09 setembro, 2013

Scarface (EUA, 1983).

"Say hello to my little friend!" (Uma das frases mais icônicas do cinema).
Um dos maiores épicos de máfia da história do cinema, Scarface é a prova viva de que um remake só é válido quando inovador em relação à obra original e, esta versão lançada no início dos anos 1980, dirigida de forma soberba pelo mestre Brian De Palma (Vestida para Matar), escrita pelo futuro cineasta e vencedor do Oscar Oliver Stone (Platoon) e estrelada por um dos maiores atores de todos os tempos, Al Pacino (ainda em grande fase), pode ser alçada ao topo entre os melhores remakes já produzidos. Há todo um contexto que dá sustentação ao filme, sendo este um misto de fantasia (no sentido dos exageros contidos no roteiro) e homenagem aos filmes de gangsteres dos anos 1930 e 1940, só que esteticamente mais surtado e estilizado, como todo bom trabalho conduzido por De Palma.

Mesmo passados trinta anos desde sua estreia é incrível como o filme permanece vivo, contagiante, relevante e, até certo ponto, atual. Ou seja, mesmo que alguns elementos estéticos e a trilha sonora da obra denunciem sua temporalidade, o conceito geral e o sentimento externado pelo filme continua atemporal, causando impacto até hoje. A sacada de Oliver Stone de transpor elementos do filme original à realidade político-social da época, especialmente tendo por base a chegada de refugiados cubanos aos Estados Unidos (elemento este essencial a trama). Sendo assim, troca-se o núcleo ítalo-americano pela gênese cubano-americana, destacando assim a sedimentação do império das drogas (especialmente da cocaína) na cidade de Miami.

É lastimável o pouco reconhecimento obtido pelo filme à época de seu lançamento, sendo este considerado "excessivamente violento" e "deslocado da realidade", quando tais conceitos foram postos de forma proposital, com o intuito de chocar as plateias, objetivando assim alertar os espectadores para a degradação social em desenvolvimento à época. Devido a recepção dividida, Scarface acabou sendo ignorado por premiações como o Oscar, visto que não obteve sequer uma indicação. Para completar, Brian De Palma acabou recebendo uma indicação ao Framboesa de Ouro, premiação que contempla os piores do ano (ou seja, uma antítese do Oscar), como pior diretor (sacanagem é pouco). É certo que nem sempre prêmios e indicações fazem jus aos contemplados, mas a ausência de Scarface é injustificável.

Esteticamente brilhante - a junção entre o carnaval de cores presentes no figurino (Patricia Norris, de O Homem da Máfia) e a fotografia (John A. Alonzo, de A Árvore da Maldição) realçam a violência do filme de maneira ímpar -, dono de um enredo envolvente, recheado por personagens carismáticos, cujas falas chocam e fazem rir com muita naturalidade, certamente este é um dos melhores trabalhos de De Palma como diretor, que traduz com personalidade o roteiro "surtado" de Oliver Stone e encontra em Pacino um intérprete a altura do desafio que se tornou Scarface. O ator criou aqui mais um personagem emblemático, cujas falas, postura, sotaque e trejeitos viraram referência. Se Oscar o esnobou, pelo menos o Globo de Ouro reconheceu sua grande composição e o brindou com uma indicação para a categoria melhor ator.

O elenco de apoio também merece destaque, pois as performances caricaturais, mas ao mesmo tempo realistas de Steven Bauer (As Duas Faces de um Crime), Michelle Pfeiffer (Revelação), Mary Elizabeth Mastrantonio (Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões), Robert Loggia (A Força do Destino) e F. Murray Abraham (O Nome da Rosa) ajudam à composição final do filme, sustentando a performance surtada (no bom sentido) de Pacino e dando vida a trama escrita por Stone e realizada por De Palma, que dá a obra uma carga diferenciada, cuja magia e encantamento é encontrada apenas nos filmes assinados pelo mestre dos planos-sequência.

Da música apoiada nos sintetizadores e teclados eletrônicos (afinal de contas, estávamos no auge dos anos 1980) composta por Giorgio Moroder (O Expresso da Meia-Noite) ao exagero gráfico (mas com propósito) impresso por Brian De Palma, além da composição de alguns cenas antológicas com sua velha pegada hitchcockiana (a sequência que envolve a primeira incursão criminosa de Tony Montana nos Estados Unidos - sim, aquele que envolve uma serra elétrica -, a tentativa de assassinato do mesmo e a conclusão do filme são emblemáticas) são elementos que tornam o filme mais do que fantástico, mas referencial a todo um gênero. Sem nunca deixar de assumir-se como uma ficção estilizada, Scarface de Brian De Palma extrapolou o espectro do cinema e transmutou-se na cultura norte-americana como um todo, sendo, ao lado de obras como O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros, reverenciado, imitado e recitado até hoje entre aqueles que tiveram o prazer de assisti-lo. Em suma, um Filme com F maiúsculo.

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