04 fevereiro, 2013

O Homem da Máfia (Killing Them Softly, EUA, 2012).

"Na América, você está por conta própria" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Esperava bastante de O Homem da Máfia, primeiramente por ser o novo filme do diretor de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Andrew Dominik, segundamente por ser estrelado e produzido por Brad Pitt (Se7en - Os Sete Crimes Capitais), que comumente participa de projetos interessantes e por fim, pela temática em si, que traz a máfia ao século XXI. Não que com o filme visto estes elementos não tenham me agradado, pois a direção é segura, a interpretação de Pitt é convincente e a temática surpreende, especialmente ao relacionar a crise econômica de 2008 como uma personagem coadjuvante bastante presente  - muitas vezes intrusa, no bom sentido - ao enredo de violência e jogatina do filme. Podendo ser aludido como "novo" vestuário da máfia, os executivos de Wall Street surgem no filme como os possíveis manda-chuvas desse universo sujo e obsceno, o que acaba resultando numa das melhores sacadas do roteiro de Dominik, baseado no romance setentista Cogan's Trade, escrito por George V. Higgins.

O grande problema do filme, ao meu ver, encontra-se na lentidão de sua narrativa e de sua montagem. Apesar de possuir pouco mais de 90 minutos de projeção, o cansaço sentido durante sua apreciação chega a ser maior do que a do citado filme anterior de Andrew Dominik, que beirava as três horas de duração. Mesmo que o texto seja bom, as interpretações excelentes e o contexto em que a obra foi lançado urgentíssimo, o ritmo do filme acaba por sabotar a experiência, que acaba por não impactar como deveria, prejudicando o envolvimento com as personagens e até mesmo com o brilho e o impacto da trama.

Contudo, apesar da monotonia presente, é impossível não destacar o visual do filme, especialmente a fotografia de Greig Fraser (Branca de Neve e o Caçador), que acentua sombras à violência proposta pelo filme e o elenco do mesmo, especialmente Scoot McNairy (do cult Monsters) e Ben Mendelsoh (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge), que interpretam uma dupla especialmente interessante de acompanhar, além de Brad Pitt, que mesmo surgindo após mais de 1/4 de projeção, constrói aqui um personagem compenetrado e sisudo, que brilha de vez em sua última cena (não que esta seja uma performance inédita de Pitt, mas mesmo assim o mesmo a torna única). Completam o elenco principal Ray Liotta (Os Bons Companheiros), com sua canastrice bem acentuada, James Gandolfini (8 mm - Oito Milímetros), um tanto apagado e Richard Jenkins (O Segredo da Cabana), além de uma ponta de Sam Shepard (Protegendo o Inimigo).

A reflexão proposta por O Homem da Máfia é interessante - apesar de em alguns momentos as intervenções televisivas acerca do andamento da crise econômica durante o final do governo de George W. Bush e o início do auê de Barack Obama soarem repetitivas - e bem sucedida na missão de "atualizar" a essência da máfia e do crime organizado hoje. Porém, não é apenas uma boa ideia ou intenções majestosas que conduzem o bom cinema e o filme de Andrew Dominik acaba menor devido a algumas imperfeições narrativas, que dificultam não o pleno entendimento da mensagem apregoada pela obra, mas sim a experiência cinematográfica, o prazer em desmembrar os códigos jogados ao expectador, o entretenimento, a reflexão. O Homem da Máfia é sim um bom filme, mas não desperta paixão ou boa vontade do espectador durante sua exibição. Em síntese, uma faca de dois gumes, pois merece (e deve) ser visto, mas possivelmente não será uma experiência dinâmica e entretida.
AVALIAÇÃO
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