09 novembro, 2013

Em Transe (Trance, GBR, 2013).


O cineasta britânico Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?) divide opiniões. Parte do público o considera genial, especialmente devido a sua assinatura em filmes como Cova Rasa, Trainspotting e Extermínio. Outra parte o considera supervalorizado e dono de uma filmografia inconsistente, especialmente por títulos como A Praia, 127 Horas e o vencedor do Oscar Quem Quer Ser um Milionário (sim, há bastante resistência do público cinéfilo pelo filme). Particularmente, não me encontro em nenhum dos extremos, pois considero Boyle um diretor competente, eclético e de brilhantismo pontual - como é a grande massa de cineastas ao redor do globo -, possuidor de filmes bons (maioria) e ruins (minoria). Talvez dono de um estilo um tanto exibicionista - seguindo a escola de gente como Guy Ritchie, Zack Snyder, Matthew Vaughn, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino etc. -, Boyle vez ou outra acaba por exceder-se na linguagem aplicada, mas costuma entregar filmes minimamente interessantes. Eis o caso do seu mais recente trabalho, Em Transe, filme de gênero que encontra-se no limite entre o thriller básico, porém eficiente e o produto autoral, cujos desdobramentos não necessariamente respeitam a lógica convencional de uma obra de gênero.

Com um bom um ritmo, que privilegia a tensão e o mistério, Em Transe certamente conquistará aqueles espectadores afeitos a tramas mirabolantes, que vão ganhando camadas de complexidade conforme são desenvolvidas. Lidando com temas como delírios, sonhos e distúrbios psicológicos - há ecos de A Origem, de Christopher Nolan, no filme, especialmente em seu último ato -, juntamente a velha mas sempre interessante discussão acerca do que seria real e do que seria ilusão, o enredo elaborado por Joe Ahearne  e desenvolvido por este e John Hodge (Por uma Vida Menos Ordinária), parceiro habitual de Danny Boyle, é na verdade uma refilmagem de um telefilme dirigido em 2001 por Ahearne, mas que possui certa dose de novidade e desperta curiosidade, tanto por Boyle estar envolvido, quanto devido a qualidade do elenco principal.

Contando com gente do naipe do escocês James McAvoy (X-Men: Primeira Classe), do francês Vincent Cassel (Um Método Perigoso) e da norte-americana Rosario Dawson (Sin City - A Cidade do Pecado), todos muito bem integrados à premissa do filme e críveis em seus respectivos papéis (um leiloeiro, um ladrão "profissional" e uma hipnoterapeuta, respectivamente), Em Transe encontra-se no limite entre a fantasia escapista e o suspense "acreditável", muito devido a credibilidade transmitida pelo elenco (especialmente os três destacados acima), mas também devido a condução de tensão crescente abraçada por Boyle (que não deixa o espectador respirar e, consequentemente, racionalizar o filme) e ao próprio fascínio despertado pela trama mirabolante de Ahearne e Hodge. Certamente não há novidade no filme, mas a colagem de elementos já vistos anteriormente em outras obras (seja em filmes, séries, literatura, games ou histórias em quadrinhos) é acertada.

Longe de ser a obra mais interessante de Danny Boyle - certamente o diretor não pretendia que esta alcançasse tal posto  -, Em Transe é uma peça de entretenimento bem executada, recheada de pequenos toques de genialidade - como dito, a condução "enganadora" é contagiante - e muito "disse-não-disse", elementos estes que ajudam a direcionar o espectador diretamente pelos caminhos programados pelo roteiro e pelas lentes de Boyle e seu diretor de fotografia Anthony Dod Mantle (Dredd), cuja dobradinha é outro dos grandes destaques da obra. É certo que, quando analisado de forma fria, Em Transe não passa de uma obra tecnicamente bem filmada, mas cuja essência não sai do lugar comum. Porém, até mesmo um simples pão com manteiga pode saciar tanto a fome quanto o desejo de comer, o mesmo podendo ser dito do filme, que consegue agradar e cumprir seu papel de entretenimento rápido, mas consistente, caso quem o veja esteja preparado para consumi-lo sem esperar grandes digressões ou análises profundas da temática abraçada. Há sim espaço para a exploração da psiché humana pelo filme, mas o que mais parece importa r para Boyle e cia. é a construção de uma opereta divertida, empolgante e minimamente inteligente.

AVALIAÇÃO
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