O que me fez querer conferir Os Penetras (que, na minha opinião, deveria se chamar "Os Vigaristas" ou "Os Golpistas", já que o mote do personagem de Adnet e cia. não é simplesmente "invadir" festas glamourosas, mas sim aplicar golpes) foi o fato do filme ser dirigido por Andrucha Waddington, realizador de filmes celebrados como Lope, Casa de Areia e Eu, Tu, Eles, pois geralmente não me sinto atraído pela estética (e ética, por que não) das comédias comerciais brasileiras que aportam periodicamente nos cinemas, especialmente aquelas carimbadas pelo selo Globo Filmes (talvez a exceção sejam os filmes assinados pelo Claudio Torres, talvez), tanto pela estética televisiva de sua maioria, quanto pela falta de novidade de seus enredos, que passam longe da subversão ou da reverência aos clássicos, sendo a grosso modo bastante estéreis. Todavia, apesar deste Os Penetras ser um filhote da Globo Filmes, o fato de ter como idealizador o "autoral" Waddington e contar com a presença do talentoso Marcelo Adnet como protagonista dão um certo diferencial ao filme, que mesmo utilizando uma estrutura similar a de outros filmes da produtora carioca, consegue soar mais orgânico e interessante.
A trama recheada de desencontros escrita por Marcelo Vindicatto (O Palhaço) - baseada em argumento do próprio Andrucha Waddington - não sai do lugar comum, repetindo a velha história de encontro entre um trambiqueiro carioca (Adnet) e um jovem inocente do interior (Eduardo Sterblitch, o ponto fraco da dupla) participando de "altas aventuras" na alta sociedade carioca. Seria pequeno de minha parte afirmar que o filme se reduz a isso, pois é notório o tanto de improviso empregado ao roteiro por parte da dupla Adnet/Sterblitch, sendo os momentos de descontração do primeiro os de maior respiro do filme. Não sei quais seriam as influências de Adnet como ator/comediante, mas em sua composição de Marco Polo Azevedo (nome fantasia de seu personagem) vejo muito de Jim Carrey e Steve Carrell, dois dos mais competentes e versáteis comediantes cinematográficos das duas últimas décadas.
Como todo produto da Globo Filmes, as "participações especiais" (tal classificação só parece existir no Brasil, assim como "grande elenco") de nomes como Luiz Carlos Miele (A Casa da Mãe Joana), Luiz Gustavo (O Casamento de Romeu e Julieta), Andrea Beltrão (Salve Geral), Susana Vieira (Xuxa e os Duendes 2 - No Caminho das Fadas) e Stepan Nercessian (Memórias Póstumas) recheiam o caldo do filme, sendo alguns destes bem vindos, outros de pouca importância, todavia o que importa destacar é que a fórmula continua a mesma. Outro nome de relativa importância à trama é o de Mariana Ximenes (A Máquina), que compõe aqui a femme fatale, a melhor sedutora e misteriosa responsável por juntar os personagens de Adnet e Sterblitch. Pena que seu papel tem uma importância reduzida, sendo pouquíssimo desenvolvida, já que se apoia basicamente em seus atributos físicos.
Outro diferencial da produção encontra-se na técnica aplicada, pois, apesar de certos vícios narrativos, a composição do filme é mais cinematográfica que televisiva, muito graças ao bom trabalho do diretor de fotografia Ricardo Della Rosa (O Passado) e da montagem de Sérgio Mekler (Eu e Meu Guarda Chuva), que juntos adequam a estética e o ritmo do longa ao ambiente para o qual foi originalmente concebido: a sala de cinema. Logo, apesar da essência mista do projeto, a "pegada" cinematográfica prevalece, ajudando o fortalecimento do produto final do filme.
Inicialmente pensava que Os Penetras se tratava de uma versão tupiniquim das comédias norte-americanas atuais, especialmente do hit Penetras Bons de Bico, todavia, apesar de alguns ecos entre ambas as obras, Os Penetras tem cara própria, mesmo que aproximada da tendência atual das comédias nacionais. Espécie de "bromance" tupiniquim, o filme de Andrucha Waddington tem seus prós e contras, pois se formos analisarmos como o novo trabalho do diretor, certamente este ficaria entre os mais fracos de sua filmografia, mas visualizando-o como um produto encomendado (tem toda a cara), este até que não faz feio, pois consegue ser engraçado em diversos momentos (apesar do apático e super-estimado Eduardo Sterblitch), sem que para isso apele para o vocabulário chulo, as referências ultra-machistas ou o pastelão desenfreado (Sterblitch até tenta puxar esse lado, mas felizmente Adnet não entra na onda). Os Penetras não é um grande filme, mas diverte pontualmente (apesar das obviedades do roteiro), é tecnicamente bem elaborado e, sem sombra de dúvidas, supera qualitativamente a safra de comédias acéfalas nacionais dos últimos anos.
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