23 fevereiro, 2013

Pink Floyd - The Wall (ING, 1982).


Experiência audiovisual das mais brilhantes, Pink Floyd - The Wall não é apenas música ou apenas cinema, mas sim uma comunhão de ambas com o objetivo de ressignificar conceitos e pensamentos. Inspirado no disco homônimo da banda Pink Floyd, mas construído em forma cinematográfica pelo então líder da banda (e principal responsável pelo álbum The Wall), Roger Waters, ao lado do diretor britânico Alan Parker (Coração Satânico) e do cartunista Gerald Scarfe, ela se caracteriza como uma peça à parte do trabalho musical, primeiramente por trabalhar com uma mídia distinta aquela e, também, por ser a conjunção de três cabeças pensantes numa só obra. Tanto fascinante quanto incômodo, Pink Floyd - The Wall pode ser classificado como uma obra abstrata e dona de uma narrativa mais próxima a poesia do que ao cinema clássico, o que só contribui para o seu duplo conceito de reflexão e espetáculo.

Apesar do grande apelo visual (onde as imagens muitas vezes podem causar certa confusão no espectador "despreparado" psicologicamente), o filme assinado pelo trio Parker, Scarfe e Waters narra uma história bastante peculiar, focada no jovem Pink (o músico Bob Geldof), órfão de pai (morto como combatente na II Guerra Mundial) que passa por uma infância e adolescência psicologicamente conturbada e que na idade adulta se encontra preso numa complexa rede de ilusões e miragens projetadas por sua mente perturbada. Com pouquíssimos diálogos, a narrativa do filme é quase que totalmente concentrada em canções do Pink Floyd - propositalmente adaptadas para se adequarem ao intuito do filme - e nas sensacionais pirações visuais tanto de Gerald Scarfe, responsável pela direção das animações, quanto por Alan Parker, que canaliza muito bem as viagens apenas sugeridas pelo autor do argumento, Roger Waters.

Certamente a música é elemento importantíssimo ao filme, contudo no contexto geral não a priorizo, pois o impacto causado pela junção das "pirações" em live-action com as em animação dão origem a um caldo de expressão totalmente a parte, que somados as músicas "pari" The Wall, a obra cinematográfica. Parker é bastante feliz ao coordenar toda a aparente confusão (visual e de egos) com o intuito de formatar uma obra concisa e inteligível, mesmo que bastante abstrata e dotada de certa complexidade. Bob Geldof, o protagonista do espetáculo, apesar de não ser um ator profissional, cumpre bem seu papel, talvez pela experiência como "rock star", mas surpreende mesmo nos momentos de maior decadência de seu personagem, quando este encontra-se não apenas destruído mentalmente, mas também fisicamente, devido ao alto consumo de drogas.

É interessante notar o quão influente foi o design  desenvolvido por Gerald Scarfe neste filme, pois de sua mente criativa saíram figuras, cores e criaturas bastante próprias, dotadas de personalidade e, apesar de não serem "digeridas" facilmente pelos nossos olhos, não deixam de despertar interesse e de serem compreendidas dentro do pacote surrealista do filme. Como não vibrar com as referências aos regimes totalitaristas, a iminência de um conflito nuclear, a intolerância e pequenez do sistema aristocrático de ensino, enfim, estes e outros momentos são pincelados por Scarfe de forma sublime, inerentemente metafóricas, contudo perfeitamente reconhecíveis. Raros são os artistas que conseguem transmitir sensações mesmo quando não compreendemos o por que de estarmo-nas sentindo e Scarfe pode ser considerado como um desses.

Certamente Pink Floyd - The Wall não seria uma obra audiovisual tão interessante, intrigante, complexa, madura, reflexiva e distinta caso não tivesse sido construída pelos três indivíduos já bastante citados. Mesmo que o conceito geral tenha saído da mente de Roger Waters, é impossível não reconhecer as contribuições de Alan Parker e de Gerald Scarfe (somados a todos os demais membros da equipe técnica, passando pela pré-produção, produção e pós-produção), que ressignificam o trabalho homônimo do Pink Floyd numa obra cinematográfica única, poderosa e independente, sem deixar a dever em nada ao cultuado disco. Alegoria acerca da condição humana ou simplesmente o registro dos devaneios da mente de um jovem perturbado, pouco importa. O que é digno de aplausos é a originalidade e a capacidade da obra em atribuir diversos significados a cada um daqueles que a conferem, atribuindo a todos estes importâncias inequívocas, pois acima de música ou cinema, poesia ou filosofia, Pink Floyd - The Wall é uma expressão artística completa e complexa e dessa forma deve ser internalizada.

AVALIAÇÃO
Observações:

  • Além de mim, alguém acha que Bob Geldof possuía uma fisionomia bastante parecida com o ator Guy Pearce
  • Já sei de onde veio a inspiração Ridley Scott, Damon Lindelof, Jon Spaihts e cia. na concepção das criaturas "genitais" de Prometheus: das "flores" de Gerald Scarfe.


TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!