18 setembro, 2013

Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo (Flickan Som Lekte Med Elden, 2009, SUE).


A mudança no posto de diretor parece ter feito bem à trilogia sueca Millennium, já que, em linhas gerais, esta segunda parte, intitulada A Menina Que Brincava com Fogo, ganhou certo gás após a saída do diretor Niels Arden Oplev (Sem Perdão) e a assunção de Daniel Alfredson - irmão mais velho do também cineasta Tomas Alfredson (O Espião Que Sabia Demais) -, que conferiu mais dinâmica à saga de Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist, de Missão Impossível: Protocolo Fantasma) e Lisbeth Salander (Noomi Rapace, de Prometheus).

Talvez a trama que adapta o segundo romance de Stieg Larsson tenha ajudado à adaptação - não acredito muito, pois a versão norte-americana do primeiro romance, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, foi belissimamente conduzido por David Fincher (Se7en, os Sete Crimes Capitais) e equipe -, mas o fato é que Alfredson trouxe a esta segunda parte uma linguagem mais cinematográfica, condensando o calhamaço de Larsson, cuja extensão chega as 600 páginas, em uma obra de pouco mais de duas horas. Certamente alguns elementos da trama original tiveram que ser condensados ou até mesmo limados da montagem final, mas a essência da obra original é mantida neste bom thriller político.

Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo possui uma estrutura narrativa mais "simples" que a do anterior, apesar do maior número de personagens coadjuvantes dispostos à trama. Com o intuito de dar mais destaque aqueles que já eram conhecidos por sua participação efetiva no filme anterior, Alfredson optou por apresentar grande parte dos novos personagens - a exemplo dos investigadores de polícia Bublanski (Johan Kylén), Faste (Magnus Krepper) e Modig (Tanja Lorentzon) - de forma reduzida, tendo estes importância ao desenvolvimento da história, porém, sem protagonizarem grandes momentos ou surgirem por muito tempo em tela. Como o centro de atenção do filme, a exemplo do longa anterior, se dá nos arcos individuais de Blomkvist e Salander - que, repetindo a dinâmica da obra outra, acabam por se cruzarem em determinado momento -, justamente aquilo que mais interessará ao espectador.

A dinâmica entre Michael Nyqvist e Noomi Rapace - apesar das poucas cenas juntos - continua funcionando, mas, assim como em Millennium - Os Homens Que Não Amava as Mulheres, Rapace chama mais a atenção, não apenas pelo fato de sua personagem possuir uma maior complexidade, mas principalmente pelo grande carisma da atriz sueca, que consegue conquistar o espectador mesmo sob uma densa maquiagem e sem esboçar o mínimo de calor humano. São seus olhos que conquistam o espectador, além dos pequenos trejeitos entregues à personagem. Já Nyqvist até que se esforça, mas sua composição é um tanto desinteressante, o que em parte casa bem com o arquétipo de seu personagem (pelo menos o proposto pela obra literária), porém, ainda assim fica aquém do trabalho realizado por Daniel Craig (007 - Operação Skyfall) na versão norte-americana.

Assumindo o cargo Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg (O Amante da Rainha) e mais conhecido por atuar na tevê sueca, Jonas Frykberg faz um bom trabalho de condensação ao texto de Stieg Larsson, distribuindo bem os principais eventos, subtramas e plot-twists da obra literária no roteiro final do filme. É certo que alguns elementos presentes no livro fazem falta, mas Frykberg assume o risco e fecha bem a maioria das arestas, seja limando personagens ou simplesmente não dando tanto espaço a outros. Possivelmente, quem ainda não leu a trilogia de Larssson, não sofrerá com qualquer ausência ou "mudança" da trama original.

Tecnicamente Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo mantém a tônica do longa anterior, apesar das mudanças quanto ao corpo de técnicos do filme. Estreiam aqui o diretor de fotografia Peter Mokrosinski (Evil - Raízes do Mal) - que preserva a estética anterior - e o editor Mattias Morheden, que dá uma cara menos televisiva à montagem final da obra, além de maneirar mais à mão tanto com relação ao corte final do filme (este é aproximadamente vinte minutos menor que o anterior), quanto ao clima de suspense explorado, que é melhor aproveitado nesta segunda parte. Como remanescentes tem-se a figurinista Cilla Rörby e o compositor Jacob Groth (Headhunter), que repetem o bom trabalho.

Não tão requintado quanto a versão norte-americana, mas longe de se configurar como uma adaptação amadora, Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo, apesar da mudança nos postos de diretor e roteirista, consegue manter a linha proposta pelo primeiro filme e ainda melhorar alguns pequenos deslizes do mesmo, especialmente na exploração de uma linguagem menos próxima a  da televisão. Certamente as tramas de ambos os filmes são exemplarmente impactantes, mas devido ao maior cuidado dado pelos novos integrantes nesta parte dois, o resultado final acaba soando mais agradável. Talvez esta não seja a adaptação definitiva do segundo volume da trilogia Millennium - espero ansiosamente pelo possível segundo filme assinado por David Fincher -, mas não faz feio, valendo a pena conferi-la.

AVALIAÇÃO
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