"Um argentino e um chinês unidos por uma vaca que caiu do céu" (Livre tradução da frase disposta no cartaz promocional do filme).
Peça de humor com contornos dramáticos, Um Conto Chinês, produção argentina dirigida por Sebastián Borensztein (La Suerte Está Echada) e estrelada por Ricardo Darín (Teses Sobre um Homicídio), abraça uma premissa para lá de absurda - apesar de baseada em eventos reais - para construir uma trama bastante humana, que fala não apenas sobre amizade, mas principalmente sobre comportamento humano e a intersecção desde com os hábitos mundanos, com as características interpessoais de cada um e como eventos aleatórios podem interferir não apenas não forma como alguém pode enxergar o mundo, como também a si mesmo. Há toda uma carga filosófica arraigada ao filme de Borensztein, mas este equilibra bem estes momentos de cunho reflexivo (que não são poucos, apesar de surgirem diluídos à trama) a narrativa principal do filme, cujo objetivo primeiro de entreter.
Darín continua um monstro, entregando aqui mais um personagem distinto, único e complexo, um tipo rabugento e de poucas palavras, mas cujo coração não parece se encaixar a esta casca carrancuda. Mais conhecido por seus papéis dramáticos, o ator argentino consegue encaixar um personagem mais "sério" em um filme com contornos bem definidos de humor, fazendo com que, mesmo quando o personagem não possua a intenção de mostrar-se engraçado, a situação na qual o mesmo se encontra acaba arrancando sorrisos. Um Conto Chinês não é uma comédia rasgada, daquelas que procuram cansar o espectador com piadas soltas e situações inacreditáveis, pois, apesar da premissa inicial do filme aparentar ser improvável (apesar do destaque dado a este ser baseada em fatos reais), a coerência narrativa, os diálogos bem postos e o bom elenco acabam por contagiar o espectador de imediato, ficando este preso ao porvir da inusitada história que une um solitário argentino e um jovem e desesperado chinês, incomunicáveis quanto a língua, mas cujos dramas pessoas parecem mais próximos um do outro do que os mesmos podem conceber.
Basicamente apoiado nas atuações de Darín, Ignacio Huang (o chinês) e Muriel Santa Ana (bastante carismática) e escrito e dirigido com propriedade por Sebastián Borensztein - o diretor argentino é bastante feliz em sua composição visual, mostrando-se bastante criativo, como pode ser percebido logo no início do filme, quando estabelece a transição entre China e Argentina através do giro da câmera em 180 graus -, Um Conto Chinês, seja uma comédia com contornos dramáticos ou um drama entrecortado por momentos de humor, é um filme interessante tanto como peça cinematográfica de entretenimento como obra que busca propor um tema a ser refletido. É certo que o cinema argentino, ao contrário da política local, vem evoluindo muitíssimo bem, especialmente no quesito cinema de gênero e este Um Conto Chinês só vem a somar a esta frequente e excelentíssima safra contemporânea das películas realizados por nossos hermanos.
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