24 novembro, 2013

Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (Before the Devil Knows You're Dead, EUA, 2007).

"Não era para ninguém sair ferido" (Livre tradução do texto disposto no poster do filme).
Último filme da carreira de Sidney Lumet (Um Dia de Cão, Rede de Intrigas), Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto possui pelo menos duas interpretações no que se refere ao gênero no qual se encaixa. Para o diretor a obra se trata de um melodrama, cujo cerne explora a miríade de emoções e atitudes externadas pela família Hanson a partir uma tragédia provocada por dois de seus membros. Já para um dos produtores o filme seria um thriller. Seja qual for o "verdadeiro" caminho, o importante é que esta derradeira obra assinada por Lumet é forte, envolvente, dona de excelentes atuações e cuja mensagem, recheada de pessimismo, mas aproximada da realidade (mesmo com óbvios excessos estilísticos), envolve de maneira a provocar no espectador ao mesmo reflexão e atitude, pois encaixa-se à perfeição como um espelho no qual vemos nossos próprios reflexos, mesmo que através de situações antes inimagináveis a qualquer um de nós.

Contando com alguns vencedores e/ou indicados ao Oscar, além de outros que possivelmente virão a concorrer a prestigiada estatueta dourada, o filme escrito pelo estreante Kelly Masterson (Expresso do Amanhã) é bastante fortalecido pela qualidade das atuações de gente como Philip Seymour Hoffman (Capote), Ethan Hawke (Uma Noite de Crime), Marisa Tomei (O Lutador) e Albert Finney (O Ultimato Bourne), egressos do teatro, que conseguem exprimir doses "cavalares" de sentimento através das falas criadas por Masterson. A cena de desabafo do personagem de Hoffman ao lado de Tomei - o primeiro começa a chorar enquanto dirige -, o desespero "infantil" de Hawke e as atitudes desnorteadas e descompassadas de Finney tornam-se ímpares devido ao talento e apreço dos intérpretes pelos seus personagens. Certamente o texto de Masterson encontrava-se satisfatório no papel, mas a materialzação deste por intérpretes tão talentosos elevou a qualidade da obra largamente. Completam o elenco Michael Shannon (O Abrigo), Amy Ryan (Medo da Verdade) e Rosemary Harris (Homem-Aranha), que também brilham em pequenas pontas.

A estética adotada por Sidney Lumet é bastante particular, evocando bastante do estilo clássico setentista - período no qual o cineasta atingiu seu auge de produção -, como também do cinema independente norte-americano contemporâneo, abraçando o digital (o filme não foi captado em película) enquanto utiliza enquadramentos e movimentos de câmera bem classudos, quando não inusitados. Lumet opta também pelo uso da câmara de mão, o contribui para a sensação de realidade proposta pelo filme, que encontra-se equilibrado entre o visual crível e as performances do elenco que passeiam do introspectivo ao over-acting, tudo de maneira proposital, regida pelo calejado diretor. Cabe destaque também a fotografia de Ron Fortunato (Sempre ao Seu Lado), que executa com perfeição as ideias concebidas por Lumet e a trilha sonora de Carter Burwell (Bravura Indômita), que ajuda à condução da trama quando pontua as notas certas nos momentos mais apropriados.

Nada mais justo de que esta tenha sido a última obra entregue por Lumet, tamanho seu poder de fogo tanto no sentido estético, quanto no que tange ao seu conteúdo, podendo ser metaforizado como um verdadeiro e pungente soco no estômago. Laureado de elogios à época de seu lançamento, infelizmente Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto foi preterido das principais premiações cinematográficas dos anos de 2007 e 2008 - apesar de ter galgado algumas indicações a premiações independentes, inclusive vencendo como filme do ano no AFI Award -, como o Oscar e o Globo de Ouro, o que é uma baita injustiça a um filme tão corajoso e potente como este (certamente merecia no mínimo as indicações a melhor direção, roteiro, ator (Hoffman e Hawke), atriz coadjuvante (Tomei) e ator coadjuvante (Finney), como também melhor filme). Prêmios e aplausos a parte, o certo é que esta continua sendo uma obra rica e fascinante, de contorno moral duvido, mas extremamente provocativa. No final das contas, um mais do que belo encerramento a carreira de um cineasta pouco reverenciado em vida, mas que certamente ganhará cada vez mais espaço com o passar do tempo.

AVALIAÇÃO
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