04 agosto, 2013

Tempo de Matar (A Time to Kill, EUA, 1996).

"Um advogado e sua assistente lutando para salvar um pai de um julgamento de homicídio. Um momento de questionamento sobre o que eles acreditam. Um momento de dúvida quanto ao que eles confiam. Sem tempo algum para cometer erros" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Talvez a melhor adaptação cinematográfica de obras do best-seller John Grisham (A Firma, O Cliente), Tempo de Matar une com propriedade uma história envolvente e política, um elenco afiado, bom senso de ritmo e uma direção inspirada, a cargo do desafeto de muitos - mesmo sendo dono de uma filmografia exemplar, pelo menos até meados dos anos 2000 -, Joel Schumacher (Número 23). Tocando fundo a ferida da segregação social no sul dos Estados Unidos - no caso do filme, o quase sempre malfadado estado do Mississípi - através da metáfora do julgamento (jurisdicional, social, moral, político), a adaptação do roteirista Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante) é eficiente, pecando apenas na caracterização de alguns personagens (a exemplo daquele interpretado por Oliver Platt), exagerando na estereotipização. 

É interessante que o filme ainda mantém o vício hollywoodiano de "hierarquização de celebridades" na disposição dos créditos iniciais, pois, apesar deste ser protagonizado pelo até então desconhecido Matthew McConaughey (Killer Joe - Matador de Aluguel), seu nome é precedido pelo de dois outros astros bastante em voga à época, mas cujos papeis, apesar de importantes, não podem ser considerados como de protagonistas. São estes os de Sandra Bullock (Crash - No Limite) e de Samuel L. Jackson (Django Livre). Obviamente tal escolha não influencia na qualidade do filme, mas não deixa de ser um aspecto incômodo, no sentido de como é distinto o pensamento artístico do marketing hollywoodiano.

Contando com pequenas (e ótimas participações) de nomes como Donald Sutherland (Jogos Vorazes),  Ashley Judd (Possuídos), Patrick McGoohan (Coração Valente), Brena Fricker (Meu Pé Esquerdo) e Kiefer Sutherland (Cidade das Sombras) - ratificando o destaque que as atuações tem neste filme - ao lado dos desempenhos inspirados (e inspiradores, por que não) de McConaughey e L. Jackson (este, inclusive, recebedor de uma indicação ao Globo de Ouro pelo papel), Tempo de Matar sobressai as convenções do gênero, especialmente quando toca a ferida - cujo escopo é mais do que conhecido - do preconceito racial e dos limites éticos e morais que envolvem uma justiça praticada por brancos em território de ampla população negra. Para não dizer que o filme, no que se refere a escalação de elenco, é impecável, afirmo que não gostei da performance de Kevin Spacey (Se7en, os Sete Crimes Capitais) como o promotor de justiça e, consequentemente, vilão assumido da obra. Apesar de reconhecer o talento do ator (e gostar do mesmo), sua composição excessivamente clichê - agente da justiça irônico, impotente e dotado de excesso de confiança - destoa um pouco do restante do filme, além de ajudar a prever a grande derrota (judicial e, principalmente, moral) do mesmo no desfecho.

Há quem considere o encerramento do filme excessivamente "bonzinho", opinião com a qual não concordo, pois a sensação de recompensa dada pelo mesmo serve apenas como paradoxo a todo o debate ético e étnico desenvolvido até então. Todavia, concordando ou não com este desfecho, creio ser impossível não ser tocado pelo discurso poderoso entoado pelo personagem de Matthew McConaughey, que coroa não apenas o grande trabalho do ator, como também sintetiza todo o contexto abraçado pelo filme.

Dirigido com pulso forte e de forma contundente por Schumacher, Tempo de Matar é daqueles filmes cujo argumento esperto - inclusive uma das forças motriz deste reside no poder da argumentação - e o peso de suas atuações - Spacey a parte - o transformam em um produto acima da média, já que dramas jurídicos temos aos montes, só que estes raramente conseguem tocar sem que se tornem menos inteligentes ou acabem por deixar a coerência de lado e o longa de Schumacher, felizmente, não se encontra nesse grupo, pois encontra-se numa prestigiada posição de equilíbrio, sendo acima de tudo um grande filme, independentemente de ser caracterizado de jurídico ou não jurídico. 

AVALIAÇÃO
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