"Parte homem. Parte máquina. Totalmente tira" (Adaptação da frase contida no poster).
Um dos filmes mais cultuados dos anos 1980, RoboCop - O Policial do Futuro é a primeira incursão do cineasta holandês Paul Verhoeven (O Homem Sem Sombra) em terras norte-americanas e consiste numa ficção-científica recheada de ação e com altas doses de sarcasmo e ironia, além de ser possuidora de um visual apurado e único. Como (quase) todo filme de Verhoeven, a violência é bastante presente à produção. Porém, esta surge tanto como personagem quanto como integrante do cenário apresentado do filme, pois encontra-se amarrada à trama de forma natural, sendo um dos elementos que conduzem a narrativa do filme rumo a consecução dos seus objetivos.
Sem apostar em um elenco de astros, Verhoeven opta aqui por trabalhar com atores e atrizes (à época) não tão conhecidos, mas que conseguem transmitir emoções e "credibilidade" em uma realidade bastante estilizada, sem que as faces dos mesmos chamem mais atenção do que o ambiente distópico apresentado. Do intérprete do policial Alex Murphy e futuro RoboCop, Peter Weller (Mistérios e Paixões), e sua (por pouco tempo) parceira Lewis (Nancy Allen, de Vestida para Matar), passando pelos icônicos vilões Clarence Boddicker (Kurtwood Smith, da série That 70's Show) e Dick Jones (Ronny Cox, de O Vingador do Futuro), praticamente todo o elenco é muito bem posto no filme, encaixando-se à perfeição na Detroit futurista (mas não tanto) apresentada pelo diretor holandês. Temos de um lado a caricatura e os histrionismos dos vilões (Cox e Smith) em contraponto a frieza e uma certa aura de inocência dos heróis (Murphy e Lewis), o que tanto ratifica o viés estilizado da obra, como também ajuda a fixação destas personagens no subconsciente do espectador, pois suas personalidades, seja esta de mocinho ou de bandido, são percebidas de forma imediata, independentemente destes terem seus passados revelados.
(Bom) elenco à parte, o que salta aos olhos neste blockbuster tipicamente oitentista (no mais do que bom sentido) é o seu visual arrojado (a equipe de desenho de produção, figurino, maquiagem e efeitos especias estão de parabéns), o roteiro recheado de referências (da cultura - leia-se mangé/anime - japonesa à alegorias cristã-religiosas) e bem redondinho - a cargo da dupla Edward Neumeier (Tropas Estelares) e Michael Miner (O Passageiro do Futuro 2) -, além dos diálogos poderosos, caricaturais e recheados de frases de efeito, mas que são apresentados numa mistura tão orgânica e crível que funcionam perfeitamente , não tirando o espectador em momento algum da ilusão de realidade - pelo menos momentânea - apresentada pelo filme. A bem verdade entrar no mundo de RoboCop é uma viagem sensacional.
Sem dúvida alguma o estilo visceral e a técnica apurada de Paul Verhoeven é a cereja do bolo em RoboCop e certamente sem o mesmo o filme não seria (nem se consagraria) como o que é. Da abertura em formato de telejornal à primeira exposição do antagonista robótico ED-2009, passando pelo plano sequência que apresenta o personagem Alex Murphy, pela cena que foca os primeiros passos do ciborgue (tomada subjetiva), além da execução daquele - uma das cenas mais viscerais da história do cinema -, é certo que o holandês tem a faca e o queijo na mão e, com grande naturalidade e competência, costura com técnica apurada e muita criatividade a coleção de referências (e sangue, muito sangue) que é RoboCop. Verhoeven literalmente "cospe na cara" do público e da crítica e orquestra uma ópera sanguinolenta acerca de um salvador (in)humano em uma cidade tomada pela violência urbana e pela doença do consumismo desenfreado, que entra em choque com seus "princípios robóticos" ao buscar justiça e encontrar humanidade. Os temas abraçados por RoboCop são inúmeros e merecem maior espaço de discussão - indico a audição do podcast do portal Os Cinéfilos acerca do filme -, mas acredito ter instigado a curiosidade que fomentará o debate.
Ainda no âmbito técnico é impossível não destacar a trilha sonora original composta e executada pelo grande Basil Poledouris (Conan, o Bárbaro), que consegue a façanha de criar temas recheados de sintetizadores e harmonias à lá anos 1980, mas que em momento algum soam datados - bastante similar ao efeito conseguido por filmes como Laranja Mecânica e Blade Runner - ou irritantes, pelo contrário, reforçam o caráter atemporal do filme, funcionando hoje tão bem quanto à época de seu lançamento. Mais um ponto forte nesta já exemplar produção. É certo que este longa marcou a infância de muitos garotos nascidos e criados na década de 1980 (me incluo entre eles) e muito disto advém do poder de convencimento despertado pelas notas desta trilha sonora, que ao meu ver, ao lado daquela do filme De Volta para o Futuro, é a mais marcante dentre os títulos de ficção-científica lançados daquela década.
Crítica direta a sociedade de consumo norte-americana (que hoje, mais de 25 anos após seu lançamento, continua relevante e se expande a praticamente toda sociedade ocidental e grande parte da oriental), a estupidificação desta e a tecnologia como muleta das imperfeições humanas (o filme não demoniza a tecnologia como essência, mas faz um corte incisivo quanto a má utilização desta pela humanidade, especialmente no âmbito bélico), dentre outros assuntos de grande relevância moral, RoboCop é um raro produto de entretenimento que consegue sagrar-se eficaz tanto como entretenimento para as massas - não à toa o filme foi um grande sucesso de bilheteria e conquistou público de todas as idades, apesar da óbvia violência gráfica (não gratuita) - quanto como parábola de questionamento social, o que por si só o coloca em destaque dentre outras obras que só alcançam um destes importantes atributos ambicionados por todo cineasta minimamente interessado em sucesso, seja em qual nível for.
AVALIAÇÃOSem apostar em um elenco de astros, Verhoeven opta aqui por trabalhar com atores e atrizes (à época) não tão conhecidos, mas que conseguem transmitir emoções e "credibilidade" em uma realidade bastante estilizada, sem que as faces dos mesmos chamem mais atenção do que o ambiente distópico apresentado. Do intérprete do policial Alex Murphy e futuro RoboCop, Peter Weller (Mistérios e Paixões), e sua (por pouco tempo) parceira Lewis (Nancy Allen, de Vestida para Matar), passando pelos icônicos vilões Clarence Boddicker (Kurtwood Smith, da série That 70's Show) e Dick Jones (Ronny Cox, de O Vingador do Futuro), praticamente todo o elenco é muito bem posto no filme, encaixando-se à perfeição na Detroit futurista (mas não tanto) apresentada pelo diretor holandês. Temos de um lado a caricatura e os histrionismos dos vilões (Cox e Smith) em contraponto a frieza e uma certa aura de inocência dos heróis (Murphy e Lewis), o que tanto ratifica o viés estilizado da obra, como também ajuda a fixação destas personagens no subconsciente do espectador, pois suas personalidades, seja esta de mocinho ou de bandido, são percebidas de forma imediata, independentemente destes terem seus passados revelados.
(Bom) elenco à parte, o que salta aos olhos neste blockbuster tipicamente oitentista (no mais do que bom sentido) é o seu visual arrojado (a equipe de desenho de produção, figurino, maquiagem e efeitos especias estão de parabéns), o roteiro recheado de referências (da cultura - leia-se mangé/anime - japonesa à alegorias cristã-religiosas) e bem redondinho - a cargo da dupla Edward Neumeier (Tropas Estelares) e Michael Miner (O Passageiro do Futuro 2) -, além dos diálogos poderosos, caricaturais e recheados de frases de efeito, mas que são apresentados numa mistura tão orgânica e crível que funcionam perfeitamente , não tirando o espectador em momento algum da ilusão de realidade - pelo menos momentânea - apresentada pelo filme. A bem verdade entrar no mundo de RoboCop é uma viagem sensacional.
Sem dúvida alguma o estilo visceral e a técnica apurada de Paul Verhoeven é a cereja do bolo em RoboCop e certamente sem o mesmo o filme não seria (nem se consagraria) como o que é. Da abertura em formato de telejornal à primeira exposição do antagonista robótico ED-2009, passando pelo plano sequência que apresenta o personagem Alex Murphy, pela cena que foca os primeiros passos do ciborgue (tomada subjetiva), além da execução daquele - uma das cenas mais viscerais da história do cinema -, é certo que o holandês tem a faca e o queijo na mão e, com grande naturalidade e competência, costura com técnica apurada e muita criatividade a coleção de referências (e sangue, muito sangue) que é RoboCop. Verhoeven literalmente "cospe na cara" do público e da crítica e orquestra uma ópera sanguinolenta acerca de um salvador (in)humano em uma cidade tomada pela violência urbana e pela doença do consumismo desenfreado, que entra em choque com seus "princípios robóticos" ao buscar justiça e encontrar humanidade. Os temas abraçados por RoboCop são inúmeros e merecem maior espaço de discussão - indico a audição do podcast do portal Os Cinéfilos acerca do filme -, mas acredito ter instigado a curiosidade que fomentará o debate.
Ainda no âmbito técnico é impossível não destacar a trilha sonora original composta e executada pelo grande Basil Poledouris (Conan, o Bárbaro), que consegue a façanha de criar temas recheados de sintetizadores e harmonias à lá anos 1980, mas que em momento algum soam datados - bastante similar ao efeito conseguido por filmes como Laranja Mecânica e Blade Runner - ou irritantes, pelo contrário, reforçam o caráter atemporal do filme, funcionando hoje tão bem quanto à época de seu lançamento. Mais um ponto forte nesta já exemplar produção. É certo que este longa marcou a infância de muitos garotos nascidos e criados na década de 1980 (me incluo entre eles) e muito disto advém do poder de convencimento despertado pelas notas desta trilha sonora, que ao meu ver, ao lado daquela do filme De Volta para o Futuro, é a mais marcante dentre os títulos de ficção-científica lançados daquela década.
Crítica direta a sociedade de consumo norte-americana (que hoje, mais de 25 anos após seu lançamento, continua relevante e se expande a praticamente toda sociedade ocidental e grande parte da oriental), a estupidificação desta e a tecnologia como muleta das imperfeições humanas (o filme não demoniza a tecnologia como essência, mas faz um corte incisivo quanto a má utilização desta pela humanidade, especialmente no âmbito bélico), dentre outros assuntos de grande relevância moral, RoboCop é um raro produto de entretenimento que consegue sagrar-se eficaz tanto como entretenimento para as massas - não à toa o filme foi um grande sucesso de bilheteria e conquistou público de todas as idades, apesar da óbvia violência gráfica (não gratuita) - quanto como parábola de questionamento social, o que por si só o coloca em destaque dentre outras obras que só alcançam um destes importantes atributos ambicionados por todo cineasta minimamente interessado em sucesso, seja em qual nível for.
Mais Informações:
Bilheteria:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!