial de sucesso: Star Wars. Desde o seu lançamento muitos foram os que compararam este filme de 2009 com a franquia capitaneada por George Lucas (especialmente a trilogia primeira), o que acabou por despertar a fúria por parte dos fãs mais ortodoxos do universo concebido por Gene Roddenberry.
Abdicando (em parte) da mitologia dos filmes anteriores - é deixado claro pelo filme que os eventos que acompanhamos se passam em uma realidade alternativa -, este Star Trek em nova roupagem é bom o suficiente para que a "birra" com relação a falta de profundidade da trama deixe de ficar em primeiro plano, pois a obra funciona mesmo sob o envólucro de "escapismo espacial" e, mesmo que alguns excessos (incluindo a estética recheada de flare adotada por J. J. Abrams) apaguem um pouco do brilhantismo da obra, o resultado final é bastante satisfatório, deixando a expectativa para a sequência altíssima. Sem sombra de dúvidas Star Trek deu vida nova à franquia. Vejamos até quando este frescor durará.
Pra início de conversa o elenco do filme é primoroso. Tanto os protagonistas Chris Pine (Incontrolável), Zachary Quinto (série American Horror Story) e Karl Urban (Dredd) quanto o elenco de apoio (que possui nomes como Zoe Saldana, Anton Yelchin, Simon Pegg e John Cho, por exemplo) estão muito bem caracterizados, entregando performances que "homenageiam" as características dos atores que interpretaram originalmente estes personagens, mas sem deixar de imprimirem características próprias. Certamente alguns acabam tendo mais destaque (e tempo em cena) do que outros, mas é bacana perceber o comprometimento de todo o conjunto. Soma-se a isso a perspicácia de Kurtzman e Orci ao recriar alguns elementos de ligação entre as personagens (como no caso do trio Kirk, Spock e Uhura, personagens de Pine, Quinto e Saldana, respectivamente) e temos assim uma exploração de personagens bastante interessante, que acaba por sobrepor as também ótimas sequências de ação.
O tom épico e "aventuresco" ecoa por todo o filme, mas isso não o exime de alguns excessos. A caracterização inicial do vindouro capitão Jim Kirk soa apelativa, sendo este caracterizado como impulsivo e "porra louca" ao extremo desde a sua infância (ao meu ver, a cena do carro despencando precipício abaixo é descartabilíssima). Em contrapartida, a exploração da infância/juventude de Spock é melhor desenvolvida, levando-nos a conhecer um pouco o funcionamento da sociedade vulcana. Todavia, à exceção da dupla, nenhum outro personagem tem sua juventude explorada, inclusive o vilão Nero (Eric Bana, de A Estrada), o que não chega a prejudicar a amarração da narrativa, mas deixa um sentimento de que falta alguma coisa.
Um aspecto bobo, mas que faz toda a diferença nesta "nova" abordagem de Star Trek encontra-se na estrutura do seu roteiro, que abraça com carinho a clássica jornada do herói, especialmente na construção da personagem de Chris Pine, James T. Kirk (mesmo que o Spock de Zachary Quinto também siga preceitos desta jornada). A amarração dos eventos do filme perpassa pelo "chamado da aventura", pela "recusa", "encontro com o mentor"... até chegar à "recompensa" e "o caminho para casa" (etapas destacadas por Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces). Tal abordagem casa bem com a trama apresentada (ou teria a trama sido amarrada ao esquema catalogado por Campbell?) e, de certa forma, acabam por aproximar este novo Star Trek de outra franquia cinematográfica espacial de sucesso: Star Wars. Desde o seu lançamento muitos foram os que compararam este filme de 2009 com a franquia capitaneada por George Lucas (especialmente a trilogia primeira), o que acabou por despertar a fúria por parte dos fãs mais ortodoxos do universo concebido por Gene Roddenberry.
Abdicando (em parte) da mitologia dos filmes anteriores - é deixado claro pelo filme que os eventos que acompanhamos se passam em uma realidade alternativa -, este Star Trek em nova roupagem é bom o suficiente para que a "birra" com relação a falta de profundidade da trama deixe de ficar em primeiro plano, pois a obra funciona mesmo sob o envólucro de "escapismo espacial" e, mesmo que alguns excessos (incluindo a estética recheada de flare adotada por J. J. Abrams) apaguem um pouco do brilhantismo da obra, o resultado final é bastante satisfatório, deixando a expectativa para a sequência altíssima. Sem sombra de dúvidas Star Trek deu vida nova à franquia. Vejamos até quando este frescor durará.
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