16 julho, 2013

O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, EUA, 1968).


Um das ficções-cientificas mais aclamadas de todos os tempos, O Planeta dos Macacos encontra-se no rol das produções "light", cujo foco tende mais para a aventura do que pela discussão cerebral, mas isso não impede que a mesma tenha uma forte carga dramática, seja recheada de discursos de cunho político, levante questionamentos acerca da condição humana à época - que, infelizmente, permanecem até então - e uma ambientação caprichada, que transporta o espectador a um planeta distinto, mas ao mesmo tempo bastante próximo ao nosso. Dirigido pelo até então pouco conhecido Franklin J. Schaffner (Patton - Rebelde ou Herói) e estrelado pelo astro Charlton Heston (Ben-Hur), a obra adaptada do romance do francês Pierre Boulle (também autor do best-seller A Ponte do Rio Kwai) permanece factível até hoje, muito devido a à força de seu discurso e construção narrativa, além do seu âmbito estético, em especial ao ainda hoje incrível trabalho de maquiagem capitaneado pelo mestre John Chambers (Star Trek).

Chega a ser ao mesmo tempo gratificante e nostálgico acompanhar a primeira meia hora de projeção de O Planeta dos Macacos, pois se por um lado a longa sequência iniciada no monólogo crítico declamado pelo astronauta Taylor (Heston) e o passeio deste junto aos seus dois companheiros de viagem, Landon e Dodge, ratificam a necessidade de um bom filme em construir com propriedade a ambientação e as particularidades de seus personagens principais, antes de apresentar os conflitos, é notório que a cultura defendido pelo cinema de hoje já não respeita este timing, pois esta acredita que a atenção do espectador será perdida. Sendo assim, a nostalgia despertada neste bom início do filme é sentida de forma mais do que positiva, pois, modismo à parte, comprova que as boas obras cinematográficas não datam jamais, especialmente no âmbito narrativo.

Tecnicamente o filme é muito bem realizado, sendo que a direção de arte, figurino e efeitos de maquiagem obviamente ganham destaque. Entretanto, apesar de não "aparecer" tanto, o trabalho de fotografia de Leon Sharmoy (Cleópatra), aliado a direção segura de Franklin J. Schaffner é que dão verosimilhança aos elementos citados, alem de serem responsáveis pela ambientação do filme. Os planos abertos no deserto, a sequência de ataque da cavalaria de gorilas aos humanos selvagens e o desfecho à praia são apenas alguns dos grandes acertos da dupla Sharmoy/Schaffner. A trilha sonora composta pelo mestre Jerry Goldsmith (Alien, o 8º Passageiro) se destaca, tanto pelo seu caráter original - o experimentalismo de Goldsmith é notório - quanto pelo clima de urgência que a mesma desperta, aspecto importantíssimo ao sentimento de paranoia e incômodo pretendido pelo filme.

Apesar de não ter a atuação como foco - a trama é o cerne do filme -, é impossível não aplaudir os esforços dos intérpretes de Zaius, Zira e Cornelius, respectivamente Maurice Evans (O Bebê de Rosemary), Kim Hunter (Uma Rua Chamada Pecado) e Roddy McDowall (O Terceiro Dia), que esbanjam carisma e personalidade através de camadas de látex e pelos. Soma-se aos três o imponente James Whitmore (Um Sonho de Liberdade), que aqui interpreta o orangotango que preside a assembleia que avalia o forasteiro Taylor, papel este que Heston defende com bastante disposição. 

Quando comparado com a obra original de Pierre Boulle, obviamente alguns elementos saem enfraquecidos, especialmente quanto ao sentido metafórico da sociedade símia, que nada mais é do que um paralelo à sociedade ocidental da década de 1950. Porém, mesmo não mostrando-se tão fiel, o roteiro de Rod Serling (série Além da Imaginação) e Michael Wilson (A Ponte do Rio Kwai) mantém a essência do livro de Boulle, estabelecendo bons paralelos de cunho político e social. É óbvio que o fato da comunidade símia ter o inglês como idioma padrão força um bocado, mas tal "apelação" não chega a diminuir a substância do filme.

Eficiente tanto como aventura quanto como comentário social, O Planeta dos Macacos é um filme inteligente, sem deixar de lado sua aura de entretenimento, dono de uma qualidade visual que salta aos olhos - se analisarmos a época em que o mesmo foi lançado, a surpresa é ainda maior - e bastante crível, cuja trama não soa datada e é possuidor de um desfecho até hoje impactante. Originador de uma franquia, o filme estrelado por Charlton Heston sobrevive sozinho, pois apesar de deixar um possível gancho, apara as arestas e entrega um encerramento factível, que ratifica toda a simbologia da obra.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!