20 maio, 2013

Mama (ESP/CAN, 2013).


O diretor, roteirista e produtor mexicano Guillermo Del Toro (Hellboy) sempre teve um bom faro para encontrar boas histórias e, desde que conquistou espaço garantido na sempre complicada indústria de cinema norte-americana, vem ajudando novos cineastas a realizarem seus projetos, quase todos no âmbito do suspense/horror. Certamente, alguns desses apadrinhados de Del Toro, apesar do esforço, não atingiram  um patamar de qualidade que se aproximasse da do mexicano e, infelizmente, o cineasta argentino Andy Muschietti e sua obra Mama encontram-se no grupo das promessas não cumpridas, pois o bom argumento de seu filme acabou sendo mal aproveitado nas cerca de uma hora e quarenta minutos de projeção.

Na verdade extensão de um curta produzido anteriormente por Muschietti, Mama é um filme de horror dono de um visual bacana - uma espécie de casamento entre a estética de Tim Burton, Sam Raimi e do próprio Del Toro -, muito bem fotografado por Antonio Riestra e, como já adiantado, de premissa interessante, que envolve a presença de um "fantasma" preso a nossa realidade devido a um "assunto mal resolvido" em vida - dito assim parece qualquer coisa, mas o argumento gera algumas boas e criativas sacadas - que acaba por "adotar" duas garotinhas, transformando-as drasticamente. O filme também nos apresenta aos personagens de Nikolaj Coster-Waldau (o Jaime Lannister da série Game of Thrones) e Jessica Chastain (A Hora Mais Escura), que assumem a responsabilidade da guarda das crianças (o personagem de Waldau é irmão gêmeo do falecido pai das meninas) e com isso os problemas advindos pela presença de Mama, como é denominada a entidade do além.

O grande problema do filme surge exatamente dos enxertos à trama adicionados pelos roteiristas Neil Cross (série Luther), Bárbara Muschietti e pelo diretor Andy Muschietti. Diversos elementos dispostos à trama não casam bem, alguns destes inclusive dificultam o pleno entendimento do mesmo. O prólogo do filme, apesar de contar com um clima de urgência interessante e ter o potencial de chocar o público, pouco ou nada acrescenta ao desenvolvimento da trama. A motivação de alguns personagens - a exemplo da falta de direcionamento lógico do estudo do psiquiatra interpretado por Daniel Kash, que culmina em uma visita sua a uma casa abandonada no meio da noite (tal visita poderia ser realizada a qualquer momento do dia) - também é questionável, sendo talvez a mais coerente a da personagem de Jessica Chastain, uma roqueira pouco afeta as convenções de "papai e mamãe" (não me refiro a sexo) que, numa espécie de mini jornada do herói, acaba por transcender e passa a se portar como uma verdadeira mãe. Entretanto, reputo este bom desenvolvimento mais ao desempenho da atriz (já considerada uma das mais talentosas da atual safra) do que ao cuidado do roteiro.

Há uma tentativa de inferir um caráter psicológico para preencher algumas lacunas do filme, mas este não é bem aplicado, especialmente pelo excesso de informações descartáveis aplicadas ao roteiro, que acaba por "esquecer" de apresentar as óbvias, tais quais como Mama conseguiu ficar presa ao mundo terreno e, afinal de contas, qual era seu objeto em "vida" (louca ou não, todos tem um objetivo). O sentimento despertado pelo filme é dúbio, pois indiscutivelmente há coisas boas neste primeiro longa-metragem de Andy Muschietti, mas a maioria se perde no meio do caminho e acaba sendo resolvida de maneira estranha, sem clareza ou objetividade. O clima do filme é eficiente, mas seu enredo não se sustenta de forma perene, o que acaba tirando o espectador do universo construído, aspecto este perigoso para um filme que propõe a imersão a um universo fantástico, mas crível.

Mais interessante pelo visual inspirado e pela qualidade do elenco, Mama pode até agradar aqueles que buscam um filme de atmosfera peculiar e que conduza o espectador por "descobertas" e "sustos", mas os pequenos solavancos entre uma camada e outra do filme pode provocar certo desinteresse, especialmente pela pretensão da trama, que poderia ter sido formatada de forma muito mais compacta e, por conseguinte, interessante. Mais próximo de produções assinadas por Del Toro como Não Tenha Medo do Escuro e Os Olhos de Julia, do que de O Orfanato, por exemplo, Mama não é um filme ruim ou descartável, mas fica a dever pelas inseguranças apresentadas, que o tornam menos interessante do que sua premissa adiantava.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!