"Uma noite por ano, todo crime é permitido. Sobreviva a noite de 31 de maio" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
A premissa de Uma Noite de Crime (no original, The Purge, algo como o expurgo) é mais interessante do que seu resultado final como filme, o que é uma grande tristeza pois ele tinha bastante potencial. Escrito e dirigido por James DeMonaco (Cidade do Crime), o filme é ambientado em um futuro próximo e tem como premissa a exploração de uma nova forma de conter o ímpeto à violência humana: uma vez ao ano, durante doze horas, a prática de qualquer tipo de crime é liberada àqueles que queiram "desanuviar" corpo e mente. Tal medida é tida como muito bem-sucedida pelos especialistas e pela opinião pública, mas é óbvio que a coisa foge ao controle, sendo justamente isto que o filme tenta trabalhar. Infelizmente, não passa da tentativa.
O início do filme é promissor, pois estabelece com propriedade um pouco da sociedade futurista perfeita ao apresentar um bairro de classe alta norte-americano juntamente ao protagonista da obra, o vendedor do mais popular dispositivo de segurança existente, interpretado por Ethan Hawke (A Entidade). O desenvolvimento do núcleo familiar do personagem - sua esposa (Lena Headey, de Dredd) e dois filhos - é correto, como também as peculiaridades de cada um destes, sendo inclusive lançada a ideia de hipocrisia no íntimo desta família. Contudo, com o avançar do filme a sutileza é deixada de lado, dando a vês a violência explícita e o vazio de ideias. É claro que para uma produção que apresenta o estravar da violência somado a permissividade por um prazo determinado de tempo deve focar nos atos de violência, mas esta deve estar relacionada a um ponto de discussão, a uma mensagem de cunho reflexivo. Infelizmente DeMonaco acaba por esquecer disso, o que transforma uma boa premissa em um festival de sangue, muita correria e pouquíssima propriedade.
Esteticamente a produção também não é das mais atrativas, pois abraça o cansado "estilo" câmera na mão, tendência esta que encontra-se bastante saturada, especialmente quando utilizada em filmes de horror/suspense. É claro que DeMonaco consegue criar algumas boas sequências e mantém o clima de tensão contínuo do início ao fim do filme, mas não estabelece um diferencial relevante no âmbito visual e, como dito acima, também não sustenta com propriedade o conceito apresentado pelo filme, dando um caráter raso a uma obra que pedia bem mais profundidade. Para ser sincero do meio para o final o filme nota-se uma desconexão entre a mensagem defendida pela obra, o que inclusive leva a um questionamento ético: o filme defende ou é contrário a barbárie apresentada em tela? DeMonaco não deixa claro, o que, ao meu ver, é um baita perigo.
Um filme cujo potencial foi desperdiçado, Uma Noite de Crime está mais próximo das sequências de Jogos Mortais e suas cópias do que de uma ficção-científica de horror recheada de ideias e questionamentos, escolha esta que diminui a obra, já que sua premissa pedia um desenvolvimento mais profundo e menos escatológico. Sucesso mundo afora, certamente o filme de James DeMonaco ganhará uma sequência - a fórmula pouquíssimo custo, muita arrecadação continua em alta -, mas tendo em vista a decepção sentida ao acompanhar o filme original, certamente não terei o mínimo interesse em acompanhá-la. Se necessitar conferir uma bobagem regada a violência pela violência é melhor rever este, concorda?
O início do filme é promissor, pois estabelece com propriedade um pouco da sociedade futurista perfeita ao apresentar um bairro de classe alta norte-americano juntamente ao protagonista da obra, o vendedor do mais popular dispositivo de segurança existente, interpretado por Ethan Hawke (A Entidade). O desenvolvimento do núcleo familiar do personagem - sua esposa (Lena Headey, de Dredd) e dois filhos - é correto, como também as peculiaridades de cada um destes, sendo inclusive lançada a ideia de hipocrisia no íntimo desta família. Contudo, com o avançar do filme a sutileza é deixada de lado, dando a vês a violência explícita e o vazio de ideias. É claro que para uma produção que apresenta o estravar da violência somado a permissividade por um prazo determinado de tempo deve focar nos atos de violência, mas esta deve estar relacionada a um ponto de discussão, a uma mensagem de cunho reflexivo. Infelizmente DeMonaco acaba por esquecer disso, o que transforma uma boa premissa em um festival de sangue, muita correria e pouquíssima propriedade.
Esteticamente a produção também não é das mais atrativas, pois abraça o cansado "estilo" câmera na mão, tendência esta que encontra-se bastante saturada, especialmente quando utilizada em filmes de horror/suspense. É claro que DeMonaco consegue criar algumas boas sequências e mantém o clima de tensão contínuo do início ao fim do filme, mas não estabelece um diferencial relevante no âmbito visual e, como dito acima, também não sustenta com propriedade o conceito apresentado pelo filme, dando um caráter raso a uma obra que pedia bem mais profundidade. Para ser sincero do meio para o final o filme nota-se uma desconexão entre a mensagem defendida pela obra, o que inclusive leva a um questionamento ético: o filme defende ou é contrário a barbárie apresentada em tela? DeMonaco não deixa claro, o que, ao meu ver, é um baita perigo.
Um filme cujo potencial foi desperdiçado, Uma Noite de Crime está mais próximo das sequências de Jogos Mortais e suas cópias do que de uma ficção-científica de horror recheada de ideias e questionamentos, escolha esta que diminui a obra, já que sua premissa pedia um desenvolvimento mais profundo e menos escatológico. Sucesso mundo afora, certamente o filme de James DeMonaco ganhará uma sequência - a fórmula pouquíssimo custo, muita arrecadação continua em alta -, mas tendo em vista a decepção sentida ao acompanhar o filme original, certamente não terei o mínimo interesse em acompanhá-la. Se necessitar conferir uma bobagem regada a violência pela violência é melhor rever este, concorda?
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