10 julho, 2013

A Morte do Demônio (Evil Dead, EUA, 2013).

"O filme mais aterrorizante que você jamais viu" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Antes de mais nada, é válido destacar que A Morte do Demônio, versão 2013, é um bom longa de horror, recheado de ótimas sacadas visuais e dono de um bom ritmo, que alterna bem os momentos de suspense com aqueles de pura sanguinolência. Sem apostar no humor e no sarcasmo do filme original de 1981, pode-se dizer que esta retomada da franquia dirigida pelo uruguaio Fede Alvarez (curta Ataque de Pânico!) "moderniza" a linguagem do filme original e, se deixa o humor um pouco de lado, é competente no lado gráfico, sendo, ao meu ver, ao lado de O Massacre da Serra Elétrica (versão 2003) e Viagem Maldita (versão 2006) a melhor repaginada de um clássico de horror dos últimos anos.

Contudo, mesmo equilibrado e eficiente naquilo que se propõe, o filme sofre com alguns problemas que incomodam bastante. Primeiramente, o elenco é irregular. Ao mesmo tempo em que temos uma performance interessante de Jane Levy (Nobody Walks), que convence tanto como dependente química - apesar de sua "saúde" e aparência não ajudar em sua composição, mas isto não é uma falha da atriz, mas sim do diretor e do departamento de maquiagem - quanto como "possuída", nos é apresentado também um péssimo trabalho por parte do inexpressivo (visualmente me lembra um Chris Hemsworth - Thor - hispânico) Shiloh Fernandez (A Garota da Capa Vermelha), que não transmite emoção alguma durante todo o filme, à exceção de antipatia. Sinceramente fica difícil compreender o por que da escalação do moço, pois a julgar por sua performance neste filme a ideia que fica é a de que este nem sequer é um ator.

Apesar da premissa utilizada por este A Morte do Demônio ser, até certo ponto, mais verossímil que a do filme original, aos poucos esta impressão vai sendo diluída, especialmente no que se refere à fuga das drogas perpetrada pelos personagens de Fernandez, Lou Taylor Pucci (Os Cavaleiros do Apocalipse), Jessica Lucas (Cloverfield - Monstro) e Elizabeth Blackmore (Burning Man) à personagem de Levy, pois de uma hora para a outra as sequelas da abstinência desaparecem por completo. Mas é certo que o artifício narrativo de provocar confusão nas personagens quanto a veracidade dos ataques da personagem de Levy, sendo automaticamente interpretado pelos demais como mais uma ação derivada da dependência química, encaixa perfeitamente à trama, inclusive dando uma sustentação à trama que o filme de 1981 não possuía.

Se o roteiro, em geral, pode ser saudado como competente, o mesmo não se pode dizer do desenvolvimento das personagens e da coerência narrativa do filme como um todo. Quanto as personagens, à exceção de Mia (Levy), estas não possuem construção, suas personalidades são bastante apagadas - muitas tem como personalidade o estereótipo do figurino, já que não há background das mesmos -, especialmente Natalie (Blackmore), totalmente apagada durante toda a projeção. Outro ponto que acaba por desgastar um pouco o filme diz respeito aos excessos cometidos por Fede Álvarez após a primeira hora de projeção, visto que todo o tom de "seriedade" e "aura" pé no chão é vez ou outra esquecido em cenas onde personagens insistem em não morrer, membros feridos ou decepados não provocam tanta dor assim, como também a força de superação - para não entrar no mérito da incoerência - atinge níveis tão exorbitantes, que a catarse acaba sabotada, tendo o alívio da vitória se transformado em qualquer coisa, menos surpresa.

Em alguns pontos melhor desenvolvido que o filme assinado por Sam Raimi em 1981 - que aqui participa como produtor - e com um valor de produção absurdamente maior, A Morte do Demônio de Fede Álvarez é um bom filme de horror, dono de uma estética bacana, com uma mitologia própria e interessante, recheado de referências aos filmes anteriores (foram três que o precederam) e provocador de sustos e agonia suficientes tanto para os fãs do medo, quanto para os fãs do gore. Pode perder um pouco a mão em sua resolução, especialmente por se afastar do que vinha sendo desenvolvido - me refiro a coerência - até então, mas o faz de forma bem cuidada, visto que não estraga tudo o que fora construído até então.

Sem o humor do original e com uma pegada mais próxima aos filmes de horror pós-2000 (geração Jogos Mortais), pelo menos esteticamente, A Morte do Demônio é uma obra eficiente e bem dirigida, que consegue envolver o espectador em sua mitologia e manter o seu interesse por praticamente toda a jornada, apesar do elenco (em geral) fraco e da "porralouquice" de seu encerramento. Por fim, registro que, se o filme não tivesse aquele prólogo desnecessário - no meu ponto de vista, o mesmo acaba por abrandar o impacto das cenas posteriores -, certamente seria ainda mais visceral.

Obs.: Para os fãs da franquia, após os créditos há uma cena extra que fará os mais entusiasmados urrarem (mesmo que, narrativamente, seja dispensável).

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