"Vivendo o sonho. Um assalto de cada vez" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).Ainda referenciada como filha do cineasta Francis Ford Coppola, este o responsável por pelo menos cinco (para alguns quatro) clássicos da história do cinema - a trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now e A Conversação -, até hoje a esforçada Sofia Coppola (Em Lugar Qualquer) não conseguiu mostrar, com propriedade, a que veio. Parte do público e da crítica a enxergam como subestimada, já outros a consideram superestimada. Particularmente me encaixo na segunda corrente e com isso, adianto, não quero dizer que Sofia não é uma boa diretora e uma roteirista interessante, longe disso, mas sou partidário da tese de que esta ainda tem muito a provar, especialmente analisando com cuidado cada um de seus filmes lançados até então.
A premissa de Bling Ring - A Gangue de Hollywood - o Brasil e seus subtítulos "explicativos" - é interessante, ainda mais por ter como ponto de partida um evento real, registrado em um artigo jornalístico publicado pela revista Vanity Fair. Todavia, o roteiro estruturado por Sofia Coppola não consegue empregar camadas a trama que envolve jovens de classe média alta que decidem, pelos mais fúteis motivos - nunca sequer sugeridos pelo filme -, decidem assaltar algumas mansões de celebridades hollywoodianas, que residem na mítica Califórnia, como Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Megan Fox e Paris Hilton. Não fica claro se a cineasta "apoia" a ação do grupo (no sentido de corroborar com as "motivações" da gurizada) ou se opõe-se a mesma, pois a forma com que o roteiro é posto e a narrativa é desenvolvida não deixam isso claro, muito pelo contrário, acaba por despertar certa apatia pela história em si.
Coppola conseguiu reunir um elenco bacana, formado em sua maioria por rostos novos - os mais conhecidos são, certamente, Emma Watson (franquia Harry Potter, Sete Dias com Marilyn) e Lesie Mann, a senhora Judd Apatow - e os encaixa de forma minimamente interessante à trama, mas não vai além, não explora a possível complexidade do relacionamento entre a tal "gangue", nem sequer o círculo familiar de cada um de seus membros. Muito pelo contrário pois, à exceção da personagem de Mann, não há quase nenhum espaço para os demais familiares no filme. A bem verdade, apesar de não ser monótono, a a obra parece não seguir uma linha de evolução, mostrando uma série de assaltos até a óbvia "captura" da garotada pelo departamento de polícia. Daí, somos apresentados a momentos de desconstrução da verdade, onde cada um dos membros da intitulada Gangue de Hollywood entrega uns aos outros. Este último ato, responsável pela resolução do filme, também poderia ter mostrado bem mais densidade.
Por outro lado, se a decupagem e estruturação do roteiro merece ressalvas, é válido aplaudir as escolhas de Coppola como diretora, especialmente no que se refere à composição de planos, escolhas de lentes e montagem, dando uma cara "documental" ao filme, direcionando ao espectador um olhar voyeurístico, que casa bem muitíssimo bem com a proposta primeira do filme. Logo, é possível notar que Sofia Coppola sabe filmar, mas sua habilidade como roteirista ainda deve ser aprimorada, o que não deixa de ser irônico, já que esta abocanhou o Oscar de melhor roteiro original por Encontros e Desencontros.
Esteticamente interessante, mas dono de um conteúdo duvidoso, The Bling Ring - A Gangue de Hollywood ainda não é a obra que alçará Sofia Coppola ao rol dos grandes nomes do cinema - seja este mainstream ou indie -, independentemente da turma que endeusa a filha de Francis Ford berrar o contrário. Este filme me fez lembrar de outros dois que, apesar de possuírem certa importância - e, consequentemente, um séquito de fãs -, ao meu ver, não necessitariam existir: Elefante, de Gus Van Sant e 127 Horas, de Danny Boyle. Para mim, estes, juntamente a Bling Ring, apesar de retratarem eventos (altamente) dramáticos inspirados na realidade, não conseguiram atingir o equilíbrio entre cinema e realidade pretendido.
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