05 fevereiro, 2013

Os Miseráveis (Les Misérables, ING, 2012).


"Luta. Sonho. Esperança. Amor" (Tradução do texto disposto no poster do filme).
Talvez impactante seja a palavra que melhor defina esta mais nova versão de Os Miseráveis, de Victor Hugo, para o cinema. Primeira aposta no gênero musical, o filme dirigido por Tom Hooper (vencedor do Oscar por O Discurso do Rei) é visualmente deslumbrante, com seus figurinos e recriação de época impecáveis, mas concentra sua força no comprometimento e performance de seu elenco primoroso, encabeçado pelos astros Hugh Jackman (Gigantes de Aço), Russel Crowe (Os Indomáveis) e Anne Hathaway (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge). Não que o filme atinja a perfeição esperada - uma baita de uma relativização -, porém seu poder de convencimento e equilíbrio entre tensão, ação e emoção é tão bem aplicado que por alguns instantes "esquecemos" que a obra se trata de um musical, praticamente sem falas de acompanhamento.

Um dos maiores triunfos do filme de Tom Hooper é o direcionamento quase que total as canções em sua narrativa. Poucas são as falas entoadas pelas personagens que não expressas através de música. Para mim, este foi um ganho artístico tremendo a obra, que apostou no talento (uns mais, outros menos) vocais de seu elenco e costurou a história quase que completamente apenas por canções. Contudo, apesar da opção por musicar totalmente o filme, poucas são as sequências que envolvem danças coreografadas, o que também é, ao meu ver, um grande acerto, pois as poucas apresentadas acabam por gerar certo incômodo à narrativa apresentada até então de maneira sóbria.

As personagens Jean Valjean, Javert e Fantine são muito bem compostos por Jackman, Crowe e Hathaway, respectivamente. Tanto na qualidade vocal - sinceramente não compreendi a birra a respeito do desempenho de Crowe, que realmente não possui a desenvoltura e alcance dos outros dois, mas aqui realiza um trabalho interessante, transparecendo bastante melancolia ao seu acorrentado personagem - quento na expressão os três estão de parabéns, com óbvios destaques para Jackman e Hathaway - não à toa ambos acabaram indicados a diversas premiações -, que oscilam com bastante naturalidade expressões de decadência e glória, satisfação e pequenez a seus personagens. Fisicamente Jackman encontra-se perfeito, pois de forma quase camaleônica some das diversas versões temporais de sua personagem, desmistificando por completo sua figura de galã ou do X-Men Wolverine. 

O restante do elenco também não deve nada ao trio principal, especialmente no quesito qualidade vocal. Destacaria as performances de Samantha Barks (que vem do musical no qual o filme também foi inspirado), como Éponine, Daniel Huttlestone, como o pequeno mártir Gavroche e Amanda Seyfried (O Preço do Amanhã), que surpreende como cantora, apesar de sua composição de personagem não despertar muito interesse (Isabelle Allen, intérprete de Cosette quando criança, possui mais carisma que Seyfried). Eddie Redmayne (Sete Dias com Marilyn), Helena Bonham-Carter (Sombras da Noite) e Sacha Baron Cohen (O Ditador) não possuem um grande poder vocal, mas compõem bem suas respectivas personagens (mesmo que não tenha apreciado o excesso de alívios cômicos protagonizados pelos dois últimos, como anteriormente).

Com uma nomeação ao Oscar pelo seu trabalho em O Discurso do Rei, o diretor de fotografia Danny Cohen não consegue desenvolver aqui um trabalho tão bom, especialmente por adotar uma configuração visual demasiadamente escura, que se a princípio soa interessante no sentido dramático, no todo acaba por prejudicar o entendimento de certas sequências de ação, pois dificulta a visualização da cena. A decoupagem do filme também é irregular, visto que apresenta alguns planos com angulações estranhas, que ao meu ver não possuem uma função narrativa clara. Obviamente que nenhuma dessas duas opções estéticas chega a prejudicar o entendimento da obra, mas a tornam um pouco mais difícil de ser absorvida.

Em essência um filme de atores, Os Miseráveis versão 2012 é um filme realizado com gosto e bastante encaixado com os nossos tempos, pois resgata com louvor e competência um discurso sobre liberdade, poder, sistema, opressão, dentre outros, que ainda vigem nos nossos dias. A modernidade está a toda, com sua pretensa revolução a nos deixar abismados e esperançosos, contudo muito do que foi registrado por Victor Hugo no romance original e que acabou resgatado pelo filme de Tom Hooper mantêm-se atualíssimo, sendo impossível não visualizar a miserabilidade social e, principalmente, humanista apresentada pelo filme. Uma coisa é certa, esteticamente o filme é excelente, mas conceitualmente sagra-se primoroso.

AVALIAÇÃO
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