07 março, 2014

Até o Fim (All is Lost, EUA, 2013).


Competindo com Gravidade pela atenção do público norte-americano em outubro do ano passado, não é apenas mercadologicamente que Até o Fim, produção dirigida por J. C. Chandor (Margin Call - O Dia Antes do Fim) e estrelada por Robert Redford (Sem Proteção) guarda ecos com o filme sensação de 2013, já que, apesar da ambientação e do objetivo distinto, há uma grande intersecção entre os assuntos discutidos por ambos os filmes, especialmente o binômio solidão-sobrevivência. Assim como o filme dirigido por Alfonso Cuarón, Até o Fim sai da moldura "confortável" do filme convencional ao proporcionar mais do que uma experiência audiovisual, mas também um rico debate filosófico-existencial conjugado no imagético da obra e nos eventos desdobrados através da luta contra a fúria da natureza, havendo então pouquíssimo espaço para falas no filme, além da inexistência de diálogos.

Este exercício de sobrevivência conduzido pelo jovem e promissor J. C. Chandor deve muito a entrega de Robert Redford, que transborda carisma apesar da falta de background de seu personagem, além das linhas de texto serem praticamente nulas - à exceção de uma fala em off no início do filme e de um par de fucks, além de uma série de mayday, o único som que ouvimos no filme se dá através do mar e do barco onde o personagem se encontra -. A angústia transmitida por Redford é construída de forma paulatina, nos dando a impressão de que a esperança de sobrevivência - o personagem, além de sozinho, encontra-se à deriva com um barco danificado, sem comunicação para com "terra firme" e enfrentando verdadeiras provações devido ao constante mau tempo - vai sendo decomposta aos poucos, até chegarmos ao desfecho catártico sensacional, onde a entrega pode muito bem tornar-se uma segunda chance. Preterido pelo Oscar, a atuação de Redford foi lembrada por diversos outros festivais e premiações, tendo inclusive sido escolhido como melhor ator do ano pelos críticos de Nova York.

Como conduzir um filme sem diálogos e com música pontual (outra característica que o aproxima de Gravidade) sem apenas explorar um ator de qualidade? Trabalhando muito bem o desenho de produção (John P. Goldsmith, de Onde os Fracos Não Têm Vez) e a direção de arte (Marco Niro, de Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo), os efeitos especiais práticos e os efeitos visuais digitais (afinal de contas, a natureza tem papel fundamental na história contada), que são captados e amplificados pelas lentes de Frank G. DeMarco (Um Por Todas e Todas por Um) e Peter Zuccarini (A Letter to True) - o último contribui bastante com seu olhar de documentarista - e, talvez o elemento mais importante (não à toa acabou sendo o único lembrado pela Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood) de uma obra como esta: o som. Logo, merecem congratulações Brandon Proctor (Amor Bandido), Richard Hymns (Lincoln) e Steve Boeddeker (Killer Joe - Matador de Aluguel) - o primeiro editor de som, enquanto os demais foram responsáveis pela mixagem de som), cujo ótimo trabalho ajuda a sedimentar o clima e o sentimento de impotência proposto pelo filme.

Pouco visto, mas muitíssimo bem comentado, Até o Fim chega aos cinemas brasileiros com quase cinco meses de atraso em relação aos lançamento no mercado norte-americano, mas é daquele tipo de filme que ganha absurdamente quando visto numa tela de cinema. Lento e pouco dinâmico, certamente Até o Fim não é uma obra que ganhará o grande público, visto que, apesar de não ser complexa, exige que o espectador esteja conectado com sua proposta de discussão e estética, não sendo assim um filme de fácil assimilação, pois carrega questionamentos que devem ser refletidos após o surgimento da tela preta. Particularmente fui capturado por esse exercício cinematográfico concebido por J. C. Chandor, mas admito que a experiência aqui apresentada não agradará a todos.

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TRAILER

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