10 junho, 2013

Histórias Que Só Existem Quando Lembradas (BRA, 2011).


Alguns filmes nos conquistam mesmo que não nos entreguem o motivo a que vieram, pois nos envolvem em uma jornada de significados e significantes únicos, onde cada olhar, cada memória é diluída e formatada de forma diferente, tendo assim cada espectador uma impressão distinta, mas possivelmente não menos satisfatória e enriquecedora. Vencedor de diversos prêmios mundo afora, Histórias Que Só Existem Quando Lembradas, de Julia Murat, é um misto de documentário e ficção, de realidade e fantasia, de Brasil e mundo onírico. O fato de não haver uma trama bem definida, sendo esta quase que nos apresentada de maneira improvisada, com poucos diálogos, mas muito expressividade, torna o filme uma experiência bastante distinta, pois faz com que razão e emoção tentem preencher as lacunas, nos localizar enquanto seres passivos perante as informações jogadas em tela. 

Contando com muitos personagens carismáticos, alguns despertando atenção mesmo sem desfilar uma linha de texto sequer, essa experiência audiovisual escrita por Murat em parceria com Maria Clara Escobar e Felipe Sholl nasceu da descoberta, por parte de Murat, de uma cidade onde as pessoas não mais enterravam seus entes queridos no cemitério local, pois decretaram o fechamento do mesmo, passando assim a enterrá-los na cidade mais próxima. Partindo deste fato pitoresco, os roteiristas construíram um interessante texto metafórico, que não só se debruça por temas relacionados a vida, a morte, a juventude e a velhice, como também discute o homem e a humanidade, seja através de sua predileção por rotinas, seja pela naturalidade daquele em se socializar, ou até mesmo pelo alimentar contínuo das lembranças, sejam estas boas ou ruins, que passam a ser carregadas para sempre, aonde quer que se esteja.

Deixando um pouco de lado o conteúdo do texto do filme, é preciso destacar o primoroso trabalho de fotografia de Lucio Bonelli (Fase 7), tanto no que se refere a composição das cenas - seus enquadramentos casam à perfeição com a narrativa lenta de Murat, como pode ser visto na cena da senhora percorrendo o caminho dos trilhos de trem - quanto a iluminação, que tornam a imagem um misto de sonho e filme antigo, o que permite ao filme despertar sentimentos tão sinceros no espectador. A música original de Lucas Marcier - além da escolha das canções - também mostra-se bastante acertada, já que encaixa muito bem a narrativa da obra.

Surpreendente por se tratar da primeira obra de ficção da documentarista Lucia Murat e pela coragem de contar uma história que necessariamente não possui início e fim, Histórias Que Só Existem Quando Lembradas é subjetividade pura - mesmo que contextualidade a fatos concretos - que se interesse muito mais por provocar sensações do que por justificar razões ou apresentar respostas. Os vínculos criados aos "improváveis" personagens é um dos grande baratos do filme, somado a sensação de que estamos a observar de maneira literal a uma série de fotografias em movimento (ora bolas, sei que se trata de cinema), que nos transportam para uma realidade distante, mas ao mesmo tempo próxima de nossos sonhos e lembranças.

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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Gostei muito do filme e ao ler a critica, era como se me lessem! Concordo absolutamente e gostaria de lembrar a sensação de vazio e questões que nos ficam ao final...

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    1. Que bom que gostou tanto do texto, quanto do filme. Realmente, o vazio e, ao mesmo tempo, o reencontro consigo mesmo também é abraçado pelo filme. A bem verdade, as abstrações possíveis são quase infinitas. Espero que siga acompanhando o blog e obrigado pelo comentário.

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