12 fevereiro, 2013

A Dama na Água (Lady in the Water, EUA, 2006).


Sou um em um milhão quando o papo em questão é a respeito de A Dama na Água, de M. Night Shyamalan (A Vila), pois vou contra a opinião pública e a grande corrente de críticos que consideram a obra um horror ou um vexame cinematográfico, já que vejo pontos mais do que positivos na mesma, que pode cometer certos pecados ou vícios em sua abordagem, devido a suposta arrogância de seu diretor, mas há de ser separado o joio do trigo e quando este recorte é feito um bom filme pode ser descoberto, mesmo que longe de poder ser tido como perfeito.

A Dama na Água não é um suspense fantasmagórico ou um thriller psicológico, mas sim um conto de fadas moderno, cujo subtexto trata tanto da redescoberta dos mitos e lendas como artefato de ressignificação    para a humanidade, quanto da arte de se conduzir uma estória, apresentando a formatação de suas personagens e como cada uma destas possuem funções narrativas importantes a consecução do começo, do meio e do fim da mesma. Existe um recorte óbvio acerca da figura do crítico (não necessariamente apenas o de cinema), que aqui é tratado de forma tão banal e enviesada que acaba surtindo o efeito posto pretendido por M. Night Shyamalan. De ódio pelo arquétipo apresentado, o espectador acaba sentindo graça e pena. O que poderia ser - para muitos críticos o é - o câncer do filme, para mim tornou-se apenas uma metáfora inexpressiva, que tira um pouco do brilho geral da obra, mas não desvirtua o seu caminho. Tanto é que a personagem do crítico - composta de forma blasé por Bob Balaban (Moonrise Kingdom) - mal aparece e, tirando seu monólogo dispensável em sua cena final, acrescenta razoavelmente bem ao esquema  de mistério (como não?) proposto pelo diretor.

Trabalhando mais uma vez com Bryce Dallas Howard (50%) como protagonista, Shyamalan soma forças aqui com o sempre competente Paul Giamatti (Rock of Ages) e constrói um conto de fadas com toques de horror bastante eficiente, tanto em estabelecer uma "mitologia própria" - onde existem os seres vindo do mundo das águas - quanto em criar tipos que despertem interesse. É claro que, se formos analisar friamente, é no mínimo duvidosa a forma com que a miríade de personagens do condomínio residencial apresentado no filme se convence quanto à realidade da criatura mítica que Dallas Howard interpreta, a tal dama da água. Contudo, como se trata de uma história que pede um afastamento de realidade ainda maior que os filmes anteriores de Shyamalan, essa forçação de barra não gera um grande incômodo e, há de se dar o braço a torcer, boas ou ruins, o cineasta sabe como lidar com os níveis de expectativa e curiosidade do espectador, que mesmo não apreciando a resolução de suas obras - esta inclusa -, acaba passando por bons momentos durante o seu desenvolvimento.

Lançado em 2006, mesmo ano em que saiu o bem mais aceito (e realmente superior) O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro, encontro algumas similitudes entre esta obra e a de Shyamalan, tanto por utilizar o tom de fábula para construir significados mais profundos, quanto por ter o olhar da criança como testemunho (no caso deste filme interpreto a inocência e o compromisso do personagem de Paul Giamatti idênticos aos de uma criança ao descobrir todo um novo universo de conhecimentos). Obviamente a abordagem e a intenção dos filmes são distintas, além da sensibilidade de seus respectivos cineastas, mas acredito que a comparação é válida, em sentido de observação, nunca de embate quanto a elevar ou depreciar um ou outro.

Apesar de ser um filme composto por bons momentos, é inegável que a partir deste trabalho Shyamalan começou a apresentar certo cansaço criativo como cineasta, culminando até mesmo com sua maior participação como ator em um filme dirigido pelo próprio, papel este que contribuiu bastante para o enfraquecimento do filme (a síndrome hitchcockiana de Shyamalan beirou a senilidade com esta decisão). Soma-se o fato da presença em tempo integral do Shyamalan ator a alguns pequenos tropeços de pretensão em seu roteiro com algumas opções estéticas de enquadramento que não parecem tão eficazes e o que poderia ser mais uma grande obra assinada pelo então tido como fenomenal cineasta sagra-se apenas como interessante ou dona de um grande potencial, mas que não chegou lá. Os efeitos visuais do filme também soam um tanto esquisitos e a música assinada pelo colaborador atual do cineasta, James Newton Howard (Batman Begins), apresenta aqui talvez os temas menos inspirados de todos os filmes feitos para filmes de Shyamalan.

Alçado a condição de grande nome após o sucesso do longa O Sexto-Sentido, M. Night Shyamalan dividiu opiniões em seus longas posteriores até o corte estabelecido neste A Dama na Água, considerado por muitos o marco inicial da conscientização do cineasta como um engodo na indústria. Não partilho desta opinião, pois mesmo não o tendo como meu realizador favorito, nem o considerando genial, aprecio bastante a maior parte de sua filmografia, tanto pelo fato deste comumente buscar não se repetir - mesmo que na maioria das vezes acabe apelando para o artifício do desfecho "revelador" -, quanto pela criatividade do mesmo, que acredito eu é inegável. A Dama na Água pode não ser interessante quanto A Vila, criativo quanto Corpo Fechado, assustador quanto Sinais ou impactante quanto O Sexto Sentido, contudo não é descuidado e desalmado quanto os títulos que viriam a seguir, Fim dos Tempos e O Último Mestre do Ar, que para mim são as verdadeiras falhas de Shyamalan e que poderiam despertar o pensamento de fraude tão escancarado pela crítica à época de A Dama na Água

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