31 março, 2013

Amor (Amour, ALE/AUS/ FRA, 2012).

Devastador, altamente inteligente e surpreendentemente bem realizado. Uma obra-prima (David Calhoun, Time Out).
Este é um filme dotado do mais alto grau de inteligência e perspicácia (Peter Bradshaw, The Guardian).
Haneke é confirmado como o principal diretor europeu de sua geração (Donald Clarke, The Irish Times).
Compassivo, uma obra-prima (Jamie Graham, Total Film).  
Tradução dos comentários de críticos de cinema dispostos no cartaz oficial do filme. 

Amor, de Michael Haneke (A Fita Branca) foi um dos filmes mais elogiados de 2012, saindo vencedor de prêmios importantíssimos como a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro, além de ter concorrido neste a melhor filme do ano, melhor atriz (Emmanuelle Riva, de Hiroshima, meu Amor), melhor roteiro original e melhor direção (ambas a cargo de Haneke). Profundo e objetivo, esta pequena obra-prima "engana" a partir de seu título, que é desconstruído de maneira hercúlea pela indesejada doença (física e mental) que toma o casal interpretado por Riva e Jean-Louis Trintignant (de Z) - cuja interpretação foi curiosamente ignorada pela Academia Norte-Americana de Artes Cinematográficas (vulgo Oscar) -, colocando assim a prova qualquer conceito, preconceito ou paradigma acerca da completude de um relacionamento.

É certo que este não é, nem de longe, o mais angustiante ou incômodo dos trabalhos de Haneke, cineasta este interessadíssimo no estudo do ser humano e em seus comportamentos, utilizando para isso um olhar clínico e de cunho recorrentemente negativista. E este olhar não falta a Amor, apenas surge de maneira mais intimista, subjetiva, mas não menos incômoda. É notório que a sociedade ocidental possui a cultura de idealizar eventos desejados, ignorar mazelas e incutir a positividade ou o pensamento positivo como fórmula para o sucesso ou para a realização de sonhos. E em pouco mais de duas horas Haneke atropela toda essa crendice intangível ao destacar, sem papas na língua, que a morte vem a todos e raramente chega silenciosa. Confesso que nunca perdi um ente querido realmente próximo a mim, mas o impacto causado ao conferir este filme me tragou de forma tão forte que me vi incorporar a personagem de Trintignant, sentindo não apenas como seria acompanhar o definhar de minha companheira, como também de qualquer ente querido próximo, seja este filho, pai, mãe, irmão...

Apesar de simples, o roteiro concebido por Michael Haneke é incômodo, pois trata de certezas e estas nem sempre são boas. Aliado ao bom texto, estão dois estupendos atores, representantes da nata da Nouvelle Vague francesa, insertos em papeis ao mesmo tempo simplórios (afinal de contas representam um "simples" casal francês de classe média), complexos (a mudança de sentido na vida de ambos trata de incendiar novos paradigmas) e, sem sombra de dúvida, humanos. As composições de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva são simplesmente magnéticas, transparecendo amor e comprometimento mútuo da mesma forma que afastamento, repúdio e derrota, do olhar ao gestual, do tom de voz a movimentação. É certo que, por se tratar de um filme focado quase que totalmente apenas nestas duas personagens e tendo como cenário principal um apartamento, a abordagem cinematográfica e o ritmo da obra não poderia ser menos do que lenta, contemplativa. E até assim Haneke brilha, pois transforma cenas aparentemente simplórias em resultados tensos. Nunca uma conversa banal e previsível durante um café-da-manhã foi apresentada de forma tão angustiante quanto a apresentada em Amor. Sendo assim, juntando um roteiro composto por momentos de brilhantismo, uma dupla central de atores afinados e apresentando um desempenho irretocável e um diretor talentoso, porém absurdamente discreto e contemplativo na forma de filmar (pelo menos neste filme) não poderíamos ter menos do que uma grande obra, que certamente continuará a ser lembrada, discutida, vista e apreciado por muitos anos em diante. 

Mais que um estudo de personagens, Amor é um alerta à imprevisibilidade da vida e, principalmente, a perecibilidade da mesma. Filme contundente, que expõe suas personagens a constatações que qualquer um de nós conhecem, mas que mesmo assim insistimos em ignorar, a negatividade de Amor nunca ressoa gratuita ou desprestigia o poder deste sentimento, que por sinal é importantíssimo durante a jornada passada pelo casal e ainda mais durante seu desfecho, até por que este sentimento nunca encontrou definição própria, muito menos foi formalizado (ou formatado), sendo assim sentido e abstraído por cada um de nós de maneira ao mesmo tempo similar e distinta. Sabemos o que amamos e o que não amamos, mas nunca como amamos e por que não mais amamos. Muitos comentam que o verbo amar requer ação, não palavras. Caso estes estejam corretos, possivelmente encontrarão ecos deste achismo nesta obra triste, porém verdadeira e crível, do austríaco Michael Haneke.

AVALIAÇÃO
 
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