19 fevereiro, 2013

Django (ITA/ESP, 1966).

Um dos maiores faroestes spaghetti de todos os tempos, Django, de Sergio Corbucci (Joe, o Pistoleiro Implacável), pode não ter a fama e o reconhecimento da crítica quanto as obras de Sergio Leone, mas é um filme tão importante quanto, especialmente por ajudar à criação da "cena" dos "westerns made in Italy". Menos poético e mais violento que a trilogia dos dólares de Leone, o filme de Corbucci transborda testosterona do início ao fim e aposta na figura ao mesmo tempo forte e sedutora de Franco Nero (Duro de Matar 2) como o personagem título a fim de convencer o espectador da quase onipotência do mesmo. Não há background de Django, nem nos é mostrado com clareza qual é a sua missão - a caçada ao Major Jackson (Eduardo Fajardo, de A Vingança de Milady) é citada, mas não parece ser a verdadeira busca da personagem -, porém, o desdobramento dos eventos é feito de forma tão dinâmica que não sobra tempo ocioso para maiores reflexões, o que acaba importando é o despertar da diversão e esta é muito bem dosada por Corbucci.

Apesar de ser uma produção dona de um orçamento relativamente baixo (talvez nos moldes de Por um Punhado de Dólares), Django explora muito bem o que pode ser explorado. A sujeira da cidade e dos trajes das personagens saltam logo aos olhos e se as locações se resumem a um campo aberto, um pequeno povoado (pequeno mesmo) e as "bases" dos exércitos mexicano e norte-americano (não me recordo bem se sulista ou nortista), mas mesmo reduzidas são bem usadas e ajudam à imersão ao filme. O roteiro escrito pelos irmãos Sergio e Bruno Corbucci é até certo ponto simples, mas carrega um sub-texto bastante profundo e de importância à narrativa, que trata de preconceito (a bem verdade a disputa entre americanos e mexicanos, aos olhos do filme, é motivada principalmente por questões étnicas). Tal abordagem não é abraçada como o cerne da obra, mas tem lugar de destaque e sem sombra de dúvidas contribui positivamente para sua construção.

Talvez o maior diferencial da direção de Sergio Corbucci seja a maior objetividade de sua narrativa - tanto é que o filme mostra-se bastante enxuto, com seus três atos bem preenchidos nos cerca de noventa minutos de metragem -, fator preponderante para que o filme se torne tão dinâmico, haja vista que quase não há momento de respiro durante o mesmo. Isso não quer dizer que o mesmo tenha ação do início ao fim, mas sim que há sempre algo em tela com potencial de despertar a atenção do espectador. Outro ponto a se destacar é a a forma com que a violência é abordada no filme, que em momento algum soa gratuita ou gráfica em demasia, todavia é bastante forte e impactante, especialmente no desfecho da obra.

Franco Nero, apesar de não ter um carisma natural a lá John Wayne ou Clint Eastwood, convence como o pistoleiro misterioso que leva um caixão a tiracolo e que se mostra exímio atirador (cuja cena final apenas do filme apenas ratifica), além de ter o porte físico ideal para o tipo de personagem. O elenco de apoio não carrega nenhum grande nome, mas a intérprete da mocinha (Loredanna Nusciak) e o ator Ángel Álvarez (que vive o proprietário do saloon/hospedaria do povoado) se destacam dentre os demais hispânicos e italianos que preenchem o casting do filme.

Um dos referenciais do subgênero faroeste spaghetti, além de inspirador maior do recente Django Livre, de Quentin Tarantino, Django é um filme divertido, corajoso e inspirado, que de certa forma encontra-se mais próximo aos títulos norte-americanos pela simplicidade do enredo e por sua construção objetiva, mas sem deixar de referenciar o estilo "italiano" de faroeste, abraçando bastante a sujeira e a podridão, tanto na caracterização das locações e das personagens, quanto na composição destas, visto que não há espaço para maniqueísmo à obra, o que toma conta são as variações de cinza. 

AVALIAÇÃO
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