"A inocência acaba" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Primeiro filme em língua inglesa do cineasta sul-coreano Park Chan-wook (Oldboy), Segredos de Sangue é mais um filme que associa o amadurecimento e a transformação da adolescência para a idade adulta sob a metáfora do horror, no sentido do descobrimento da aptidão natural e da "liberdade" do ato de viver. Mais próximo a uma fábula do que ao realismo, o filme roteirizado pelo ator Wentworth Miller (série Prison Break) chama a atenção logo de cara por seu clima melancólico e ritmo pausado, mas não chega a envolver tanto devido ao pouco aprofundamento de seus personagens. É claro que tal opção narrativa se deu de maneira proposital, mas esta só acaba funcionando devido a ótima coleção de imagens desfiladas por Chan-wook e seu diretor de fotografia, Chung Chung-hoon (Sede de Sangue).
Apesar de não se tratar de um filme de vampiro, há um pouco de Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan - baseado em obra de Anne Rice - e de Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson - adaptação de um romance de John Ajvide Lindqvist - em Segredos de Sangue, especialmente na ambientação, que é aprofundada paulatinamente enquanto a trama é desenvolvida, abraçando mais pela sugestão do que a verborragia. Dono de imagens belíssimas, é inegável que o apuro estético é um dos pontos de destaque do filme, mas a história também guarda seu charme, mesmo sem trazer grandes surpresas. Com um estilo mais próximo ao dos thrillers europeus e asiáticos do que dos títulos norte-americanos, o filme estrelado por Mia Wasikowska (Jane Eyre), Matthew Goode (Watchmen - O Filme) e Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade) pode demorar a engrenar, mas carrega bons momentos e, de certa forma, ganha o espectador a partir do segundo ato.
A eterna promessa Mia Wasikowska ainda não me convenceu como atriz, mas é certo que ela se encaixa muito bem no papel da jovem deslocada Índia Stoker, trazendo apatia e melancolia suficiente a sua personagem - em alguns momentos o texto de Miller parece exagerar um pouco no "autismo" da desta -, cujo poder de despertar sentimentos tão antagônicos, tais quais empatia e repulsa, sugerem a qualidade da atuação/personagem (ou talvez a falta de direcionamento do texto de Miller, mas prefiro ficar com a primeira opção).
A oscarizada Nicole Kidman continua boa atriz, mas dessa vez não encaixa-se bem no papel da viúva perua, pois falta organicidade em sua composição, o que não chega a atrapalhar o filme (até por que sua personagem não tem tanta importância ao desenvolvimento da trama), mas é de longe a parte mais fraca do mesmo (some-se a isso o preenchimento labial da atriz que continua a causar estranhamento e, consequentemente, contribui para tirar o expectador - pelo menos eu - da ambientação construída pelo filme).
Por fim, a grande surpresa no elenco é Matthew Goode, que constrói seu personagem como um misto de cavalheiro sedutor e forasteiro misterioso, dando um charme extra ao mesmo, apostando numa interpretação minimalista que vai evoluindo paulatinamente, até a grande "descoberta" a partir do segundo ato do filme. Wasikowska pode ter se encaixado feito luva a sua personagem, mas o grande destaque no âmbito de atuação é Goode.
Ao lado da composição poético-visual do filme, outro elemento que merece destaque é a trilha sonora assinada por Clint Mansell (Cisne Negro), que ajuda a construir a tensão e a sedimentar o clima de mistério da obra, casando à perfeição as imagens captadas por Chung-hoo e Chan-wook. Eterno parceiro do cineasta Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho), Mansell parece ter encontrado um segundo diretor para uma possível parceria, pois é inegável a organicidade de sua trilha ao filme construído por Park Chan-wook.
Mais exercício estético que filme de mistério, Segredos de Sangue funciona principalmente por nunca abraçar o realismo, investindo no tom fabular em busca da reflexão acerca do dilema disposto entre seguir a própria natureza ou bloquear a ela e seus instintos. Apesar do ritmo lento, é certo que o texto de Miller funciona, muito graças a condução de Chan-wook e ao "encaixe" do elenco (à exceção de Kidman) ao filme, e que este, mesmo sem carregar inovações conceituais, funciona em sua proposta, provocando reflexões ao mesmo tempo em que entretém, mesmo que de maneira lenta e paulatina. Segredos de Sangue não é um grande filme, mas tem seu charme e merece a conferida.
Apesar de não se tratar de um filme de vampiro, há um pouco de Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan - baseado em obra de Anne Rice - e de Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson - adaptação de um romance de John Ajvide Lindqvist - em Segredos de Sangue, especialmente na ambientação, que é aprofundada paulatinamente enquanto a trama é desenvolvida, abraçando mais pela sugestão do que a verborragia. Dono de imagens belíssimas, é inegável que o apuro estético é um dos pontos de destaque do filme, mas a história também guarda seu charme, mesmo sem trazer grandes surpresas. Com um estilo mais próximo ao dos thrillers europeus e asiáticos do que dos títulos norte-americanos, o filme estrelado por Mia Wasikowska (Jane Eyre), Matthew Goode (Watchmen - O Filme) e Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade) pode demorar a engrenar, mas carrega bons momentos e, de certa forma, ganha o espectador a partir do segundo ato.
A eterna promessa Mia Wasikowska ainda não me convenceu como atriz, mas é certo que ela se encaixa muito bem no papel da jovem deslocada Índia Stoker, trazendo apatia e melancolia suficiente a sua personagem - em alguns momentos o texto de Miller parece exagerar um pouco no "autismo" da desta -, cujo poder de despertar sentimentos tão antagônicos, tais quais empatia e repulsa, sugerem a qualidade da atuação/personagem (ou talvez a falta de direcionamento do texto de Miller, mas prefiro ficar com a primeira opção).
A oscarizada Nicole Kidman continua boa atriz, mas dessa vez não encaixa-se bem no papel da viúva perua, pois falta organicidade em sua composição, o que não chega a atrapalhar o filme (até por que sua personagem não tem tanta importância ao desenvolvimento da trama), mas é de longe a parte mais fraca do mesmo (some-se a isso o preenchimento labial da atriz que continua a causar estranhamento e, consequentemente, contribui para tirar o expectador - pelo menos eu - da ambientação construída pelo filme).
Por fim, a grande surpresa no elenco é Matthew Goode, que constrói seu personagem como um misto de cavalheiro sedutor e forasteiro misterioso, dando um charme extra ao mesmo, apostando numa interpretação minimalista que vai evoluindo paulatinamente, até a grande "descoberta" a partir do segundo ato do filme. Wasikowska pode ter se encaixado feito luva a sua personagem, mas o grande destaque no âmbito de atuação é Goode.
Ao lado da composição poético-visual do filme, outro elemento que merece destaque é a trilha sonora assinada por Clint Mansell (Cisne Negro), que ajuda a construir a tensão e a sedimentar o clima de mistério da obra, casando à perfeição as imagens captadas por Chung-hoo e Chan-wook. Eterno parceiro do cineasta Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho), Mansell parece ter encontrado um segundo diretor para uma possível parceria, pois é inegável a organicidade de sua trilha ao filme construído por Park Chan-wook.
Mais exercício estético que filme de mistério, Segredos de Sangue funciona principalmente por nunca abraçar o realismo, investindo no tom fabular em busca da reflexão acerca do dilema disposto entre seguir a própria natureza ou bloquear a ela e seus instintos. Apesar do ritmo lento, é certo que o texto de Miller funciona, muito graças a condução de Chan-wook e ao "encaixe" do elenco (à exceção de Kidman) ao filme, e que este, mesmo sem carregar inovações conceituais, funciona em sua proposta, provocando reflexões ao mesmo tempo em que entretém, mesmo que de maneira lenta e paulatina. Segredos de Sangue não é um grande filme, mas tem seu charme e merece a conferida.
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