23 dezembro, 2013

A Maldição de Chucky (Curse of Chucky, EUA, 2013).


Quando criança, pensava como criança e, por extensão, compreendia e interpretava filmes como criança. Quando criança, gostava bastante da trilogia Brinquedo Assassino, assistindo e reassistindo aos filmes sempre que tinham oportunidade. Hoje estes filmes já não encontram-se tão forte no meu repertório cinematográfico, mas é fato que a magia que os mesmos transmitiam aquela criança continua viva de alguma forma. O grande barato dos filmes de 1988, 1990 e 1991 era que estes, apesar da improbabilidade de sua premissa, carregavam o horror como sua bandeira primeira (mesmo que a ironia fosse uma constante). No final dos anos 1990 foi lançada uma nova sequência, A Noiva de Chucky, que dividiu opiniões e, de certa forma, foi responsável por escancarar uma nova forma de se enxergar a série de filmes, agora como uma peça de humor politicamente incorreto - à época gostei do filme, mas já sentia algo diferente no ar -, o que só veio a ser confirmado com a sequência seguinte, O Filho de Chucky, uma comédia horrível (no mau sentido, lógico). Com o fracasso de crítica e público obtido por este último filme, o potencial da franquia de Don Mancini (roteirista dos primeiros quatro filmes e diretor do último, além de pai das personagens) caiu por terra, até que, sabe-se lá como, o mesmo Mancini conseguiu convencer a Universal Pictures a bancar um novo filme com Chucky, desta vez retomando o foco no terror. Resultado: mesmo que inferior ao filme original (que, sejamos sinceros, já não era um grande filme), nota-se que A Maldição de Chucky traz parte do clima do início da franquia e, no geral, é uma baita homenagem aos slasher movies oitentistas.

Contando com um péssimo elenco, enredo simplório, sustos fáceis (alguns eficientes) e diálogos paupérrimos (tudo isso proposital, acredito eu), A Maldição de Chucky nada mais é do que um revival turbinado dos melhores títulos do terror adolescente dos anos 1980, embalado com o "melhor" que a tecnologia atual de efeitos especiais (práticos e digitais) podem oferecer. O fato do filme se passar quase que totalmente em um único ambiente (um casarão um tanto afastado da civilização), além de confirmar o baixo orçamento da obra, acaba lembrando a franquia Jogos Mortais, que ficou conhecida por se restringir a pouquíssimos ambientes. Tal opção (se é que não foi imposição) acaba deixando o filme com uma cara de piloto de seriado, mas, em contraponto, a direção segura (diria até mesmo elegante) de Mancini equilibra esta cara televisiva do filme, especialmente pelo bom posicionamento de câmera e pela utilização de traveling e grua em algumas sequências.

Dentre os membros do elenco temos pelo menos um nome que desperta curiosidade (e que talvez seja o que traz a melhor "atuação"), Fiona Dourif (O Mestre), nada menos que a filha de Brad Dourif (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres), o Chucky em pessoa. A moça até que manda bem em sua composição da paralítica Nica, não devendo nada a Jamie Lee Curtis (blasfêmia?) e demais gritadoras mor do horror, mostrando que não é apenas um rostinho bonito. Dourif pai também volta com tudo, dando credibilidade as falas infames do boneco Chucky com sua entonação de voz (redundância?) impecável. É impagável ouvir sua gargalhada conectada ao terror mais uma vez. Os demais que surgem em cena servem bem como cadáveres, nada mais que isso.

Além da boa direção de Don Mancini, destacaria a trilha sonora composta por Joseph LoDuca (A Morte do Demônio, série Spartacus), que consegue estabelecer um clima bacana ao filme, tanto nos momentos de suspense quanto naqueles onde o choque gráfico ganha a vez. O departamento de maquiagem do filme também surpreende, além dos efeitos (especialmente os práticos) do filme mostrarem-se eficientes. O roteiro de Mancini, apesar de previsível, mostra-se adequado especialmente por tentar, mesmo que nem sempre de forma crível, conectar este filme aos demais da franquia, almejando assim consertar a mitologia Chuckyniana. Se o mesmo é feliz, cabe a cada um de nós decidir, mas é óbvio que o diretor tentou remendar as diversas pontas soltas da franquia após tantos filmes.

Mesmo lançado diretamente no formato video-on-demand e dvd/bluray, A Maldição de Chucky fez bastante sucesso, inclusive motivando uma sequência a ser lançada nos próximos anos. É correto afirmar que este não é um grande título de terror, mas só o fato de ter-se tentado retomar alguns elementos que perpassavam a franquia em seu período de formação o transformam num produto no mínimo interessante. A Maldição de Chucky não esconde a cara de "filme para tevê" - se fosse o piloto de uma série, certamente teria me despertado a acompanhá-la regularmente -, mas funciona bem, mesmo a trancos e barrancos. Não espere grandes surpresas ou uma trama mirabolante - na verdade, o filme é uma baita bobagem, mas deve agradar aqueles que, como eu, são crias do cinema de horror da década de 1980 -, mas sim um filme direto e surreal, assim como foi o original de 1988.

AVALIAÇÃO
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