"Você está observando atentamente?" (Livre tradução da frase do poster do filme).
Sou do time Christopher Nolan. Até hoje não assisti uma obra sequer assinada pelo cineasta inglês que não fosse minimamente interessante, provocativo ou esteticamente agradável. Fã assumido de Alfred Hitchcock e dos grandes nomes das décadas de 1970/1980 (Spielberg, Coppola, Scorsese, Kubrick etc.), Nolan adora cercar suas obras de mistério, além de buscar ultrapassar o limite do "contar uma história", brincando estética e conceitualmente na confecção de seus filmes, entregando obras que possuem uma linha narrativa bem definida (óbvia, para alguns), mas cujo conteúdo se desdobra em diversos outros temas a serem refletidos.
Com O Grande Truque, de 2006, não poderia ser diferente. Retomando a parceira com seu irmão Jonathan Nolan (ambos haviam trabalhado juntos no clássico cult Amnésia), Christopher opta por adaptar o romance de Christopher Priest como seu trabalho posterior à sua adaptação de Batman (Batman Begins), que trata de temas caros à cinematografia do cineasta, como a obsessão, a resolução de conflitos internos e a superação contínua de obstáculos. A trama do filme entrelaça a vida de dois mágicos na Inglaterra do final do século XIX, cujos desejos de se tornarem grandes confunde-se com o próprio seus próprios ideais de vida, tornando a relação entre ambos pra lá de conflituosa (o que é agravada pela possível contribuição de um deles à morte da esposa do outro). A tensão externalizada pelos intérpretes de Robert Angier e Alfred Borden, respectivamente Hugh Jackman (Wolverine: Imortal) e Christian Bale (Trapaça), é um dos grandes trunfos do filme. Tanto Jackman quanto Bale encorpam as personas de seus respectivos personagens com muita densidade e nuances, complementando com sutileza (e, vez ou outra, exasperação) o bom texto produzido pelos irmãos Nolan.
Além da dupla de protagonistas, a obra conta com ótimos nomes preenchendo os papéis de suporte. Michael Caine (Vestida para Matar), Scarlett Johansson (Capitão América 2: O Soldado Invernal), Andy Serkis (Planeta dos Macacos - A Origem), David Bowie (Labirinto), Rebecca Hall (Homem de Ferro 3) e Piper Perabo (Looper) servem muito bem como escada aos mandos e desmandos cometidos por Angier e Borden, mas, dentre estes, certamente o destaque recai para o veterano Caine (cada vez mais a vontade no papel de mentor) e para Bowie, que comprova (mais uma vez?) ser um bom ator. O enredo recheado de mistérios, magia e "ciência" certamente ganha vida através dos nomes que compõem o elenco do filme, provando que Nolan tem um bom olho para escalar os nomes certos para os personagens adequados.
Tecnicamente o filme é primoroso. O trabalho de fotografia de Wally Pfister (indicado ao Oscar pelo trabalho, mas premiado posteriormente por A Origem) salta aos olhos - tanto na questão de enquadramento quanto em iluminação e composição de cenas -, enquanto o desenho de produção (Nathan Crowley e Julie Ochipinti, de John Carter - Entre Dois Mundos), a direção de arte de Kevin Kavanaugh (Transformers) e os figurinos de Joan Bergin (Em Nome do Pai) constroem simbolicamente o universo pretendido pelo filme, fazendo com que o espectador seja transportado para um período histórico relativamente próximo, mas não necessariamente completamente "real". Há muito contraste entre verdade e mentira, afirmação e falácia, concreto e simulacro, e a equipe de arte, juntamente ao fotógrafo e ao conjunto do elenco conseguem ajudar ao roteiro e a direção de Nolan no objetivo primeiro do filme: iludir. A música concebida pelo "desconhecido" David Julyan (O Segredo da Cabana) cumpre bem o seu papel, entrelaçando temas incidentais à trilha sonora original. Nada de surpreendente, mas bem encaixado ao longa. Por fim, é válido citar o caprichado trabalho de montagem a cargo de Lee Smith (Elysium, Ender's Game - O Jogo do Exterminador), colaborador habitual de Nolan (ao lado de Pfister), que dá o tom "certo" à obra.
Engenhoso e contagiante, O Grande Truque não foi um grande estouro de bilheteria (faturou pouco mais de 109 milhões de dólares, contra um orçamento de aproximadamente 40 milhões), nem foi (ou é) abraçado como um dos melhores trabalhos de Nolan por grande parte do público, todavia, isso é uma baita de uma injustiça, pois sem sombra de dúvidas esta é uma das obras mais interessantes, bem realizadas e redondas já concebidas pelo cineasta. Da brincadeira com as etapas de um bom truque de mágica à sua conexão com o conceber da arte cinematográfica - muitos consideram este filme como um tributo de Nolan ao cinema -, O Grande Truque agrega e constrói, entretêm e faz pensar, mesmo que, no final das contas, sua conclusão não leve a lugar algum. Lições à parte, acredito que um grande filme é construído através de sua jornada, não de sua conclusão e alço este "filho bastador" de Christopher Nolan ao patamar de pequeno grande filme.
Quer saber quantas estrelas dei para o filme? Acesse minha conta no Filmow.
TRAILER
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Com O Grande Truque, de 2006, não poderia ser diferente. Retomando a parceira com seu irmão Jonathan Nolan (ambos haviam trabalhado juntos no clássico cult Amnésia), Christopher opta por adaptar o romance de Christopher Priest como seu trabalho posterior à sua adaptação de Batman (Batman Begins), que trata de temas caros à cinematografia do cineasta, como a obsessão, a resolução de conflitos internos e a superação contínua de obstáculos. A trama do filme entrelaça a vida de dois mágicos na Inglaterra do final do século XIX, cujos desejos de se tornarem grandes confunde-se com o próprio seus próprios ideais de vida, tornando a relação entre ambos pra lá de conflituosa (o que é agravada pela possível contribuição de um deles à morte da esposa do outro). A tensão externalizada pelos intérpretes de Robert Angier e Alfred Borden, respectivamente Hugh Jackman (Wolverine: Imortal) e Christian Bale (Trapaça), é um dos grandes trunfos do filme. Tanto Jackman quanto Bale encorpam as personas de seus respectivos personagens com muita densidade e nuances, complementando com sutileza (e, vez ou outra, exasperação) o bom texto produzido pelos irmãos Nolan.
Além da dupla de protagonistas, a obra conta com ótimos nomes preenchendo os papéis de suporte. Michael Caine (Vestida para Matar), Scarlett Johansson (Capitão América 2: O Soldado Invernal), Andy Serkis (Planeta dos Macacos - A Origem), David Bowie (Labirinto), Rebecca Hall (Homem de Ferro 3) e Piper Perabo (Looper) servem muito bem como escada aos mandos e desmandos cometidos por Angier e Borden, mas, dentre estes, certamente o destaque recai para o veterano Caine (cada vez mais a vontade no papel de mentor) e para Bowie, que comprova (mais uma vez?) ser um bom ator. O enredo recheado de mistérios, magia e "ciência" certamente ganha vida através dos nomes que compõem o elenco do filme, provando que Nolan tem um bom olho para escalar os nomes certos para os personagens adequados.
Tecnicamente o filme é primoroso. O trabalho de fotografia de Wally Pfister (indicado ao Oscar pelo trabalho, mas premiado posteriormente por A Origem) salta aos olhos - tanto na questão de enquadramento quanto em iluminação e composição de cenas -, enquanto o desenho de produção (Nathan Crowley e Julie Ochipinti, de John Carter - Entre Dois Mundos), a direção de arte de Kevin Kavanaugh (Transformers) e os figurinos de Joan Bergin (Em Nome do Pai) constroem simbolicamente o universo pretendido pelo filme, fazendo com que o espectador seja transportado para um período histórico relativamente próximo, mas não necessariamente completamente "real". Há muito contraste entre verdade e mentira, afirmação e falácia, concreto e simulacro, e a equipe de arte, juntamente ao fotógrafo e ao conjunto do elenco conseguem ajudar ao roteiro e a direção de Nolan no objetivo primeiro do filme: iludir. A música concebida pelo "desconhecido" David Julyan (O Segredo da Cabana) cumpre bem o seu papel, entrelaçando temas incidentais à trilha sonora original. Nada de surpreendente, mas bem encaixado ao longa. Por fim, é válido citar o caprichado trabalho de montagem a cargo de Lee Smith (Elysium, Ender's Game - O Jogo do Exterminador), colaborador habitual de Nolan (ao lado de Pfister), que dá o tom "certo" à obra.
Engenhoso e contagiante, O Grande Truque não foi um grande estouro de bilheteria (faturou pouco mais de 109 milhões de dólares, contra um orçamento de aproximadamente 40 milhões), nem foi (ou é) abraçado como um dos melhores trabalhos de Nolan por grande parte do público, todavia, isso é uma baita de uma injustiça, pois sem sombra de dúvidas esta é uma das obras mais interessantes, bem realizadas e redondas já concebidas pelo cineasta. Da brincadeira com as etapas de um bom truque de mágica à sua conexão com o conceber da arte cinematográfica - muitos consideram este filme como um tributo de Nolan ao cinema -, O Grande Truque agrega e constrói, entretêm e faz pensar, mesmo que, no final das contas, sua conclusão não leve a lugar algum. Lições à parte, acredito que um grande filme é construído através de sua jornada, não de sua conclusão e alço este "filho bastador" de Christopher Nolan ao patamar de pequeno grande filme.
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