02 junho, 2013

Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, EUA, 2013).

"Sem nomes. Sem distintivos. Sem misericórdia" (Tradução da frase disposta no cartaz promocional do filme).
Causador de polêmica antes mesmo de seu lançamento (seu trailer apresentava uma sequência de tiroteio dentro de um cinema, justamente na sessão onde um "louco" desferiu tiros contra uma platéia que assistia a exibição de Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge, nos Estados Unidos, o que fez a sequência ser retirada do corte final do filme, além do mesmo ter sua estreia adiada em vários meses), Caça aos Gângsteres nasceu com um hype bastante positivo, mas pouco a pouco - muito devido ao caso citado a pouco - foi ganhando a alcunha de "fracasso certo", o que, em parte, acabou por se concretizar. Mesmo com nomes de peso no elenco, um diretor em ascensão e um roteirista novato, mas promissor, o filme não conseguiu encontrar seu público, obtendo um resultado abaixo das expectativas nas bilheterias norte-americanas (o filme não conseguiu empatar seu custo por lá, apesar de ser uma produção de orçamento médio), além de críticas, em geral, bastante desfavoráveis. 

Com tanta negatividade a respeito da obra, imaginava encontrar uma bomba abissal ao assisti-la, entretanto, apesar de seus excessos, esta passa longe de ser ruim ou decepcionante, pois cumpre bem seu papel como entretenimento pipoca, além de homenagear - as vezes bem, outras nem tanto - o cinema da década de 1940 (tanto o noir, quanto o de gangster). Mais do que apoiado no valor mercadológico de seu elenco, o filme tenta explorá-lo ao máximo e, de certa forma, é bem sucedido neste sentido, apesar de, vez por outra, acabar "abandonando" alguns destes, até por que, como todo bom filme a seguir a cartilha hollywoodiana, o protagonista de cinema é um só. 

Sendo assim, apesar de acrescentarem certo carisma e despertarem um pequeno interesse a seus personagens, caras como Robert Patrick (Curvas da Vida), Anthony Mackie (Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros), Michael Peña (Marcados para Morrer) e Giovanni Ribisi (Ted) são um tanto subaproveitados, inclusive somem de cena em alguns momentos. O filme, obviamente, é de Josh Brolin (O Homem Sem Sombra) e de Sean Penn (21 Gramas), que vivem respetivamente o herói e o bandido, apesar do personagem de Ryan Gosling (Namorados para Sempre) - uma espécie de sidekick do primeiro - ter importância paralela a trama, devido ao seu envolvimento com a femme fatale interpretada por Emma Stone (O Espetacular Homem Aranha). Como destacado, o elenco do filme é exemplar - este ainda conta com nomes como Nick Nolte (O Óleo de Lorenzo) e Mireille Enos (série The Killing), por exemplo -, mas a maioria não tem tempo suficiente em cena para despertar empatia ou interesse, sendo o carisma do ator/atriz o único atrativo de alguns destes personagens, o que é uma pena, pois o grande elenco é o chamariz principal do longa.

Apesar da qualidade dos envolvidos - e do esforço de Brolin em construir um personagem forte e complexo -, o grande destaque do filme é, sem sombra de dúvidas, o turrão Sean Penn e seu Mickey Cohen. É notório que, mesmo com o background raso de seu personagem, a composição do ator - aliada ao ótimo trabalho da equipe de maquiagem -, pode ser considerado como o combustível para o interesse no filme, visto que seu personagem é interessantíssimo (mesmo unidimensional). Sendo assim, apesar da qualidade do elenco como um todo, o grande atrativo do filme ainda é a atuação/personagem de Penn.

O filme é tecnicamente bem acabado, tendo o seu departamento de arte como maior destaque - o nível de detalhamento das ruas de Los Angeles, as cores, figurino etc. é fenomenal -, pois realmente passa a impressão de que estamos imersos nos anos 1940, pós-guerra. No entanto, se o visual do filme é muito legal, a fotografia "modernosa" causa certo estranhamento, que é bastante acentuado nas opções estético-narrativas do diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia), que exagera na estilização de algumas cenas de ação ao empregar slow motion de forma gratuita (ao meu ver, neste sentido, a escola Guy Ritchie/Zack Snyder está "estragando" a nova geração de cineastas), especialmente em uma das sequências do último ato do longa, que perde bastante tensão e urgência em detrimento do espetáculo proporcionado pelo carnaval de explosões em câmera lenta. A bem verdade, o único momento bacana em que Fleischer utiliza esta técnica é durante a primeira missão do "esquadrão", quando cada disparo efetuado por um dos "heróis" congela a imagem, numa espécie de fotografia. Narrativamente não agrega nada ao filme, mas ficou plasticamente interessante.

O roteiro do estreante Will Beall, baseado no livro de Paul Lieberman, tem seus bons e maus momentos, sendo talvez o excesso de personagens teoricamente relevantes a trama o seu calcanhar de Aquiles, pois não há tempo hábil para desenvolvimento de todos eles, gerando uma impressão de desperdício de talentos ao filme. Outro ponto frágil no roteiro de Beall é o romance entre os personagens de Ryan Gosling e Emma Stone, que é desenvolvido muito rapidamente, sendo difícil acreditar que pessoas tão "calejadas" e "duras" como são aqueles personagens se envolverem (e, consequentemente, se apaixonarem torrencialmente) de forma tão rápida e econômica. Apesar desses pequenos vacilos, a trama do filme funciona bem, não tendo o roteiro a mácula de "estragar" o filme.

Talvez por ser modernoso demais e inseguro se aposta na caricatura ou se mantém o pé no "realismo", Ruben Fleischer acaba não fazendo de seu Caça aos Gângsteres uma obra impactante (para não dizer relevante) tal qual as grandes do gênero. Com isso, não quero dizer que o filme carrega pecados imperdoáveis, mas sim que algumas opções estéticas e talvez uma certa imaturidade de alguns dos envolvidos tornaram uma obra que tinha tudo para ser espetacular em um entretenimento bacana e bem cuidado, mas que não desperta tanto carinho ou comoção. O elenco estelar está lá, os elementos de luta contra o crime também e o transporte a uma época hoje distante de nós é preciso, mas o impacto causado não dura tanto, prevalecendo o entretenimento cosmético em detrimento do orgânico, o que em momento algum invalida os pontos positivos do filme, mas como dito a pouco, o inibi de chegar ao patamar dos títulos inesquecíveis do gênero (para não ser tão extremo, talvez o personagem de Sean Penn seja lembrado - e bem visto - daqui a algumas décadas). 

AVALIAÇÃO
TRAILER

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