02 agosto, 2013

Wolverine: Imortal (The Wolverine, EUA/AUS, 2013).


Uma coisa é certa, esta segunda incursão solo do mutante mais famoso do universo Marvel no cinema conseguiu tirar o gosto ruim deixado pelo seu filme anterior. Sequência quase direta do terceiro filme da então trilogia X-Men, O Confronto Final, Wolverine: Imortal (The Wolverine, no original) é uma obra interessante e ao mesmo tempo diferente de todas as outras que circundam o universo mutante (leia-se: X-Men) nos cinemas. Apostando mais na construção dos personagens e tendo a ação como elemento condutor da narrativa, não o contrário, o filme dirigido pelo eclético e competente James Mangold (Os Indomáveis) consegue ao mesmo tempo dar um novo (e bom) recomeço ao personagem, como também construir uma história independente das demais, mesmo mantendo óbvias ligações com a franquia X-Men. É engraçado que, mesmo com um orçamento mais enxuto que o de X-Men Origens: Wolverine, de 2009, a impressão dada pelo filme é justamente o contrário, especialmente pelas lutas bem coreografadas, inclusive algumas destas à luz do dia.

Tendo como ponto de partida a busca de Logan por redenção (Hugh Jackman, de Os Miseráveis), os roteiristas Mark Bomback (O Vingador do Futuro, versão 2012) e Scott Frank (Minority Report: A Nova Lei) amarram com propriedade a minissérie em quadrinhos Eu, Wolverine, de Chris Claremont e Frank Miller a iconografia da franquia cinematográfica dos X-Men, resultando assim numa adaptação coerente da história original ao universo pré-moldado do cinema. Entretanto, talvez por força dos produtores, em certos momentos a coerência narrativa é deixada de lado, em detrimento da busca cega por cenas de ação, que incluem quase que a totalidade do último ato do filme, cujo estilo diverge do adotado pelo filme até então - sai o intimismo da melancolia e dor emanada por Logan e entra o carnaval pirotécnico, com direito a um robô gigante! -, culminando em uma reviravolta um tanto óbvia e um rearranjo quanto a conceituação do personagem-título.

Sendo assim, fica claro que o filme possui, em um mesmo escopo, duas vertentes distintas, mesmo que uma destas só seja abraçada na ponte de ligação para o desfecho do mesmo que, através de um olhar mais crítico, pode ser completamente descartada, já que a trama poderia ter sido resolvida a contento alguns minutos antes. Realmente o choque de estilos no filme é grande, tendo a carga "super-heroística" de seu desfecho descaracterizado um pouco toda a construção de personagem (sim, mais do que qualquer outro, esse filme é sobre o personagem Wolverine) até então. Ao meu ver, o final do filme foi readequado para que este pudesse retomar certos elementos que futuramente serão abordados na continuação seguinte da franquia X-Men, na qual Wolverine é cadeira cativa, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, a ser lançado em 2014 (aspecto ratificado pela cena extra contida após os créditos principais do filme).

Para mim, isto não funcionou bem, nem contribuiu de forma positiva ao desenvolvimento lógico do filme, que perdeu em tensão, suspense e certa filosofia (muito branda, comparada a disposta nas HQs do personagem), visto que optou pelo retorno das cores berrantes e do antagonismo mutante (a personagem Víbora, interpretada pela "atriz" Svetlana Khodchenkova) e pelo desafio físico final do personagem, que enfrenta uma espécie de cyborg moderninho cuja casca é uma armadura samurai (o filme sugere que este seria o Samurai de Prata). Tal distração é um baita deslize, pois rompe o ótimo equilíbrio apresentado pelo filme até então, que apostava em elementos de ação, drama, suspense e certo alivio cômico, mas no limite do exagero, dando a impressão de que a proposta da obra se encontrava mais próxima do thriller de ação do que do gênero assumidamente super-herói.

Mesmo que os efeitos digitais das garras continuem a não convencer em todas as cenas - um coisa curiosa, levando em conta a suposta facilidade na criação de tal efeito, em comparação a um universo de outros que são dispostos no filme de maneira mais realista -, no restante do filme estes são bem empregados, inclusive na animação do dito Samurai de Prata. Porém, o que mais salta aos olhas não são as pirações digitais, mas sim os truques de efeitos práticos e as coreografias de lutas, que formam um conjunto bacana e agregam bastante à narrativa do filme e as pretensões do enredo. Sequências de ação como a da luta entre Logan e alguns agentes da yakuza em cima de um trem bala em movimento - que me lembrou bastante a contida no filme Missão: Impossível, de 1996 - só funciona a contento pelo uso reduzido de computação gráfica, outra lição aprendida pelos produtores após o fiasco de X-Men Origens: Wolverine. A montagem do filme - a cargo de Michael McCusker, de O Espetacular Homem Aranha - é bem realizada e a fotografia de Ross Emery (Anjos da Noite 3: A Rebelião) mostra-se eficiente, especialmente na dupla missão de destacar o personagem principal e a arquitetura japonesa (tanto nos anos 1940, em plena II Guerra, quanto nos dias de hoje), que foi emulada pela Austrália e em estúdios. Por fim, destacaria a trilha sonora original composta por Marco Beltrami - repetindo a parceria com Mangold após o filme Os Indomáveis -, que mescla bem elementos da música nipônica a temas que evocam o então perturbado mutante, estabelecendo assim uma boa unidade sonora que, ao meu ver, resulta melhor que os dos filmes anteriores, apesar de não possuir um tema que marque de primeira.

Mais interessante quando menos exagera, Wolverine: Imortal conseguiu dar um novo gás ao personagem, mesmo que a selvageria e inconsistência de humor deste ainda esteja longe da apresentada pelo mesmo nas história em quadrinhos. Certamente o diretor James Mangold é um dos responsáveis, ao lado do sempre disposto e competente Hugh Jackman, pela amadurecência proposta pelo filme, que quase consegue ser bem sucedido como um corte em relação a mesmice que os filmes da linha X-Men - à exceção do ótimo X-Men: Primeira Classe - estavam tomando, sendo apenas sabotado pela sua resolução, que por um lado amarra algumas pontas soltas deixadas durante o desenvolvimento da trama, mas por outro abre demais a mão, proporcionando em tela um espetáculo inchado em demasia se comparado com o restante do filme. O saldo positivo de Wolverine: Imortal é bastante positivo, mas seu encerramento deixa um gosto levemente amargo na boca, o que aumenta ainda mais quando me recordo que este filme iria ser comandado pelo autoral Darren Aronofsky (Cisne Negro). Mangold é um cara competente, mas Aronofsky é competente e desbravador, o que resulta em um baita diferencial. 

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