Um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema argentino (foram contabilizados mais de 1 milhão de espectadores que assistiram ao filme), Teses Sobre um Homicídio é um thriller psicológico eficiente, cuja temática envolve tanto o universo jurídico do país - grande parte do filme é ambientada nas dependências de uma faculdade de Direito, além do protagonista ser um advogado e professor de grande reconhecimento - quanto o crime, este, obviamente, conectado a abstrações e teorias acerca do universo do direito penal. Adaptado por Patricio Vega (Meu Primeiro Casamento) do livro homônimo de Diego Paszkowski, a formatação do filme lembra bastante as produções norte-americanas, especialmente na forma de dirigir de Hernán Goldfrid (Música en Espera).
Seguramente alardeado por se tratar da mais recente obra estrelada pelo ótimo Ricardo Darín (O Segredo dos seus Olhos), Tese Sobre um Homicídio possui qualidades suficientes para transcender o nome do ator, pois funciona tanto como filme de gênero - para mim, uma das particularidades que o atual cinema argentino possui e que o cinema brasileiro poderia tomar como exemplo - quanto como "cinema autoral", resultando assim em um casamento bem azeitado entre os dois "estilos". Com isso, não quero dizer que este é um filme impecável, mas é competente como entretenimento e levanta alguns questionamentos importantes. Ademais, apesar de se fazer interessante por si só, o filme só ganha uma nova camada devido à participação de Darín, que mesmo limitado a um arquétipo pré-definido, agrega bastante dramaticidade ao seu personagem e, respectivamente, ao filme.
Estilisticamente o filme de Goldfrid me lembra um casamento entre Brian De Palma (Vestida para Matar) e David Fincher (Se7en, os Sete Crimes Capitais), tendo uma fotografia que remete à obras deste, enquanto alguns enquadramentos e inclusive toda uma sequência - a que envolve uma "perseguição" em uma galeria de arte - são puro De Palma. O diretor de fotografia Rolo Pulpeiro (Um Conto Chinês) reproduz com propriedade a visão-homenagem de Goldfried, agregando também seu próprio estilo, contribuindo assim para que tais elementos não surjam desconexos à ambientação do filme ou até mesmo como caricaturas do cinema de Fincher e De Palma. Outro ponto relevante a se destacar é a música incidental composta por Sergio Moure (El Cuerpo), que opta por uma orquestração minimalista, recheada de notas dissonantes, que se encaixa muito bem à proposta de confusão sugerida pelo filme, sendo assim competente em sua missão de mediar o clima da obra.
Um ponto relativamente fraco do filme se encontra na escalação do elenco principal. À exceção de Darín, tanto Alberto Ammann (Lope) quanto Calu Rivero não convencem por completo em seus respectivos papéis, sendo o primeiro "maduro" demais para o papel de estudante (mesmo que seja de um curso de especialização), enquanto a segunda, apesar da beleza, não convence dramaticamente. Há uma cena bastante importante para a progressão narrativa do filme, onde ocorre um embate entre as personagens de Rivero e Darín, porém a atriz não convence, soando falso sua expressão de medo e desespero. Certamente pesou o fato deste ter sido o primeiro trabalho da atriz na mídia cinema (esta vinha realizando trabalhos na tevê), pois seu problema é distinto do de Ammann, ator já bastante requisitado, mas que infelizmente não encaixou bem ao papel, mesmo que este seja reconhecidamente talentoso.
Apesar de possuir um andamento relativamente lento, mas que gera interesse principalmente pela presença quase que onipresente de Ricardo Darín - é fantástico observar a decadência física e psicológica que o ator emprega ao seu personagem no decorrer do filme -, Tese Sobre um Homicídio sagra-se como um bom filme, cujos problemas não interferem de forma drástica na ideia central da obra. De caça ao assassino o filme passa a tratar das consequências da fixação, da paranoia e, de certa forma, da esquizofrenia, dispondo em tela mensagens visuais que ecoam a dúvida: trata o filme da realidade concreta visualizada pelo personagem de Darín e somente por ele (uma espécie de despertar não seguido por aqueles que estão ao seu entorno) ou qualifica este como um homem perdido em suas abstrações, tão aficionado por uma tese, cuja concretude parece existir apenas para ele.
A ênfase do filme ao destacar as garrafas de Whisky vazias na casa de Roberto (Darín) e os seguidos copos da mesma bebida entornados cena a cena pelo personagem dão margem a duvidar-se quanto à veracidade dos fatos levantados pelo mesmo, dando ao filme um caráter propositalmente dúbio, que só vem a se confirmar em seu desfecho óbvio para alguns e incômodo para outros, o que por si só já vale a conferida. Tese Sobre um Homicídio não opta pela originalidade, mas convence mesmo ao apostar em uma possível mesmice e, se nada disso te convencer a assistir ao filme, concluo com apenas duas palavras: Ricardo Darín.
AVALIAÇÃO
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