31 outubro, 2013

O Grande Gatsby (The Great Gatsby, EUA/AUS, 2013).


Não aprecio muito o trabalho do diretor Baz Luhrmann (Romeu & JulietaMoulin Rouge - Amor em Vermelho, Austrália), nunca tive curiosidade em ler F. Scott Fitzgerald, nem gosto de novelas ou tramas novelescas, mas devo admitir que achei O Grande Gatsby, mais recente adaptação da celebrada obra de Fitzgerald, um filme interessante, que mesmo entre acertos e enganos funciona bem, muito graças ao apuro estético do quase sempre exagerado Luhrmann (sim, ele comete alguns excessos aqui) e ao empenho do elenco, que consegue dar um mínimo de coerência a uma trama, digamos, pouco profunda (fato!). Há todo um simbolismo por trás do filme (acredito que da obra literária também) e este talvez seja seu maior trunfo, o que o faz sair do lugar comum, ir além do repetitivo carnaval de cores comandado por Luhrmann.

Possuidor de um elenco estelar, encabeçado pelo sempre competente Leonardo DiCaprio (A Origem, Django Livre) como Jay Gatsby e completado por nomes como Tobey Maguire (Desconstruindo Harry), Carey Mulligan (Shame), Joel Edgerton (A Hora Mais Escura), Jason Clarke (Os Infratores) e Isla Fisher (A Origem dos Guardiões),  a obra chama a atenção de imediato pela boa presença em cena destes, especialmente quando devidamente caracterizados como (à exceção de Clarke e Fisher) membros da elite novaiorquina do início do século XX. Em sua maioria, o elenco aposta numa caracterização de personagens mais próxima à caricatura, tendo apenas DiCaprio uma postura mais próxima ao realismo, mesmo que vem ou outra acompanhemos um desempenho um tanto surtado do mesmo, o que remete a outros célebres personagens do astro, como O Aviador ou Ilha do Medo. Infelizmente falta um pouco de brilho à interpretação de Carey Mulligan, mas sua personagem, Daisy Buchanan, apesar da relevância tem tão pouco tempo em cena que esta falta de química entre ela e DiCaprio não incomoda tanto. Já Tobey Maguire surpreende bastante, dando uma substância inesperada a seu Nick Carraway, primo de Buchanan e "amigo" de Gatsby. A bem verdade reside no personagem dele e no Gatsby de DiCaprio os maiores atrativos do filme, já que são estes os responsáveis pelo andamento da trama.

O texto do filme ficou a cargo de Luhrmann e seu parceiro desde Vem Dançar Comigo, Craig Pearce e o mesmo carrega boas e más escolhas. No âmbito narrativo ele se mostra interessante, inclusive contendo alguns diálogos formidáveis - diálogos estes criados pela dupla ou aproveitados do romance original, não saberia dizer - e um bom desenvolvimento de personagens (para uma novela de época, claro), porém, as tendências "modernosas" do diretor continuam a me incomodar, pois ao meu ver não servem a narrativa proposta, muito pelo contrário, tiram o espectador do filme, o que ao meu ver é no mínimo incoerente. Complementam esta tendência "modernosa" de Luhrmann a inclusão de canções contemporâneas pelo compositor Craig Armstrong (O Preço do Amanhã), que sedimentam o sentimento de expulsão por parte do filme. Tal opção mostra-se até bem vinda nos filmes Romeu & Julieta e Moulin Rouge - Amor em Vermelho, mas aqui (pelo menos para mim) não funciona.

Se o estilo Luhrmann teima em tirar parte do brilho próprio da adaptação da obra máxima de Fitzgerald, o aparato estético do filme o recompõe. Direção de arte, figurinos, maquiagem, fotografia e efeitos visuais encontram-se brilhantes, sendo prejudicados apenas quando o diretor opta por "inovar" ao apresentar enquadramentos com ângulos estranhos ou se excede na "modernização" de seus planos, o que acaba dando um ar artificial a obra, que já sofre pelo clima falso-lúdico contido na crítica do autor da obra e é aumentada pelas decisões "visionárias" do diretor. Muitos comentavam que O Grande Gatsby cairia como luva ao estilo Baz Luhrmann de dirigir. Particularmente não vejo assim, pois apesar do australiano ter feito (no geral) um bom trabalho, fica a impressão de que um diretor de estilo mais clássico e menos afeito a linguagem de videoclipe poderia ter feito um trabalho ainda melhor.

Celebrado antes de seu lançamento como um dos possíveis candidatos ao Oscar 2014, O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann - apesar do apuro estético e das boas atuações -, parece não ter gás suficiente para galgar as indicações mais importantes da premiação (filme, direção, ator e atriz), muito devido a falta de novidade - narrativa, técnica e, por que não, estética - proposta por Luhrmann, que apenas inclui referências modernas a romântica, clássica e ultrapassada (no bom sentido) obra de Fitzgerald, entregando assim numa noveleta água com açúcar que celebra o vazio da elite de sangue azul dos Estados Unidos em meados de 1920. Há certo respiro de profundidade na condução de Leonardo DiCaprio ao seu Jay Gatsby, mas tal abordagem não é abraçada com segurança pelo diretor, que prefere se perder nos devaneios de seu carnaval de cores e tecidos finos. Uma pena.

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Obs.: Não vi o filme em 3D, mas pelas imagens assistidas em 2D fica a impressão de que o filme deve ter ficado incrível em três dimensões. Quem assistiu em 3D, por favor, escreva suas impressões nos comentários.

AVALIAÇÃO
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