03 abril, 2014

A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief, EUA/ALE, 2013).

"A coragem além das palavras" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Adaptação direta de um dos "maiores" best-sellers dos últimos anos, A Menina Que Roubava Livros é um drama intimista que retrata parte de um dos períodos mais tristes e revisitados artisticamente da história, o do nazismo alemão. Porém, apesar de ter seus atrativos, a obra acaba não saindo do lugar comum, tendo talvez como seu maior diferencial a "narração onírica" - é destacado no início do filme que a entidade Morte é quem conta a história -, enquanto repete alguns dos "vícios" mais vistos em obras (cinematográficas ou não) cujo tema é o nazismo: o reducionismo do ser humano a bonzinho ou mauzinho, sem tons de cinza (talvez a única exceção seja a personagem de Emily Watson) e sem "nazistas" legais (isto seria um pecado, não?).

Adaptado por Michael Petroni (As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada) - a obra original foi escrita por Markus Zusak - e dirigido pelo estreante na mídia cinema Brian Percival (o diretor é conhecido por seu trabalho na premiada série de tevê britânica Downton Abbey), o filme oscila entre bons e maus momentos, que perpassam desde sua concepção estética ao nível de profundidade e de discussão de seu roteiro. O fato da trama ser um tanto previsível atrapalha um pouco a tentativa de surpresa lançada pelo filme, além do já citado "estilo maniqueísta" enfraquecer um pouco sua autenticidade como um todo, não o tornando diferente de outras obras medianas lançadas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. É certo que há uma tentativa de destacar o caráter humano do povo alemão - mesmo que haja aqui uma óbvia (e, por que não, grosseria) distinção entre o alemão nazista e o alemão "vítima" -, mas o roteiro carece de mais profundidade. O próprio aspecto destacado pelo título do filme (livros) acaba tendo pouco relevância aos eventos construídos durante o filme, restando assim a dúvida acerca do quão "fiel" esta obra foi em comparação a sua fonte, afinal de contas, o título de qualquer obra deve simbolizar com precisão o conteúdo e o espírito da mesma.

Se o texto em si não traz grandes novidades, o mesmo não pode ser dito da retratação de época e da condução de Percival. Apesar de um tanto verde em alguns momentos, o diretor consegue conceber, ao lado do diretor de fotografia Florian Ballhaus (O Diabo Veste Prada), algumas sequências belíssimas, que realçam a beleza das locações e o ótimo trabalho das equipes de arte (lideradas por Simon Elliot e Bill Crutcher), ajudando assim à imersão do público a Alemanha dos anos 1930 e 1940. Quanto ao elenco, o destaque obviamente recai nos veteranos Geoffrey Rush (Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra) e Emily Watson (Cavalo de Guerra), que com pouco fazem muito, entregando personas distintas mas organicamente complementares. Já a canadense Sophie Nélisse, que interpreta a personagem principal Liesel, acaba convencendo mais pela beleza particular do que pelos seus dotes dramáticos. Não que a garota se revele uma péssima atriz, mas é notória sua limitação, especialmente nas cenas de maior dramaticidade. Por outro lado, seu parceiro de cena Nico Liersch esbanja simpatia, sendo um dos personagens mais interessantes do filme. Também merece destaque a imponência de Roger Allam (V de Vingança) como a narradora Morte, apesar desta não mostrar-se realmente necessária a trama.

É válido destacar que o filme conseguiu algumas indicações a premiações importantes, como o BAFTA, o Globo de Ouro e o indefectível Oscar, todas na categoria trilha sonora original, a cargo do onipresente John Williams (Superman, o Filme). Todavia, apesar de elevar o clima do filme - especialmente nos momentos de alto potencial lacrimejoso -, não é percebido nada demais nos temas criados pelo veterano maestro, cuja competência é mais do que celebrada e não está sendo posta em cheque aqui, mas nada impede o registro de que seu trabalho neste filme não resulta tão interessante a ponto de ser consagrado com um prêmio da monta dos três citados a pouco. Inclusive, até mesmo a lembrança da indicação soa mais como jogada de marketing/lobby do que como conquista por mérito.

Bem intencionado, porém um tanto superficial e, por que não, acovardado na abordagem do tema proposto, A Menina Que Roubava Livros, o filme, funciona como peça de entretenimento mais por sua estética apurada e pelo bom trabalho (em geral) do elenco do que pelo seu texto e sua trama em si (a bem verdade fica difícil perceber o quão atrativo seria a leitura da obra original tendo como ponto de partida o filme) - há pelo menos um punhado de cenas mal resolvidas pelo filme, em especial a sequência que destaca a "visita" da personagem de Watson a escola onde Liesel estuda, totalmente deslocada e, por que não, inverossímil -, além da metragem excessiva (o filme, assim como O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, possui três finais!), que compromete um pouco seu ritmo. Moderado sucesso de bilheteria - assim como foi outra obra "recente" baseada em "importante" best-seller, O Caçador de Pipas -, A Menina Que Roubava Livros é um filme cujo potencial poderia alcançar níveis altíssimos, mas que acaba por se contentar com o lugar comum, o que não a torna uma obra ruim, mas a deixa distante do patamar de grandeza possivelmente almejado.

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