13 maio, 2013

O Júri (Runaway Jury, EUA, 2003).


"Julgamentos são muito importantes para ser decididos por júris" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Apesar de bastante fantasioso, O Júri, de Gary Fleder (Beijos Que Matam) é um filme muito divertido, em grande parte devido ao esmero de seu elenco, especialmente da vitalidade de Gene Hackman (Operação França) e Dustin Hoffman (Todos os Homens do Presidente). Adaptação de uma obra de John Grisham, o filme trata do embate entre um civil contra uma poderosa indústria de armas de fogo e das manobras por trás da formação de um júri. É inegável que existem "esquemas" para favorecer A ou B em tudo que é instituição, mas as frentes lideradas pelos personagens de John Cusack (1408) e Rachel Weisz (O Legado Bourne) e, em contraposição a estes, a do personagem de Hackman, são tão milimetricamente planejadas e com rompantes de autossustentabilidade (leia-se: segurança absoluta) que não convencem como fato real, palatável, crível. Com isso, não digo que tal característica do roteiro não faz o filme funcionar, pois seria uma baita de uma mentira, mas isso não quer dizer que tal elemento não transfira o caráter "realista" do filme para a assertiva "só em filme isso é possível".

Deixando o binômio "crível / não crível" um pouco de lado, é preciso destacar a competência da produção em conduzir este thriller eficiente, que divide com sucesso o tempo dedicado as deliberações no Tribunal e as incursões mirabolantes fora do mesmo. Gary Fleder comanda com pulso a produção e não se esquiva de dar o máximo de destaque ao quarteto principal (Hackman, Hoffman, Cusack e Weisz), mesmo que acabe pendendo mais para os dois primeiros - ou a aura de ambos é tão grande que, independentemente de "favorecimento" ou não, estes sempre se destacam? -, até por que reconhece a qualidade do mesmo e que a plateia depende da empatia com estes para comprar uma trama que, como dito acima, vez ou outra acaba beirando ao absurdo.

No entanto, apesar de não comprometer o longa em momento algum, a impressão que se dá é que, caso o filme fosse comandado por um diretor com mais bagagem, o filme poderia ser ainda melhor, já que Fleder, competência à parte, não possui uma marca autoral ou um estilo particular de dirigir, inclusive construindo o filme de forma um tanto quanto genérica, sem diferenciá-lo de produções outras do gênero. O Júri acabou sendo aclamado por muitos como o melhor filme baseado em uma obra de Grisham desde A Firma, de Sidney Pollack (Entre Dois Amores) - estrelado por Tom Cruise -, mas creio que esta afirmação é um tanto quanto exagerada, pois no final das contas, apesar de O Júri ser um filme eficiente e divertido, não se difere em abordagem, estilo e execução de tantas obras do gênero. Particularmente, ainda fico com Tempo de Matar (Joel Schumacher) e o próprio A Firma como os mais interessantes filmes-adaptações de obras de John Grisham.

Tecnicamente o filme é bem acabado, pois é dono de um ritmo interessante - bom trabalho do montador William Steinkamp (Tootsie) - e uma trilha sonora discreta, mas que pontua com precisão os momentos de maior impacto dramático - responsabilidade de Christopher Young (A Entidade). A fotografia ficou a cargo do oscarizado Robert Elswit (Sangue Negro), que aposta em um visual sóbrio, porém levemente intimidador, na abordagem visual do filme. Outro destaque se encontra nas figuras de Deborah Aquila (Sete Dias com Marilyn) e Tricia Wood (Os Mercenários), ambas responsáveis pela escalação do elenco, que é, sem sombra de dúvidas, o maior atrativo do filme.

Prestes a completar dez anos, O Júri continua sendo uma obra cinematográfica envolvente e interessante, mesmo que sofra um pouco devido aos excessos de seu roteiro - que, por sinal, passou por quatro pessoas: Brian Koppelman (Treze Homens e um Novo Segredo), David Levien (Cartas na Mesa), Rick Cleveland (série À Sete Palmos) e Matthew Chapman (A Tentação), o que quase nunca é uma boa notícia - e que não desenvolve tanto a crítica contra a indústria armamentista. O enredo, apesar de surreal, é desenvolvido a contento e tem tudo para entreter o telespectador, mas o grande barato é esperar o diálogo climático entre os personagens de Hoffman e Hackman, que assim como Al Pacino e Robert De Niro em Fogo Contra Fogo, possuem apenas uma cena juntos, mas esta acaba fazendo as duas horas de filme valerem ainda mais a pena.

AVALIAÇÃO
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