01 outubro, 2013

King Kong (EUA, 1976).

"O  filme evento mais excitante de todos os tempos". (Livre tradução da frase nada pretensiosa disposta no poster promocional do filme)
Apesar de em alguns momentos possuir um gorila gigante mais próximo ao risível que ao aterrador, esta primeira refilmagem de King Kong é bem construída e dirigida, possui um bom elenco e, efeitos especiais ultrapassados a parte, convence a maior parte do tempo, tendo o seu primeiro ato (pré-descoberta da besta símia) como destaque, pois além de estabelecer a dinâmica da obra como um todo, nos apresenta aos personagens de Jeff Bridges (Tron, o Legado) e Jessica Lange (Cabo do Medo), provavelmente o maior atrativo (ao lado de Kong) do filme. Dirigido com esmero por John Guillermin (Morte no Nilo), King Kong é mais uma das produções grandiloquentes capitaneadas pelo italiano Dino de Laurentiis e, ao contrário de outros títulos assinados pelo mesmo, esta é interessantíssima.

É perceptível o cuidado estético da produção, que dispôs de um orçamento (à época) generoso e sagrou-se como um dos maiores sucessos de bilheteria no ano de 1976, mas se o roteiro não funcionasse minimamente esta poderia ser caracterizada como uma obra bem feita, mas esquecível, o que, no meu ponto de vista, não acontece. Certamente esta versão não é tão icônica quanto o filme original de 1933 ou muito menos tão épica quanto a versão dos anos 2000, dirigida por Peter Jackson. Todavia, mesmo não sendo imbatível ou referência maior, o filme de John Guillermin é bem construído, empolga e emociona.

Vencedor do Oscar de melhores efeitos especiais (Carlo Rambaldi, Glen Robinson e Frank Van der Veer) e indicado as categorias de fotografia (Richard H. Kline, de Jornada nas Estrelas: o Filme) e som (Harry W. Tetrick, William L. McCaughey, Aaron Rochin e Jack Solomon), além de ter levado a estatueta no Globo de Ouro de melhor atriz revelação (Jessica Lange), King Kong traz, além de uma atualização do filme de 1933 (a ambientação do filme de Guillermin se dá na própria década de 1970, inclusive o destaque dado a indústria petrolífera - no caso do filme, a Petrox - reflete bem tal período sócio-político-econômico), bastante reverência a clássico conto francês A Bela e a Fera, elemento este que futuramente viria a ser extrapolado no filme de Peter Jackson.

É sempre bacana redescobrir obras cujo aparato de ilusão sob a égide dos efeitos visuais se dá sem nenhuma influência das técnicas digitais (CGI), apostando apenas na construção artesanal destes, cuja magia se dá através de efeitos de luz, do uso de maquetes e do trabalho de composição da equipe de maquiagem, especialmente dos responsáveis pela criação do gorila gigante, que funciona (no que se refere a autenticidade) na maior parte do tempo. É válido destacar que quem acabou interpretando Kong foi o maquiador Rick Baker (Videodrome, a Síndrome do VídeoHomens de Preto, Planeta dos Macacos), que posteriormente viria a ser reconhecido como um dos melhores profissionais da área.

Ao lado do carisma dos protagonistas, da fotografia charmosa de Richard H. Kline e da condução acertada de Guillermin, talvez o grande destaque do filme se encontre na trilha sonora ao mesmo tempo épica e doce composta e arranjada por John Barry (responsável por algumas das mais icônicas trilhas da franquia 007, tais quais Moscou Contra 007 e 007 A Serviço de Sua Majestade, dentre outras). Ao conferir o filme torna-se impossível dissociar som de imagem, inclusive alguns dos temas (em especial o referente a morte do personagem título) possuem o poder de permanecerem gravados à mente do espectador mesmo após o encerramento do filme. Certamente a sensibilidade e o cuidado de Barry no ao casar imagem e som deu vazão a um ótimo trabalho, sagrando-se assim como um dos maiores acertos do filme.

É bacana constatar que tanto Jeff Bridges quanto Jessica Lange já externavam seus talentos neste filme, lembrando que King Kong marcou a estreia de Lange no cinema. Não há grande profundidade no desenvolvimento destes personagens por parte do roteirista Lorenzo Semple Jr. (Papillon), mas ambos acabam se encaixando bem aos arquétipos do aventureiro inteligente e da donzela em perigo não muito inteligente. Lange esbanjava mais beleza do que nunca, enquanto Bridges se servia do estilo "machão sensível". Por fim, o fato é que a dupla esbanja carisma e nos ajuda a comprar a ideia fantasiosa do filme.

Possuidor de uma trama simples, mas eficiente e empolgante, King Kong não é lá bem quisto atualmente - apesar de, à época de seu lançamento, ter sido laureado com boas críticas de gente do porte de Pauline Kael e Roger Ebert -, mas é certo que cumpriu a função de entretenimento fantástico muito bem e encontra-se longe de ser categorizado como um filme ruim ou de possuir elementos thrash (no mau sentido). Dono de uma produção cuidadosa, de uma trama bem amarrada e de uma montagem eficiente, King Kong pode não ser hoje considerado como um primor no que tange aos efeitos visuais, mas funciona como filme por si só, apesar das produções de 1933 e 2005.

Obs.: Havia conferido este filme quando criança, mas confesso que já não me lembrava de quase nada. Agora, com o saldo mais do que positivo após revê-lo, irei atrás de sua sequência (esta assim malhada por crítica e público), que viria a ser lançada exatos dez anos após este filme, em 1986. Tomara que não seja tão ruim assim...

AVALIAÇÃO
TRAILER

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