A tarefa de resgatar um dos (senão o maior) ícones do rock nacional não deve ter sido fácil, mas o cineasta nordestino Walter Carvalho (Budapeste), um dos mais reverenciados diretores de fotografia do Brasil, conseguiu tal proeza neste documentário (co-dirigido por Leonardo Gudel) ao mesmo tempo informativo e reverenciador, que une com precisão a veia anárquica do eterno Raulzito com a função primordial de um filme, fazer um recorte e contar uma história. Eis que o resultado de uma extensa pesquisa e coleta de depoimentos com pessoas que conviveram com o mítico personagem da música nacional ocasionou em Raul - O Início, o Fim e o Meio, um filme em formato de documentário mas dono de uma energia e vigor tão fortes que foge ao didatismo e ao espectro do formato documentário, já que vez ou outra promove a ilusão de que estamos a acompanhar uma ficção, de tão fluido e surreal que nos são apresentados os causos e lendas no entorno do incompreensível (em sua totalidade) Raul Seixas.
Praticamente o iniciador de todas as correntes anarquistas no então (será?) quadrado Brasil, Raul Seixas não influenciou a cultura nacional apenas com sua musicalidade rock 'n' roll, mas também com seus discursos, postura e convicções ideológicas, que ainda hoje marcam o caldeirão que é o cenário cultural brasileiro. Carvalho e Gudel reúnem em mais de duas horas de projeção - que passam voando, verdade seja dita - tanto registros icônicos do ídolo nacional, quanto depoimentos reveladores que perpassam por familiares, amigos próximos, ex-esposas e ex-amantes de Raul, além de seus parceiros musicais ou de curtição, com óbvio destaque para o hoje mago Paulo Coelho e Cláudio Roberto. Personalidades e jornalistas como Nelson Motta, Pedro Bial, Cateano Veloso e Marcelo Nova, este considerado por muitos como o grande responsável pelo retorno de Seixas aos palcos, mas também por muitos como um aproveitador da situação frágil do lendário Raulzito (o documentário é feliz ao abrir espaço às duas teorias e registra um depoimento no mínimo revelador de Nova, que não se vê nem como um santo salvador, nem como um salafrário).
É praticamente impossível dissociar a imagem que o público possui de Raul Seixas do aspecto mitológico, surrealista, maluco beleza mesmo e Raul - O Início, o Fim e o Meio cataliza muito bem todas essas nuances, aproveitando ao máximo o que o próprio personagem título expressou ou deixou registrado, utilizando assim os depoimentos apenas como complemento as arestas deixadas por Raul. É certo que ainda há muito o que se discutir e conhecer acerca desse homem ímpar das artes no Brasil e urge que haja um filme em ficção do mesmo, mas o documentário de Carvalho e Gudel supre bem a carência até então largamente escancarada, visto que honra o legado do ídolo maior do rock (e da contracultura) nacional, o resgata as novas gerações, além de funcionar como um entretenimento de primeiro nível, aspecto este cada vez mais difícil devido ao didatismo da maioria dos documentários musicais disponíveis em
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