05 setembro, 2013

Jade (EUA, 1995).

"Algumas fantasias vão longe demais." (Livre tradução da frase disposta no poster do filme)
Talvez a pretensão seja o pior engano de Jade, produção de Robert Evans (por muito tempo chefão da Paramount) dirigida pelo grande William Friedkin (O Exorcista). Ao tentar se mostrar mais inteligente, complexo e misterioso do que na verdade o é, este thriller com elementos eróticos acaba escorregando em alguns momentos, principalmente em sua conclusão duplamente forçada, que confere ao filme um caráter menos impactante - coerência narrativa a parte - e mais deslocado. Dito isto, apesar dos excessos, especialmente no âmbito de roteiro, esta obra assinada por Friedkin não é desastrosa como a crítica especializada difunde, já que mesmo composta por um enredo vez ou outra frágil, consegue funcionar como obra de mistério, é dirigido com precisão e, sem sombra de dúvidas, tem elementos suficientes para envolver o espectador.

É curioso notar que, apesar de Friedkin ser conhecido por sua pegada autoral - como quase todos os cineastas da geração anos 1960/1970 -, a abordagem estética do filme lembra muito a de um outro grande nome do cinema norte-americano, contemporâneo do diretor vencedor do Oscar por Operação França, o ítalo-americano Brian De Palma. Desde a sequência de abertura que apresenta um homicídio sob o ponto de vista subjetivo - sequência esta apoiada com firmeza pela trilha sonora assinada por James Horner - ao desfecho da obra, que entrecorta dois ambientes distintos que se conectam pela tensão inerente a ambos, nota-se que Friedkin optou por emular a estética de filmagem de De Palma, que por sua vez bebe bastante de Alfred Hitchcock. Talvez pela própria temática do filme ser mais próxima à filmografia de De Palma, que contempla títulos como Vestida para MatarDublê de Corpo e Femme Fatale, Friekdin tenha optado por tal abordagem. Todavia, mesmo com uma cara "DePalmiana", há ecos do estilo particular do diretor, como a perseguição de carros em Chinatown, cujas sensações de adrenalina e velocidade remetem imediatamente ao clássico Operação França. Por fim, seria injusto não aplaudir o trabalho de fotografia de Andrzej Barktowiak (Advogado do Diabo), que transpõe a estética solicitada por Friedkin de maneira primorosa.

Obviamente feito na esteira do sucesso de Instinto Selvagem, tendo inclusive como roteirista Joe Eszterhas, autor do script do sucesso estrelado por Michael Douglas e Sharon StoneJade até que dispõe de elementos eróticos, mas estes são abraçados de forma menos explícita, inclusive "sumindo" de foco por boa parte do filme, restando a dúvida do quão erótico este realmente seria. Friedkin não possui a pegada charmosa de De Palma nem o olhar seco de Paul Verhoeven, mas consegue conduzir bem as cenas de sexo e sedução, posicionando sua câmera de forma a compor imagens de ótimo gosto, esteticamente falando. A bem verdade, a trama de mistério do filme empolga mais que as passagens de cunho erótico, talvez pelo sex appeal de Linda Fiorentino (Homens de Preto) ser pouco explorado.

Um ponto que não compromete a obra, mas gera certo estranhamento encontra-se na escalação do elenco, pois, apesar de realizarem um bom trabalho, nomes como David Caruso (conhecido como o protagonista de C.S.I.: Miami), Chazz Palminteri (Os Suspeitos), Michael Biehn (O Exterminador do Futuro) e Richard Crenna (Rambo - Programado para Matar) num primeiro momento parecem escolhas deslocadas ao projeto, especialmente Caruso, que não possui o fenótipo do herói sedutor, do agente da justiça ambicioso e implacável. Talvez a imagem "máscula" de Michael Douglas tenha ficado tão afixada no imaginário popular que a versão "frágil" de Caruso desperte certa desconfiança. Contudo, tal impressão é desconstruída conforme o filme vai sendo desenvolvido, muito graças ao trabalho do próprio ator, que compra o papel e o defende seja quando investigador, seja quando piloto em perseguição.

Jade parece não ter agradado nem público nem crítica à época de seu lançamento, mas talvez esta apatia tenha se dado não pela má qualidade do filme, mas sim pelo excesso de filmes com temática parecida que desfilavam nos cinemas desde o final dos anos 1980. Como Jade foi produzido no final da "safra", os olhares negativos o acertaram em cheio. Enfim, estou apenas teorizando. O certo mesmo é que, apesar de não trazer grandes inovações, especialmente no campo conceitual, e possuir um desfecho um tanto chocho - Eszterhas e Friedkin procuram surpreender o público duplamente, mas não acertam em nenhuma das vezes -, o filme sagra-se como um thriller eficiente, dono de algumas sequências de tirar o fôlego - a abertura e a perseguição de carros são primorosas - e de uma história, se não inédita, no mínimo interessante. É esquisito ver um cineasta renomado e de estilo próprio como William Friedkin emulando Brian De Palma - seja no estilo, seja na temática -, mas mesmo assim o filme vale a visita.

AVALIAÇÃO
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