24 maio, 2013

A Morte do Demônio (The Evil Dead, EUA, 1981).

"O filme de horror mais 'ferozmente' original do ano..." (Stephen King, autor de Carrie e O Iluminado).
Uma coisa é certa: A Morte do Demônio é um filme "tosco", mas distante de ruim. Obra primeira do hoje consagrado Sam Raimi (Homem Aranha, Oz: Mágico e Poderoso), o filme realizado com parcos recursos, mas dono de uma inventividade absurda por parte de Raimi e de sua equipe de técnicos, desperta atenção do começo ao fim, mesmo tendo uma estrutura narrativa bastante similar a outras obras consideradas basilares à época, como o também clássico O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper. Por sinal, é mais do que notório que Raimi, ao lado de caras como John Carpenter (À Beira da Loucura), Wes Craven (A Hora do Pesadelo) e do próprio Hooper, seja considerado um dos pais do trash e do gore "mainstream", devido ao grande alcance de suas obras e o respaldo das mesmas perante a comunidade cinéfila, especialmente esta A Morte do Demônio

É certo que até para a época os efeitos especiais e de maquiagem do filme não apresentam grande qualidade, mas tais imperfeições são compensadas pelo ótimo clima empregado pelo diretor, que não utiliza apenas o artifício dos sustos inesperados, mas também a escatologia e, principalmente, a ambientação, que proporciona um maior envolvimento do espectador para com as personagens apresentadas. Infelizmente, o elenco do filme é muito fraco (inclusive o amuleto do diretor, Bruce Campbell), o que prejudica bastante a verosimilhança para com o "mundo real" (leia-se: catarse). Por outro lado, essa "falha" acaba por ajudar em outra proposta do filme: o humor negro. Construído como um meio termo entre horror sanguinolento e humor físico e negro, A Morte do Demônio pode não sagrar-se perfeito em cada uma destas abordagens, mas a mescla de ambas tornam o filme um exemplar único, ainda mais se consideramos à época em que o mesmo foi lançado.

Talvez o maior destaque de A Morte do Demônio resida na técnica de filmagem/composição aplicada por Saim Raimi, que aproveita como poucos o fato de não possuir um grande orçamento ou recursos técnicos de ponta para conduzir a narrativa do filme de modo a priorizar o clima de tensão e suspense, utilizando com bastante propriedade a câmera subjetiva e os enquadramentos (em especial, o close), além de saber quando "pirar" de vez com a exploração mais do que clara de sangue e vísceras. Há problemas na estrutura narrativa do filme, em especial no âmbito de roteiro - uma das perguntas que ecoa é o por que da não "demonização" do personagem Ash, já que todos os outros são "possuídos" pela entidade (ou entidades) demoníacas - , que possui seus furos. Contudo, apesar das falhas, a condução de Raimi é tão bacana que as falhas estéticas e estilísticas acabam em segundo plano, até por que a finalidade maior do filme é cumprida com sobras: conquistar a atenção do espectador, seja através do humor "involuntário" ou do horror que as situações apresentadas despertam.

Transpirando criatividade por trás das óbvias limitações técnicas, Sam Raimi constrói com A Morte do Demônio uma obra referencial do gênero horror, que viria a inspirar diversos cineastas e roteiristas por anos a fio - uma prova recente é o filme O Segredo da Cabana, escrito por Joss Whedon (Os Vingadores) e dirigido por Drew Goddard (Cloverfield) -, marcando uma abordagem peculiar do gênero, abrindo as portas tanto para a "popularização" do horror "sanguinolento" (Jogos Mortais e O Albergue que o diga) quanto para a ironia e o sarcasmo dentro do próprio gênero (que seria revisitado por Raimi em 2007, com o também ótimo Arraste-me Para o Inferno). A Morte do Demônio não é um filme redondo, pois possui alguns sérios problemas de roteiro e de "lógica" cinematográfica - não me refiro a realismo -, mas suas qualidades superam qualquer vacilo por parte da produção, ainda mais se levarmos em conta a precariedade e amadorismo - à época - da equipe responsável pelo filme. O filme pode não ser perfeito, mas é um clássico do gênero.

AVALIAÇÃO
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