08 junho, 2012

Amores Brutos (Amores Perros, MEX, 2000).


Primeiro trabalho como diretor de cinema de Alejandro González Iñárritu (Biutiful), Amores Brutos é um filme visceral, de contornos pessimistas, que trata o ser humano como vítima de suas próprias ações, causador de sua realidade, animaliza-o, testa-o, o desconstrói sem pudor. Praticamente três filmes em um,  visto que são três as tramas apresentadas, unidas através de vínculos sutis no que tange a participação das personagens em todas elas, mas extremamente uniformes e coerentes no que se refere à temática e ao ambiente apresentado, um misto de miséria e caos, de inconformidade e pobreza e, como o título do filme referencia, a animalização do homem e a humanização do animal (em especial, do cachorro), metaforizando de forma poética - porém exageradamente expositiva - a decadência do homem vítima de um sistema perverso que o mesmo criou.

Apesar de um ou outro sub-texto político, em especial o personagem de Emilio Echevarría (E Sua Mãe Também), ex-professor universitário que se torna guerrilheiro e hoje encontra-se "mendigo", a essência de Amores Brutos é a análise e o registro social, apresentando um painel devastador e pessimista da periferia e de um grande centro urbano no México, expondo dor e angústia de forma orgânica, ao mesmo tempo em que transmite esperança através do enfoque em tais sentimentos, resultando quase que em um caleidoscópio paradoxal.  No âmbito visual (e um pouco do temático), o filme guarda aproximações para com o nosso Cidade de Deus, apesar do estilo de filmagem distinto de Iñárritu e de Fernando Meirelles.

Amores Brutos tem como ponto de conexão entre as tramas um acidente automobilístico, conta com excelentes performances de Gael Garcia Bernal (O Passado), Goya Toledo, Álvaro Guerrero e do anteriormente citado Echevarría, apresenta a primeira parceria entre o diretor Alejandro González Iñárritu e o roteirista Guillermo Arriaga - que viria a ser rompida apenas no filme Biutiful -, além de apresentar a estrutura estilística que viria a ser marca registrada da dupla, sendo prontamente "evoluídas" nas produções posteriores de ambos, 21 Gramas e Babel. Premiado com o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeiro - além de ser indicado e vencedor de diversas outras premiações -, Amores Brutos é um filme marcante, profundo e sem "papas na língua", que parte do princípio do incômodo visual para estabelecer conexão direta com o espectador e mostrar "beleza" artística num ambiente tão sujo e decrépito como o mostrado no filme. Em resumo, Amores Brutos não preocupa-se em apresentar as causas dos atos, atitudes ou eventos, mas sim as consequências dos mesmos num ambiente que guarda ecos com o nosso.

AVALIAÇÃO: 
Trailer:


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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