24 março, 2013

Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, EUA, 2012).


Um dos filmes indicados ao Oscar de melhor filme em 2012, Indomável Sonhadora é uma obra bastante peculiar, dona de uma narrativa própria, criatividade e charme. Agarrada na performance arrebatadora da garotinha Quvenzháne Wallis e na mistura de fábula e choque social de sua trama, tenho pra mim que, apesar de bem realizado e bonito de se ver, a obra não desperta tanto furor ou possui a ambição de um Oscar, tendo um hype maior do que sua força natural. De maneira alguma classifico o filme como ruim, pois mesmo possuindo alguns problemas de montagem e uma fotografia no mínimo questionável - particularmente não gostei do excesso de tomadas em handycam adotadas por Ben Richardson -, é óbvio que este é bem amarrado e muito bem finalizado, ainda mais tomando em conta o fato do mesmo ser uma produção de baixíssimo orçamento, realizado de forma independente e sem nenhum grande astro na frente ou por trás das câmeras.

É óbvio que parte da inspiração do diretor Benh Zeitlin na construção da fábula Indomável Sonhadora partiu de um olhar acerca das comunidades periféricas do sul dos Estados Unidos, especialmente das regiões cortadas por lagos e mares, que em sua maioria vivem à margem das políticas públicas e sociais do governo e que mais sofrem com a falta de infra-estrutura, falta desenvolvimento e acesso à educação, além das catástrofes naturais (a "tormenta" tem papel de destaque no filme, o que parece ser referência direta a tragédia ocorrida no estado de Nova Orleans há alguns anos), mas retratada através de um filtro, que expõe as situações calamitosas do povo de "Bathtub" (Banheira) de forma estilizada e um tanto fantasiosa, justamente por sua narrativa ser conduzida através dos olhos da pequena Hushpuppy (Wallis). Maior trunfo e ao mesmo tempo sua fragilidade, o excesso de estilização quanto ao modo da garota enxergar sua realidade pode acabar gerando alguns ruídos na absorção das informações emitidas pelo filme, especialmente quando entram em cena seres como os auroques (espécie de bovino, que no filme é transmutado com um porco gigante, possuidor de imensos chifres), certamente uma alusão à imaginação fértil de Hushpuppy, mas o seu mérito narrativo pode ser caracterizado como duvidoso, justamente por ter o potencial de causar mais confusão do que esclarecimento.

O fato do filme ser quase que totalmente captado com câmera de mão e apostar muito no treme-treme da imagem, ao meu ver, tira um pouco do brilho estético tão promissor do mesmo, acabando por cansar um pouco o espectador, mesmo que a obra tenha uma metragem relativamente curta e uma montagem bastante dinâmica. Certamente esta opção de filmagem não diminui a obra como um todo, mas acaba destacando mais se lado "amador", em detrimento de sua aura profissional. Indomável Sonhadora, apesar de bem resolvido e das ótimas inferências metafóricas - bastante perspicazes, por sinal, ainda mais se levarmos em conta que tal obra foi construída por um cineasta ainda em formação, que apresenta aqui seu primeiro longa-metragem -, acaba gerando certa confusão desnecessária, muito devido ao possível excesso de informações contidas no filme, mesmo que em sua maioria sejam de caráter subjetivo.

Um ótimo estudo estético acerca de um grupo de pessoas marginalizadas, captado sob o ponto de vista da pequena Hushpuppy, Indomável Sonhadora serve como prova de que sempre existem possibilidades de inovar dentro da ciência cinematográfica, seja através da forma ou da abordagem, desde que haja criatividade e coerência nestas. Sinceramente, não destacaria este filme como um dos melhores de 2012, muito menos o indicaria ao Oscar (talvez apenas na categoria concernente a roteiro) - a interpretação de Wallis foi bastante celebrada, tanto que a garota acabou abocanhando uma indicação ao prêmio de melhor atriz, mas apesar de reconhecer o ótimo trabalho de composição da pequena, acredito que houveram interpretações ainda melhores -, mas nem por isso o grande vencedor do prêmio do Juri no Festival de Cinema de Sundance e da Câmera de Ouro em Cannes deixa de ser um bom filme, pois sagra-se tocante, agradável de se ver e bastante conscientizador, mesmo que seu perfeito entendimento possa soar nebuloso àqueles mais afeitos ao desbunde visual e desatentos as questões críticas elencadas pelo filme.

AVALIAÇÃO
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