É inegável que esteticamente Tron, o Legado é quase perfeito. A concepção visual a cargo dos responsáveis pela direção de arte e pela fotografia do filme, além de parte da equipe de efeitos visuais, é primorosa, realmente dando um ar todo particular e visionário à produção. Conjuntamente ao visual, tem-se também a grudante e climática trilha sonora composta pelo duo Daft Punk, com temas recheados de sintetizadores e ruídos que guiam nossos ouvidos pelo universo informatizado e pixelado do filme. Entretanto, nem só de elogios vive o filme dirigido por Joseph Kosinski, jovem cineasta egresso da publicidade, em sua estreia como realizador. Dono de uma premissa cheia de boas intenção, mas que acaba soando simplória demais e, mesmo quando tenta demonstrar algum rompante de inovação à trama, acaba por apresentá-la de forma maçante e um tanto quanto truncada. É mais do que óbvio que um filme em que o visual domina qualquer discussão pós-sessão possui uma estrutura narrativa não apenas desinteressante, mas também que a mesma não é bem realizada.
Muito se falou da (má) atuação de Garret Hedlund (Na Estrada) como Sam Flynn, filho do protagonista da produção original lançada em 1982 - é, lá se vão 30 anos -, Kevin Flynn (mais uma vez interpretado por Jeff Bridges, de Bravura Indômita), mas o jovem ator não compromete, parece se divertir bastante com o personagem e, caso exista algo a criticar acerca do mesmo não deveria ser a qualidade de Hedlund como ator, mas sim a pouca profundidade e senso de interesse apresentado pela galeria de roteiristas do filme (Adam Horowitz, Edward Kitsis, Brian Klugman e Lee Sternthal, sendo apenas os dois últimos co-autores apenas do argumento) ao personagem. Ou seja, ao meu ver há um problema de composição da personagem, não de interpretação por parte de Hedlund. Contudo, problemas de escrita a parte, infelizmente o intérprete de Sam não consegue transcender este percalço e conceber um personagem que ganhe o espectador pelo menos pelo carisma, visto que apesar de comprar o personagem, não consegue convencer a plateia como dono da condição de herói.
Jeff Bridges, mesmo numa atuação desleixada, compõe um bom Flynn envelhecido (além de dublar sua versão mais jovem, criada digitalmente - comentarei mais a respeito) e traz a força necessária ao filme. Olivia Wilde (O Preço do Amanhã), apesar do belo visual e das boas cenas de ação, não se destaca, compondo bem o "meio de campo" do filme, mas sem nunca sair do lugar comum. Ou seja, resume-se simplesmente a ser a bela da vez. Sendo assim, o único grande destaque acaba caindo para o personagem (e interpretação) de Michael Sheen (Frost/Nixon), um enigmático programa dono de um clube noturno, que comporta-se como um híbrido do Charada, interpretado por Jim Carrey em Batman Eternamente e do Coringa de Jack Nicholson, no Batman de 1989. Enfim, não é que esta interpretação seja sensacional, mas o carisma do ator juntamente ao estilo de abordagem adotado pelo menos, somado a composição visual (à lá drag queen) acaba por tornar o personagem impecável.
Já foi dito aqui que os efeitos visuais (como a fotografia, a cargo do chileno Claudio Miranda, indicado ao Oscar por O Curioso Caso de Benjamin Button e a direção de arte, liderada por Kevin Ishioka e Mark W. Mansbridge) estão primorosos, entretanto uma ressalva deve ser feita. A concepção visual do mundo de Tron é impecável, com suas cores em tons neon e seus veículos, construções e vestuários lisos e simétricos, mas a qualidade da composição do avatar digital que interpreta Kevin Flynn/Clu (Bridges) quando jovem infelizmente não convence, em especial pela proposta "realista" do filme. Esta criação digital, mesmo com todo o avanço da tecnologia nos últimos anos, ainda não convence como uma criatura humana, visto que, a não ser em cenas escuras ou que não apresentam claramente sua silhueta, acaba sendo bastante artificial, já que parece não possuir vida nos olhos, suas expressões faciais apresentam-se confusas, além da questão da pele, nunca chegando a enganar o espectador ao sugerir que o ser digital poderia ser humano. É válido frisar que o personagem digital não é mal-feito ou "tosco", pois passa longe disso, já que o mesmo é muito bem feito, entretanto não à nível de concretizar a ilusão de que o mesmo seria humano, o que é uma pena visto que grande parte da magia de imersão do filme depende da credibilidade (neste caso, falta) que deveria ser passado por este personagem.
Enfim, devido ao seu roteiro pouco provocativo, exageradamente reducionista e a falta de personagens realmente fortes e profundos, Tron, o Legado acaba por tornar-se interessante praticamente apenas pelo lado técnico, em especial pela plasticidade e força do seu visual. Com uma ou duas boas cenas de ação e alguns tropeços de ritmo, o filme é uma aventura bacana, mas que se não fosse tão bela (audiovisualmente falando), com certeza seria esquecida rapidamente pelo espectador. Prometia muito, mas podia ser pior.
TRAILER:
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Bilheteria: Box Office Mojo
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