"O medo pode mantê-lo prisioneiro. A esperança pode libertá-lo" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Um dos melhores filmes baseados em obras do escritor Stephen King e uma das obras mais queridas pelos entusiastas da sétima arte - não a toa, por muitos anos este foi o filme com a maior avaliação no Internet Movie Database -, Um Sonho de Liberdade é um tocante drama fabular que contagia não só por sua construção enigmática, mas também pela ótima construção de personagens e pelo carisma emanado pelo elenco, sendo este um raro filme em que o argumento, o roteiro, a concepção de personagens e as atuações casam a perfeição, sendo quase impossível sugerir uma possível alteração ou acréscimo dentro deste conjunto.
Dirigido e adaptado pelo brilhante Frank Darabont (O Nevoeiro), cineasta que viria a se tornar um especialista em adaptações de obras de King, Um Sonho de Liberdade é uma obra que desperta o interesse do espectador do início ao fim, pois utiliza o subterfúgio do homem inocente condenado a um crime que não cometeu como pontapé para a discussão de temas mais urgentes e próximos ao homem comum, como a triste realidade do sistema penal e carcerário como um todo, o fato de que o criminoso condenado não deixa de ser humano - no caso de algumas das personagens do filme, ainda mais do que as sentinelas e guardas do presídio - e que, independentemente dos erros que porventura estes tenham cometido, valores básicos como "honra" e amizade não apenas permanecem, como são elevados a novos patamares - em especial a dos personagens interpretados por Tim Robbins (Missão: Marte) e Morgan Freeman (Se7en - Os Sete Crimes Capitais) -, justamente pela necessidade adaptativa/evolutiva despertado pelo ambiente opressor o qual habitam.
O longa é recheado de metáforas, especialmente as relacionadas ao contido personagem de Robbins, que vive o ex-banqueiro Andy Dufresne e ao seu braço direito Red, personagem de Freeman. O grande barato está justamente em "sacar" estas mensagens (as quais não irei me debruçar, justamente por que a descoberta destas ampliam o interesse à obra, contudo, adianto que temas como livre-arbítrio e determinismo social são pincelados), que certamente complementam o arco narrativo do filme e conferem ao mesmo um diferencial em relação a obras outras, pois sobressai o drama dos condenados, abraçando o caráter humano em sua investigação sócio-antropológica. Com isso não afirmo que o filme é pedante, pretensioso ou acadêmico, pois o caráter "intelectualóide" é inexistente, tendo este acertado em cheio na missão de transpor os limites da tela com mensagens inteligíveis ao público, sem que para isso tenha que se furtar do caráter de obra-entretenimento, o qual inquestionavelmente é.
Capaz de conquistar gregos e troianos (quem desejar um filme leve, receberá um filme leve, mas quem almeja profundidade e signos metafóricos, certamente os encontrará), este primeiro trabalho de Frank Darabont como diretor de cinema é primoroso também nos quesitos técnicos, tendo como destaque a sempre competente composição fotográfica de Roger Deakins (a qual foi indicada ao Oscar), cuja escolha de enquadramentos, lentes e iluminação dão ao filme um visual um tanto onírico, mas nunca ao ponto de termos a certeza de que tudo o que se passa em tela não passa de um sonho. A direção de arte (Peter Smith) e figurino (Elizabeth McBride) também mostram-se competentes, caracterizando bem tanto o clima opressor de uma instituição penitenciários nos idos dos anos 1940, como as vestimentas do período (que se estende até meados dos anos 1970). A única coisa que desperta certo incômodo é a trilha sonora de Thomas Newman (007 - Operação Skyfall), que ao meu ver exagera um pouco nas tomadas mais emotivas do filme, pois sabota parte da força que a imagem e os diálogos possuem por si só ou adianta o sentimento que deveria ser desperto alguns frames (quadros) depois, lembrando um pouco o exagero cometido recentemente por John Williams, no filme Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg. Entretanto, apesar do pequeno incômodo, há acertos na composição de Newman - quando bem dosado, os temas refletem bem o caráter das personagens e da prisão de Shawshank -, o que, consequentemente, não diminui a obra como um todo.
Sensível, bem filmado, dono de um elenco de primeira e contando com algumas interpretações icônicas - Robbins faz o possível para liderar o filme, mas sua opção artística em compor um personagem afastado do comum vez ou outra acaba descaracterizando os demais, o que pode ter sido justamente a intenção do diretor e Freeman, como sempre, acaba por roubar a atenção do colega, tanto é que acabou sendo indicado a diversos prêmio, inclusive ao Oscar, mas destacaria também os trabalhos de Bob Gunton (Argo), desprezível como o diretor da penitenciária (portanto, um grande acerto) e do saudoso James Whitmore, que mesmo com pouquíssimo tempo de tela consegue imprimir sua marca de modo até mesmo a ofuscar o restante do elenco. Um filme de equipe, onde ninguém sobressai de maneira escalonadamente maior que o outro, Um Sonho de Liberdade (ou Redenção em Shawshank, para os puristas) galgou importantes indicações ao Oscar, dentre elas as de filme (perdendo para o também magistral Forrest Gump - O Contador de Histórias) e de roteiro adaptado, não conquistando nenhum, o que não fez a mínima diferença para o sucesso do filme, que permanece até hoje como um dos mais cultuados da cinematografia moderna.
Em memória aos grandes Brooks e Jake.
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