26 fevereiro, 2014

Nebraska (EUA, 2013).


Um dos indicados a melhor filme do Oscar 2014, Nebraska, de Alexander Payne (Os Descendentes) não é um filme fantástico, imperdível ou irretocável, mas sua sensibilidade e calmaria, aliado a uma direção de atores inspirada faz deste um filme gostoso de se assistir, apesar de sua verve indie possivelmente tornar o filme um tantinho repetitivo em alguns momentos. O início do filme pode causar certo estranhamento naqueles espectadores não acostumados a filmes de cunho mais "contemplativo", mas a química existente entre os atores Bruce Dern (Django Livre) e Will Forte (Corram Que o Agente Voltou), o carisma, energia e poder de fogo de June Squibb (Encontro Marcado), a fotografia em branco e preto de Phedon Papamichael (Sideways - Entre Umas e Outras) e a direção discreta de Payne acabam por superar a trama "simples" proposta por Bob Nelson e o desfecho óbvio, mas tocante.

O texto de Nelson trata de muitos assuntos, mas o cerne deste encontra-se no relacionamento inter-familiar, especialmente entre pai (Dern) e filho (Forte), que acabam por se descobrir (ou pelo menos descobrir o quanto há para ser descoberto entre ambos) através de uma viagem de Montana ao Nebraska, com a finalidade do primeiro resgatar um falso prêmio de um milhão de dólares. A composição desleixada e beirando a demência de Bruce Dern (indicado ao Oscar pela atuação) soa ao mesmo tempo cômica e comovente, fazendo com que o espectador manifeste reações parecidas com as de Will Forte ao se deparar com as situações sofridas e provocadas por seu pai. Outra indicada ao Oscar por sua composição de personagem, June Squibb chama a atenção especialmente por interpretar uma personagem quase que oposta ao de Dern, já que, apesar da idade avançada, surge energética, faladora e sem papas na língua. Os diálogos trocados entre este trio encontra-se entre as melhores coisas do filme e Alexander Payne, sabendo muito bem disso, acaba explorando bastante.

Tanto Papamicheal (diretor de fotografia) quanto Nelson (roteirista) acabaram indicados ao Oscar de fotografia e roteiro original, respectivamente, e, apesar de não achá-los favoritos aos prêmios, é notório o mérito da dupla, especialmente do primeiro, que compõe imagens belíssimas, seja das paisagens que decoram a viagem realidade pela dupla Dern/Forte, ou até mesmo da composição dos atores que desfilam em tela, que acabam ganhando mais dramaticidade através da paleta de cores em branco e preto. Não enxergo nada de "embasbacador" no trabalho fotográfico do filme, mas é inegável que sua estética é muito bonita.

Exercício imagético interessante e narrativamente atraente, Nebraska pode ser visto como um roadie-movie ao mesmo tempo requintado e comum, dirigido com segurança pelo competente Alexander Payne e dono de algumas ótimas performances. O filme pode demorar um pouco para engrenar, mas a força de seu elenco, aliado a estética não usual abraçada por Payne e Papamichael e as metáforas sobre autoconhecimento, dentre outras de cunho familiar, fazem com que ele desperte a simpatia do espectador, que passa a comprar melhor a premissa "absurda" e a compreender, de certa forma, as particularidades dos tipos curiosos que desfilam pelo filme durante a jornada dos personagens de Dern e Forte rumo ao milhão de dólares do primeiro. Não acho que Nebraska sairá de cerimônia do Oscar com alguma estatueta, mas as indicações já serviram para confirmar seu valor como cinema-arte.

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TRAILER

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